São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2001

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Economistas prevêem mais calote no início de 2002

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O consumidor está mais endividado neste semestre do que há um ano. Se pagar o que deve, não há problema, especialmente para quem vive da oferta de crédito. O receio do comércio e das financeiras é a alta da inadimplência, como resultado da queda da massa salarial e do aumento do desemprego -o que se assiste hoje.
Levantamento da Servloj, empresa que financia 150 mil clientes por meio de 600 lojas, mostra que o consumidor parcela hoje 85% da sua compra. Em outubro de 2000, esse número beirava 81%. A média histórica no Real é 70%.
Quando a participação do percentual financiado cresce, dizem os lojistas, é sinal que o consumidor está empobrecendo.
Outro dado que preocupa comércio e financeiras: o consumidor de hoje divide o pagamento em mais vezes. O prazo médio hoje é de 7,6 meses, informa a Servloj. Há um ano, era de 6,9 meses. Não é que as financeiras estejam oferecendo mais prazos. É o consumidor que precisa de mais meses para pagar o que deve -para a prestação caber no orçamento.
"Essa situação começa a preocupar. Será que o consumidor vai poder arcar com as dívidas de hoje no início de 2002?", diz Oswaldo de Freitas Queiroz, diretor-geral da Servloj. Por precaução, a empresa decidiu reduzir o limite de comprometimento da renda mensal do cliente para liberar o crédito, de 30% para 25%.
O pagamento do 13º salário no final do mês pode aliviar as dívidas dos consumidores, na análise de lojistas e economistas, mas não por muito tempo, porque é neste período que também faz mais dívidas -em dezembro ocorrem 35% das vendas anuais do comércio. "O brasileiro sempre precisou de crédito para comprar. Mas, neste ano, está mais dependente do que em 2000", diz Valdemir Colleone, diretor da Lojas Cem.
Na Cem, o prazo médio de financiamento escolhido pelo cliente passou de 120 dias (em outubro de 2000) para 150 dias. "Não é um prazo muito longo, se comparado com o dos países desenvolvidos. Só que, no caso do Brasil, o problema é o risco de não receber pelo que vendemos."
O calote do consumidor começou a preocupar especialmente a partir do mês passado. Pelo levantamento da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a inadimplência bateu em 6,5%, um ponto percentual a mais do que o registrado em outubro do ano passado e do que o de setembro deste ano.
"Não vemos ainda o perigo de uma nova quebradeira de lojas. Mas o melhor é que esse percentual fique abaixo de 5%", diz Emílio Alfieri, economista da ACSP.
As empresas de cartão de crédito estão animadas com o aumento das transações, mas estão tendo de enfrentar a alta da inadimplência. "A inadimplência está maior do que a do ano passado e, pelo que vemos, a tendência é piorar", afirma Carla Schmitzberger, vice-presidente da Credicard.
O rendimento real das pessoas ocupadas no Brasil vem caindo mês a mês desde abril, segundo o IBGE. Em agosto, a queda foi de 2,6% sobre abril. De janeiro a agosto, a redução foi de 2,2% em relação a igual período de 2000.
Desde agosto, também está diminuindo o número de pessoas ocupadas nas principais capitais do país -queda de 0,1% sobre igual mês de 2000. Em setembro, a redução foi ainda maior, de 0,6% sobre igual mês do ano passado. "Os dois componentes da massa salarial estão enfraquecendo. Não há espaço para recuperação da economia até o segundo trimestre de 2002", diz Fábio Silveira, economista da MB Associados.
A Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FCESP) informa que as vendas estão em ritmo lento, apesar de os shoppings informarem que estão faturando mais do que no ano passado.
Desde abril, a federação paulista vem registrando queda (sobre o mesmo mês do ano passado) no faturamento real das lojas. Em setembro, a redução foi de 11,8% sobre igual mês de 2000. "Será difícil o comércio vender neste ano mais do que no ano passado", afirma Fábio Pina, economista da federação, que prevê queda de 5% a 7%.



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