São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 2002

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ANO DO DRAGÃO

Onda de remarcações atinge serviços e supérfluos, como parques e futebol; cinemas e taxistas falam em reajuste

Inflação agora contamina preços do lazer

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A aceleração da inflação, antes restrita a itens de consumo indispensável, como alimentos, começa a contaminar os preços de serviços e dos chamados supérfluos.
A pressão por aumentos, em parte resultado do contágio do câmbio, e a redução da demanda em alguns segmentos, consequência da queda de renda do trabalhador (que só neste ano encolheu 4,41%, segundo o IBGE), provocam uma gangorra: parcela considerável dos preços sobe mais que a inflação, enquanto outros são contidos ou recuam, por medo da perda de mais clientes.
Serviços relacionados a recreação e cultura servem de parâmetro dessa gangorra, de acordo com dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Entre novembro de 2001 e outubro último, a inflação acumulada foi de 6,05%. Considerados apenas os dez primeiros meses de 2002, o índice é de 5,14%.
Se a decisão depender da variação de preços dos últimos 12 meses, viagens em excursões e ida a parques de diversão estão fora da lista de programas da família paulistana. Passagem para fora da cidade (de ônibus e avião) aumentou 11,58% no período -ou seja, quase o dobro da inflação.
Nesse item, os maiores impactos foram nas passagens de avião, que, em menos de um mês, sofreram dois reajustes, por conta da alta dos combustíveis. O primeiro (16%) no início de outubro; o último (7,5%) na semana passada.
Os ingressos para parques de diversões aumentaram 17,7%, e até o futebol teve reajuste acima da inflação em São Paulo -9,8%. Assistir a uma partida das arquibancadas do Morumbi ou Pacaembu custa R$ 10 ou R$ 15, a depender da localização. É o mesmo preço de um ano atrás. O que pesa é que ingressos para assentos melhores ficaram mais caros.

Na tela
Outra diversão barata, o cinema não acompanhou a inflação: nos últimos 12 meses, os preços subiram não mais que 2,59%. Alívio que, porém, pode durar pouco. ""Estamos pensando em fazer aumentos nos próximos meses", diz Valmir Fernandes, diretor do Cinemark, a maior rede de cinemas do país, com 264 salas de exibição. ""Há custos que tiveram impacto importante, como a energia elétrica [subiu 9,48%"."
Fernandes argumenta que o fim do monopólio de entidades estudantis sobre a emissão de carteiras de estudantes aumentou a parcela do público que paga meia-entrada. ""Em São Paulo, o ingresso pode chegar a R$ 13, mas metade das pessoas paga meia-entrada. A arrecadação diminui; os custos, não", diz.
Promoções das companhias e projetos de incentivo do governo fizeram mais que segurar os preços do teatro: na média, os ingressos ficaram 4,95% mais baratos em um ano. Foi, ao lado de casas de dança e das casas de boliche e de pesque-e-pague (esses dois últimos abatidos pela perda de público depois da febre de cinco anos atrás), o único item da lista de divertimento em que se registrou deflação.

Comer fora
Alimentação fora de casa está entre os itens em que os aumentos superaram a inflação. Comer em restaurante, em média, ficou 7,31% mais caro no período de um ano. Recorrer a lanches pode não ser boa escolha, ao menos para o bolso. Subiram mais, 7,71%. Segundo a Fipe, os aumentos são correlatos: componentes ou insumos usados na preparação de refeições aumentaram de preço. Desde a energia ao arroz (alta de 16,24%), o feijão (14,24%) e legumes, como o tomate (23,52%), os ovos (8,01%) e o óleo de soja (44,03%).
A despeito de o Brasil ser o segundo maior produtor mundial de soja, os preços internos sobem: a soja é uma commodity com valor fixado em dólar -logo, a volatilidade da moeda dos EUA afeta diretamente os preços no mercado brasileiro.
Mesma volatilidade que, alega a indústria, fez o chope aumentar 17% e a cerveja 11,32%. Alternativa seriam os sucos de frutas, que subiram apenas 1,69%.
Os preços dos automóveis novos subiram 8,72% nos últimos 12 meses. A razão, mais uma vez, é o dólar, alegam as montadoras. A alta da moeda se dissemina nos componentes importados presentes nos veículos. Quanto mais recente o lançamento do modelo no país, menor a participação de componentes nacionais.
O recente aumento dos combustíveis terá impacto somente na inflação medida a partir de novembro. E pelo menos uma categoria de prestadores de serviços reivindica aumentos de preços, desde agora. O Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo prepara um estudo a ser enviado ainda este mês à prefeitura que serviria de base para um reajuste da tarifas. Alega que o último aumento ocorreu em janeiro de 2001. E a gasolina subiu em média 10,85%, segundo o Sincopetro (sindicato dos donos de postos).



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