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ANO DO DRAGÃO
Onda de remarcações atinge serviços e supérfluos, como parques e futebol; cinemas e taxistas falam em reajuste
Inflação agora contamina preços do lazer
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A aceleração da inflação, antes
restrita a itens de consumo indispensável, como alimentos, começa a contaminar os preços de serviços e dos chamados supérfluos.
A pressão por aumentos, em
parte resultado do contágio do
câmbio, e a redução da demanda
em alguns segmentos, consequência da queda de renda do trabalhador (que só neste ano encolheu 4,41%, segundo o IBGE),
provocam uma gangorra: parcela
considerável dos preços sobe
mais que a inflação, enquanto outros são contidos ou recuam, por
medo da perda de mais clientes.
Serviços relacionados a recreação e cultura servem de parâmetro dessa gangorra, de acordo
com dados da Fipe (Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas). Entre novembro de 2001 e
outubro último, a inflação acumulada foi de 6,05%. Considerados apenas os dez primeiros meses de 2002, o índice é de 5,14%.
Se a decisão depender da variação de preços dos últimos 12 meses, viagens em excursões e ida a
parques de diversão estão fora da
lista de programas da família paulistana. Passagem para fora da cidade (de ônibus e avião) aumentou 11,58% no período -ou seja,
quase o dobro da inflação.
Nesse item, os maiores impactos foram nas passagens de avião,
que, em menos de um mês, sofreram dois reajustes, por conta da
alta dos combustíveis. O primeiro
(16%) no início de outubro; o último (7,5%) na semana passada.
Os ingressos para parques de diversões aumentaram 17,7%, e até
o futebol teve reajuste acima da
inflação em São Paulo -9,8%.
Assistir a uma partida das arquibancadas do Morumbi ou Pacaembu custa R$ 10 ou R$ 15, a
depender da localização. É o mesmo preço de um ano atrás. O que
pesa é que ingressos para assentos
melhores ficaram mais caros.
Na tela
Outra diversão barata, o cinema
não acompanhou a inflação: nos
últimos 12 meses, os preços subiram não mais que 2,59%. Alívio
que, porém, pode durar pouco.
""Estamos pensando em fazer aumentos nos próximos meses", diz
Valmir Fernandes, diretor do Cinemark, a maior rede de cinemas
do país, com 264 salas de exibição.
""Há custos que tiveram impacto
importante, como a energia elétrica [subiu 9,48%"."
Fernandes argumenta que o fim
do monopólio de entidades estudantis sobre a emissão de carteiras de estudantes aumentou a
parcela do público que paga
meia-entrada. ""Em São Paulo, o
ingresso pode chegar a R$ 13, mas
metade das pessoas paga meia-entrada. A arrecadação diminui;
os custos, não", diz.
Promoções das companhias e
projetos de incentivo do governo
fizeram mais que segurar os preços do teatro: na média, os ingressos ficaram 4,95% mais baratos
em um ano. Foi, ao lado de casas
de dança e das casas de boliche e
de pesque-e-pague (esses dois últimos abatidos pela perda de público depois da febre de cinco
anos atrás), o único item da lista
de divertimento em que se registrou deflação.
Comer fora
Alimentação fora de casa está
entre os itens em que os aumentos
superaram a inflação. Comer em
restaurante, em média, ficou
7,31% mais caro no período de
um ano. Recorrer a lanches pode
não ser boa escolha, ao menos para o bolso. Subiram mais, 7,71%.
Segundo a Fipe, os aumentos são
correlatos: componentes ou insumos usados na preparação de refeições aumentaram de preço.
Desde a energia ao arroz (alta de
16,24%), o feijão (14,24%) e legumes, como o tomate (23,52%), os
ovos (8,01%) e o óleo de soja
(44,03%).
A despeito de o Brasil ser o segundo maior produtor mundial
de soja, os preços internos sobem:
a soja é uma commodity com valor fixado em dólar -logo, a volatilidade da moeda dos EUA afeta
diretamente os preços no mercado brasileiro.
Mesma volatilidade que, alega a
indústria, fez o chope aumentar
17% e a cerveja 11,32%. Alternativa seriam os sucos de frutas, que
subiram apenas 1,69%.
Os preços dos automóveis novos subiram 8,72% nos últimos 12
meses. A razão, mais uma vez, é o
dólar, alegam as montadoras. A
alta da moeda se dissemina nos
componentes importados presentes nos veículos. Quanto mais
recente o lançamento do modelo
no país, menor a participação de
componentes nacionais.
O recente aumento dos combustíveis terá impacto somente na
inflação medida a partir de novembro. E pelo menos uma categoria de prestadores de serviços
reivindica aumentos de preços,
desde agora. O Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo
prepara um estudo a ser enviado
ainda este mês à prefeitura que
serviria de base para um reajuste
da tarifas. Alega que o último aumento ocorreu em janeiro de
2001. E a gasolina subiu em média
10,85%, segundo o Sincopetro
(sindicato dos donos de postos).
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