São Paulo, terça-feira, 11 de dezembro de 2001

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BC deve cortar ração diária de dólar

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O diretor de política econômica do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou ontem que irá anunciar nos próximos dias qual será a política do BC para o câmbio em 2002. Em razão da queda do dólar nas últimas semanas, o BC deverá optar por uma redução ou acabar com a atual política de venda diária de US$ 50 milhões.
Goldfajn diz que a queda do dólar no Brasil se deve, em primeiro lugar, ao aumento da entrada de dinheiro do exterior. Em novembro, o total de investimentos diretos estrangeiros (IDE) ficou em cerca de US$ 2 bilhões, um volume bem superior ao esperado pelo mercado e acima do resultado dos últimos meses.
A Folha apurou que o BC já começa a trabalhar com a previsão de o ano de 2001 se encerrar com um total de US$ 20 bilhões de IDE, um resultado bem mais otimista do que aquele previsto pelo mercado há pouco tempo.
Goldfajn observa que a queda das taxas de juros nos Estados Unidos também tem contribuído para esse aumento do volume de entrada de recursos de fora. Como o Brasil foi um dos poucos países a não mexer nos juros, isso fez com que o país se tornasse atraente aos investidores de fora.
O diretor do BC disse, no entanto, que todos esses dados precisam ser vistos com cautela. "Os números são bons, mas não há nenhuma sensação de euforia", afirmou o economista.
De acordo com Goldfajn, ontem mesmo, apesar da apreciação do câmbio, pesquisa do BC mostrou que o mercado aumentou a projeção de inflação de 5% para 5,20% em 2002. "As expectativas de inflação ainda continuam bastante altas, e isso é o mais importante para a gente", diz ele.
Para Goldfajn, essa alta da inflação deve ser reflexo dos aumentos das tarifas (preços administrados) para o ano que vem, em especial o da energia elétrica. As previsões do mercado para o aumento da tarifa de energia em 2002 variam de 15% para 30%.
Goldfajn diz ainda que, nos últimos dias, o BC começa a notar sinais de retomada do crescimento da economia. Ele ressalta, no entanto, que ainda há muitas dúvidas no mercado se a recuperação é sustentável ou não.
De acordo com o que a Folha apurou com economistas que participaram da reunião com Goldfajn na sexta-feira passada em São Paulo, a dúvida do BC é se essa recuperação que se vê hoje está muito mais ancorada na melhora das expectativas ou se em dados mais concretos.
Houve, segundo Goldfajn, uma melhora na procura por crédito, mas ainda é cedo para garantir que essa recuperação irá prosseguir ou não. A tendência é de os bancos adotarem uma política altamente seletiva na concessão dos créditos, o que poderá funcionar como um freio na retomada do crescimento.


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