São Paulo, terça-feira, 11 de dezembro de 2001

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OPINIÃO ECONÔMICA

Azulão rima com exportação

BENJAMIN STEINBRUCH

Em janeiro, observei aqui que comércio exterior é como futebol e sugeri que deveríamos seguir o exemplo do São Caetano e jogar no ataque nas exportações. Quase um ano depois, tanto no futebol como no comércio exterior, a tática ofensiva está dando provas de que funciona.
No futebol, outra vez o time azulão de São Caetano do Sul conseguiu chegar às finais do Campeonato Brasileiro. No comércio exterior, o Brasil obteve um superávit impensável há um ano. É preciso reconhecer que os pessimistas erraram feio desta vez. No início do ano, eles previam déficit comercial para 2001 que variava de US$ 200 milhões a US$ 5 bilhões. Não foi isso que aconteceu. Desta vez, estamos mais próximos da previsão feita pelo governo, que falava em saldo positivo de US$ 1 bilhão. De janeiro a novembro, o superávit alcançou quase US$ 1,8 bilhão e pode fechar o ano em US$ 2 bilhões.
Vários fatores influíram nesse resultado: o aumento das cotações das commodities agrícolas, a contenção de importações por conta do desaquecimento da economia, a queda dos preços do petróleo e o estímulo cambial decorrente da desvalorização do real.
Esses fatores foram muito importantes, mas não explicam tudo. As importações nos últimos 11 meses ainda foram superiores às do mesmo período do ano passado -US$ 52,1 bilhões em 2001 e US$ 50,9 bilhões em 2000. Ao mesmo tempo, as exportações para a Argentina, o segundo maior parceiro comercial do Brasil, entraram em queda livre. Em novembro, por exemplo, estavam 41% abaixo do nível do mesmo mês do ano passado. Ou seja, o superávit de US$ 1,8 bilhão só foi possível porque os exportadores jogaram no ataque. Prejudicados pela redução das compras argentinas e norte-americanas, eles encontraram mercados alternativos. Em novembro, as vendas cresceram 62% para o Oriente Médio, 23% para a Ásia e 61% para a África.
Está provado que atacar dá resultados também em matéria de comércio exterior. Mas a tática ofensiva brasileira ainda é tímida. Para 2002, dada a tendência recessiva da economia mundial, ela precisa ser aprimorada. Faltam promoções mais sistemáticas de produtos competitivos, créditos mais favoráveis para produção/comercialização e políticas diplomáticas e comerciais mais agressivas no combate às restrições comerciais de parceiros.
Além dessas três coisas, há ainda uma quarta, a mais importante de todas, resumida numa expressão repetida à exaustão nos últimos anos: o "custo Brasil". Basicamente, falta eliminar os abomináveis impostos em cascata, que aumentam o custo da produção e reduzem as possibilidades de exportação. Com esse sistema, quanto mais longa for a cadeia produtiva, mais o produto será onerado pelos impostos. Ou seja, não há estímulo para a exportação de produtos manufaturados, exatamente aqueles que, por exigir uma cadeia produtiva mais longa, são grandes geradores de emprego.
Superávits comerciais são importantíssimos para o Brasil. O resultado deste ano, ainda que modesto, já mudou muito a imagem brasileira perante a comunidade financeira internacional. A crise da Argentina, por exemplo, só deixou de contagiar fortemente o Brasil no momento em que ficou clara a mudança de sinal da balança. Superávits comerciais são a única forma segura de arcar com o déficit das contas externas quando um país não emite dólares. Quem souber de outra, que a apresente com urgência. Aqui, e principalmente no país vizinho do Sul, há gente desesperada para conhecê-la.


Benjamin Steinbruch, 47, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.

E-mail: bvictoria@psi.com.br


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