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LUÍS NASSIF
Desdobramentos do caso Anaconda
A operação Anaconda pode ser fundamental para o
aprimoramento do Judiciário,
desde que não seja instrumentalizada por outros poderes. Um Judiciário independente é fundamental para a consolidação do
processo democrático. E a maior
parte da categoria é composta
por profissionais honestos, tão vítimas do anacronismo administrativo do Judiciário quanto os
clientes dos serviços jurisdicionais.
O próprio processo de prisão do
juiz João Carlos da Rocha Mattos, por aprovação unânime dos
desembargadores, o voto da juíza, o profissionalismo com que foi
conduzida a investigação, sem
vazamentos antes do tempo, são
provas disso. Aliás, se a Operação
Anaconda tivesse sido comandada pelo exibicionismo de alguns
procuradores brasilienses, teria
resultado em três dias de manchetes furadas e nenhuma prova
apurada.
O momento da reforma do Judiciário é agora, desde que seja
por meio do fortalecimento das
forças modernizantes internas do
próprio Judiciário.
A grande questão a ser discutida é essa: por que um poder, em
que a maioria dos membros é séria, não conseguiu forças para
enfrentar adequadamente a sua
banda podre? Há pelo menos dez
anos a fama de Rocha Mattos
não é boa. O máximo que a Justiça Federal conseguiu, no entanto,
foi congelar sua carreira, impedindo sua promoção. Durante algum tempo com ameaças de divulgação de dossiês e quetais, ele
conseguiu intimidar muitos juízes sérios. E conseguiu porque,
mesmo sendo sérios, sabiam que,
nas mãos de jornalistas aliados,
os dossiês poderiam ser letais.
É importante anotar esse ponto. Foi a complacência com dossiês que deu força a chantagistas
de toda espécie e criou uma cumplicidade perigosa entre jornalistas de escândalos e suas fontes.
Nas degravações dos grampos dos
juízes suspeitos, aliás, aparece pelo menos um jornalista que se
propõe a obter informações sobre
as investigações no Ministério
Público Federal, para repassá-las
à sua fonte. Ligou, de fato, a procuradores querendo informações
sobre o tema. E não era de nenhum programa sensacionalista
de televisão.
Por todas essas implicações, é
importante começar a adotar o
comportamento da "tolerância
zero" em todos os níveis. Do lado
do Judiciário, há que haver ações
que rompam a inércia que imobilizava os juízes de bem. E a questão de um conselho que avalie as
ações administrativas, sem se
imiscuir na independência do
juiz, tem que ser discutida sem
preconceitos do lado dos juízes e
sem tentativa de manipulação
política do lado do Executivo.
Do lado da imprensa, há que
ter uma avaliação rigorosa sobre
o jornalismo de escândalo, sabendo separar os repórteres que se
dedicam profissional e seriamente a ser fiscal da sociedade daqueles que fazem pactos com o diabo.
Finalmente, há que abrir espaço para as muitas experiências
inovadoras que estão surgindo
em vários tribunais, de uso inteligente de ferramentas de gestão e
de tecnologia, para que essas forças renovadoras possam florescer
e contribuir para um Judiciário
mais eficiente.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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