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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Glocalização e internet X apontam nova onda mundial
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Desenhar cenários e indicar tendências globais ficou mais difícil nas últimas semanas, predomina o pessimismo e as ferramentas habituais
da economia, da sociologia ou
da geopolítica parecem menos
convincentes. Uma alternativa é
tentar enxergar o mundo a partir das mudanças e inovações
que invadem a língua global por
excelência, o inglês.
O fato é que há palavras novas
no ar, e observá-las melhor, nos
últimos anos, poderia ter sido
útil. O fenômeno da "talebanização" já era discutido desde 1999
como a emergência de grupos
extremistas e fundamentalistas
nas sociedades islâmicas.
Foi também em 1999 que surgiu outro neologismo crucial, a
"glocalização", mistura de globalização com localismo, ou seja, a criação de produtos orientados para o mercado global,
mas adaptados para atender a
culturas locais. Os "marqueteiros" passaram a considerar a
"glocalização" uma arte, o termo foi usado num seminário sobre tendências tecnológicas e, na
semana passada, uma análise no
"Financial Times" descrevia o
desajuste europeu entre tendências continentais e âncoras locais na implementação do euro.
Bem mais recente é a identificação da "internet X", expressão
que lembra tanto a "geração X"
quanto a idéia de que a nova internet surgirá da ampla difusão
do padrão XML ("extended
markup language"), deixando
de ser algo pelo que se navega
por meio de telas para se tornar
um padrão de conexão de objetos a sistemas digitais de coleta
de informação. A internet X seria a fonte de novos trilhões em
poucos anos.
Essa visão otimista das novas
tecnologias talvez subestime o
poder das "bombas lógicas", outro neologismo para designar os
vírus programados para "detonar" em determinados prazos.
Aliás, há várias anomalias associadas a essas tecnologias que
passaram a frequentar o léxico
anglo-saxão. Após o surgimento
do "wi-fi" ("wireless frequencies", frequências em que são
transmitidas as informações
sem fio, contraponto ao "hi-fi"
dos anos 50), surgiu o "war driving" (pilotagem de guerra),
técnica para detonar computadores dirigindo numa região
com um "wireless notebook" e
mapeando casas e empresas
com pontos de redes sem fio.
Na semana passada, um dos
destaques da CNN era a reportagem sobre ciberterrorismo em
que se demonstrava aos telespectadores como é possível
"clonar" celulares e fazer o "war
driving" perto de edifícios equipados com redes sem fio. As primeiras referências a essa técnica
de invasão teriam aparecido em
artigos publicados no ano 2000.
Uma forma de evitar esses riscos e reforçar a dimensão local
da "glocalização" é apostar nas
conexões "F2F" ("face to face"),
"fleshmeet" (literalmente, encontro carnal, expressão de
1996) ou recorrer ao "facemail"
(mensagem transmitida durante uma conversação face a face).
Tais neologismos parecem indicar fragmentação, violência
digital, diluição de direitos e
perda de horizontes universais
para as práticas humanas.
Basicamente o contrário do
que parecia reservado para as
sociedades contemporâneas a
partir da revolução organizacional inspirada em tecnologias de
informação e comunicação.
O fato é que, nesse ambiente,
fazer negócios e alcançar escala
global torna-se mais difícil e custoso. Talvez seja melhor fazer
ainda algum esforço nos campos da economia e da sociologia
antes que haja essa talebanização digital. Afinal, como dizia
Lévi-Strauss, a linguagem é uma
forma da razão humana que
tem sua lógica interna, sobre a
qual o homem nada sabe.
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