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BC deve cortar ração diária de dólar
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O diretor de política econômica
do Banco Central, Ilan Goldfajn,
afirmou ontem que irá anunciar
nos próximos dias qual será a política do BC para o câmbio em
2002. Em razão da queda do dólar
nas últimas semanas, o BC deverá
optar por uma redução ou acabar
com a atual política de venda diária de US$ 50 milhões.
Goldfajn diz que a queda do dólar no Brasil se deve, em primeiro
lugar, ao aumento da entrada de
dinheiro do exterior. Em novembro, o total de investimentos diretos estrangeiros (IDE) ficou em
cerca de US$ 2 bilhões, um volume bem superior ao esperado pelo mercado e acima do resultado
dos últimos meses.
A Folha apurou que o BC já começa a trabalhar com a previsão
de o ano de 2001 se encerrar com
um total de US$ 20 bilhões de
IDE, um resultado bem mais otimista do que aquele previsto pelo
mercado há pouco tempo.
Goldfajn observa que a queda
das taxas de juros nos Estados
Unidos também tem contribuído
para esse aumento do volume de
entrada de recursos de fora. Como o Brasil foi um dos poucos
países a não mexer nos juros, isso
fez com que o país se tornasse
atraente aos investidores de fora.
O diretor do BC disse, no entanto, que todos esses dados precisam ser vistos com cautela. "Os
números são bons, mas não há
nenhuma sensação de euforia",
afirmou o economista.
De acordo com Goldfajn, ontem
mesmo, apesar da apreciação do
câmbio, pesquisa do BC mostrou
que o mercado aumentou a projeção de inflação de 5% para 5,20%
em 2002. "As expectativas de inflação ainda continuam bastante
altas, e isso é o mais importante
para a gente", diz ele.
Para Goldfajn, essa alta da inflação deve ser reflexo dos aumentos
das tarifas (preços administrados) para o ano que vem, em especial o da energia elétrica. As
previsões do mercado para o aumento da tarifa de energia em
2002 variam de 15% para 30%.
Goldfajn diz ainda que, nos últimos dias, o BC começa a notar sinais de retomada do crescimento
da economia. Ele ressalta, no entanto, que ainda há muitas dúvidas no mercado se a recuperação
é sustentável ou não.
De acordo com o que a Folha
apurou com economistas que
participaram da reunião com
Goldfajn na sexta-feira passada
em São Paulo, a dúvida do BC é se
essa recuperação que se vê hoje
está muito mais ancorada na melhora das expectativas ou se em
dados mais concretos.
Houve, segundo Goldfajn, uma
melhora na procura por crédito,
mas ainda é cedo para garantir
que essa recuperação irá prosseguir ou não. A tendência é de os
bancos adotarem uma política altamente seletiva na concessão dos
créditos, o que poderá funcionar
como um freio na retomada do
crescimento.
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