|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Economistas prevêem mais calote no início de 2002
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O consumidor está mais endividado neste semestre do que há
um ano. Se pagar o que deve, não
há problema, especialmente para
quem vive da oferta de crédito. O
receio do comércio e das financeiras é a alta da inadimplência, como resultado da queda da massa
salarial e do aumento do desemprego -o que se assiste hoje.
Levantamento da Servloj, empresa que financia 150 mil clientes
por meio de 600 lojas, mostra que
o consumidor parcela hoje 85%
da sua compra. Em outubro de
2000, esse número beirava 81%. A
média histórica no Real é 70%.
Quando a participação do percentual financiado cresce, dizem
os lojistas, é sinal que o consumidor está empobrecendo.
Outro dado que preocupa comércio e financeiras: o consumidor de hoje divide o pagamento
em mais vezes. O prazo médio hoje é de 7,6 meses, informa a Servloj. Há um ano, era de 6,9 meses.
Não é que as financeiras estejam
oferecendo mais prazos. É o consumidor que precisa de mais meses para pagar o que deve -para
a prestação caber no orçamento.
"Essa situação começa a preocupar. Será que o consumidor vai
poder arcar com as dívidas de hoje no início de 2002?", diz Oswaldo de Freitas Queiroz, diretor-geral da Servloj. Por precaução, a
empresa decidiu reduzir o limite
de comprometimento da renda
mensal do cliente para liberar o
crédito, de 30% para 25%.
O pagamento do 13º salário no
final do mês pode aliviar as dívidas dos consumidores, na análise
de lojistas e economistas, mas não
por muito tempo, porque é neste
período que também faz mais dívidas -em dezembro ocorrem
35% das vendas anuais do comércio. "O brasileiro sempre precisou
de crédito para comprar. Mas,
neste ano, está mais dependente
do que em 2000", diz Valdemir
Colleone, diretor da Lojas Cem.
Na Cem, o prazo médio de financiamento escolhido pelo
cliente passou de 120 dias (em outubro de 2000) para 150 dias.
"Não é um prazo muito longo, se
comparado com o dos países desenvolvidos. Só que, no caso do
Brasil, o problema é o risco de não
receber pelo que vendemos."
O calote do consumidor começou a preocupar especialmente a
partir do mês passado. Pelo levantamento da Associação Comercial
de São Paulo (ACSP), a inadimplência bateu em 6,5%, um ponto
percentual a mais do que o registrado em outubro do ano passado
e do que o de setembro deste ano.
"Não vemos ainda o perigo de
uma nova quebradeira de lojas.
Mas o melhor é que esse percentual fique abaixo de 5%", diz Emílio Alfieri, economista da ACSP.
As empresas de cartão de crédito estão animadas com o aumento das transações, mas estão tendo de enfrentar a alta da inadimplência. "A inadimplência está
maior do que a do ano passado e,
pelo que vemos, a tendência é piorar", afirma Carla Schmitzberger,
vice-presidente da Credicard.
O rendimento real das pessoas
ocupadas no Brasil vem caindo
mês a mês desde abril, segundo o
IBGE. Em agosto, a queda foi de
2,6% sobre abril. De janeiro a
agosto, a redução foi de 2,2% em
relação a igual período de 2000.
Desde agosto, também está diminuindo o número de pessoas
ocupadas nas principais capitais
do país -queda de 0,1% sobre
igual mês de 2000. Em setembro, a
redução foi ainda maior, de 0,6%
sobre igual mês do ano passado.
"Os dois componentes da massa
salarial estão enfraquecendo. Não
há espaço para recuperação da
economia até o segundo trimestre
de 2002", diz Fábio Silveira, economista da MB Associados.
A Federação do Comércio do
Estado de São Paulo (FCESP) informa que as vendas estão em ritmo lento, apesar de os shoppings
informarem que estão faturando
mais do que no ano passado.
Desde abril, a federação paulista
vem registrando queda (sobre o
mesmo mês do ano passado) no
faturamento real das lojas. Em setembro, a redução foi de 11,8% sobre igual mês de 2000. "Será difícil
o comércio vender neste ano mais
do que no ano passado", afirma
Fábio Pina, economista da federação, que prevê queda de 5% a 7%.
Texto Anterior: Previsão: Retomada econômica será rápida, diz Bier Próximo Texto: Frases Índice
|