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PROTECIONISMO
Decisão beneficia Brasil, que tem prejuízo anual estimado em US$ 104 milhões com a barreira americana
Sobretaxa do aço dos EUA é ilegal, diz OMC
GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em decisão final, a OMC (Organização Mundial do Comércio)
considerou ontem irregulares as
sobretaxas norte-americanas ao
aço importado. Os EUA não podem mais recorrer e terão de eliminar as tarifas. Caso contrário ficarão sujeitos a sanções que podem atingir US$ 3,1 bilhões.
Pelos cálculos do IBS (Instituto
Brasileiro de Siderurgia), o Brasil
perde, no mínimo, US$ 104 milhões ao ano com as salvaguardas
norte-americanas, ao deixar de
vender para os EUA produtos de
maior valor agregado. Mas o IBS
diz que as perdas podem superar
US$ 150 milhões ao ano, conforme o critério de cálculo.
O EUA começaram a cobrar as
sobretaxas em março do ano passado. O governo George W. Bush
argumenta que a indústria siderúrgica local enfrenta uma concorrência injusta de produtos importados e precisa das salvaguardas para se reestruturar.
A União Européia foi a principal
beneficiada com a decisão da
OMC, que favorece o Brasil e outros grandes exportadores, como
Japão e China. Só o bloco europeu
tem o direito de impor sanções de
US$ 2,2 bilhões.
O governo norte-americano rejeitou a decisão do tribunal. Embora ela fosse amplamente antecipada, a Casa Branca informou
que ainda não sabe se voltará
atrás na cobrança das tarifas.
"Não concordamos, de maneira
geral, com o relatório da OMC.
Vamos estudá-lo e analisar suas
implicações", disse o porta-voz da
Casa Branca, Scott McClellan. "As
salvaguardas ao aço eram para
dar à nossa indústria a oportunidade de se ajustar à concorrência
dos importados, de se reestruturar e se tornar mais competitiva."
Brasil e Alca
Na lista de produtos brasileiros
afetados pelas salvaguardas estão
placas, chapas grossas, laminados
a quente e a frio e aço galvanizado.
""O que esperamos é que os EUA
retirem as sanções imediatamente", diz Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente do IBS. ""No
caso brasileiro, há um aspecto
muito importante, que é a discussão da Alca. Essa é uma decisão
que pode afetar todo o encaminhamento das negociações."
O executivo argumenta que seria politicamente desgastante para os EUA manter as barreiras no
momento em que as negociações
da Área de Livre Comércio das
Américas ingressam na fase decisiva. ""Não sei o quanto interessaria aos EUA descumprir uma decisão final da OMC", afirma o vice-presidente do IBS.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, do total exportado pelas siderúrgicas brasileiras,
54% se destinam aos países que,
em tese, comporiam a Alca.
""O setor siderúrgico vai produzir um superávit de US$ 3 bilhões
neste ano, algo em torno de 13,5%
do superávit comercial brasileiro", afirma Mello.
O executivo lembra que, pelo
estabelecido na Roda Uruguai
(1986-1994), no próximo ano seriam zeradas as alíquotas de importação de aço nos EUA e no Canadá. ""Mas, na prática, nada disso
acontecerá porque os norte-americanos utilizam seus instrumentos de proteção como bem querem. A decisão da OMC é mais
uma prova", argumenta o vice-presidente do IBS.
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, afirmou que a decisão já era esperada. Por outro lado, afirmou que o
país teria dificuldades políticas
para impor sanções aos EUA, ainda que conquiste o direito de retaliar os norte-americanos.
Em março de 2002, os EUA iniciaram a cobrança de sobretaxas
de até 30% sobre a importação de
vários produtos de aço.
Brasil, China, Coréia do Sul, Japão, Noruega, Nova Zelândia,
Suíça e União Européia ingressam com um processo conjunto
na OMC, no ano passado, questionando as medidas. Em 11 de julho, o tribunal de arbitragem da
OMC divulgou relatório no qual
apontava violações por parte dos
norte-americanos.
Os EUA recorreram da decisão,
que acabou mantida ontem pelo
tribunal de apelação. Segundo a
OMC, as medidas dos EUA carecem de base. Para a maioria dos
produtos, não havia ocorrido aumento nas importações. Além
disso, os EUA isentaram das barreiras Canadá, México, Israel e
Jordânia, o que é incompatível
com as regras da OMC.
Em uma nota conjunta, os países que abriram a ação disseram
que "caberá agora aos Estados
Unidos revogar, sem demora, as
medidas de salvaguarda tidas como incompatíveis com as normas
da OMC".
Colaborou Érica Fraga,
da Reportagem Local
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