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OPINIÃO ECONÔMICA
Azulão rima com exportação
BENJAMIN STEINBRUCH
Em janeiro, observei aqui
que comércio exterior é como
futebol e sugeri que deveríamos
seguir o exemplo do São Caetano
e jogar no ataque nas exportações. Quase um ano depois, tanto
no futebol como no comércio exterior, a tática ofensiva está dando provas de que funciona.
No futebol, outra vez o time
azulão de São Caetano do Sul
conseguiu chegar às finais do
Campeonato Brasileiro. No comércio exterior, o Brasil obteve
um superávit impensável há um
ano. É preciso reconhecer que os
pessimistas erraram feio desta
vez. No início do ano, eles previam déficit comercial para 2001
que variava de US$ 200 milhões a
US$ 5 bilhões. Não foi isso que
aconteceu. Desta vez, estamos
mais próximos da previsão feita
pelo governo, que falava em saldo
positivo de US$ 1 bilhão. De janeiro a novembro, o superávit alcançou quase US$ 1,8 bilhão e pode
fechar o ano em US$ 2 bilhões.
Vários fatores influíram nesse
resultado: o aumento das cotações das commodities agrícolas, a
contenção de importações por
conta do desaquecimento da economia, a queda dos preços do petróleo e o estímulo cambial decorrente da desvalorização do real.
Esses fatores foram muito importantes, mas não explicam tudo. As importações nos últimos 11
meses ainda foram superiores às
do mesmo período do ano passado -US$ 52,1 bilhões em 2001 e
US$ 50,9 bilhões em 2000. Ao
mesmo tempo, as exportações para a Argentina, o segundo maior
parceiro comercial do Brasil, entraram em queda livre. Em novembro, por exemplo, estavam
41% abaixo do nível do mesmo
mês do ano passado. Ou seja, o
superávit de US$ 1,8 bilhão só foi
possível porque os exportadores
jogaram no ataque. Prejudicados
pela redução das compras argentinas e norte-americanas, eles encontraram mercados alternativos. Em novembro, as vendas
cresceram 62% para o Oriente
Médio, 23% para a Ásia e 61%
para a África.
Está provado que atacar dá resultados também em matéria de
comércio exterior. Mas a tática
ofensiva brasileira ainda é tímida. Para 2002, dada a tendência
recessiva da economia mundial,
ela precisa ser aprimorada. Faltam promoções mais sistemáticas
de produtos competitivos, créditos mais favoráveis para produção/comercialização e políticas
diplomáticas e comerciais mais
agressivas no combate às restrições comerciais de parceiros.
Além dessas três coisas, há ainda uma quarta, a mais importante de todas, resumida numa expressão repetida à exaustão nos
últimos anos: o "custo Brasil". Basicamente, falta eliminar os abomináveis impostos em cascata,
que aumentam o custo da produção e reduzem as possibilidades
de exportação. Com esse sistema,
quanto mais longa for a cadeia
produtiva, mais o produto será
onerado pelos impostos. Ou seja,
não há estímulo para a exportação de produtos manufaturados,
exatamente aqueles que, por exigir uma cadeia produtiva mais
longa, são grandes geradores de
emprego.
Superávits comerciais são importantíssimos para o Brasil. O
resultado deste ano, ainda que
modesto, já mudou muito a imagem brasileira perante a comunidade financeira internacional. A
crise da Argentina, por exemplo,
só deixou de contagiar fortemente o Brasil no momento em que ficou clara a mudança de sinal da
balança. Superávits comerciais
são a única forma segura de arcar
com o déficit das contas externas
quando um país não emite dólares. Quem souber de outra, que a
apresente com urgência. Aqui, e
principalmente no país vizinho
do Sul, há gente desesperada para
conhecê-la.
Benjamin Steinbruch, 47, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail: bvictoria@psi.com.br
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