São Paulo, terça-feira, 11 de dezembro de 2001

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CÂMBIO

Nível de investimentos e captações cresce, moeda sobra no mercado e cotação desaba para R$ 2,332, a menor desde junho

Aumento da oferta derruba preço do dólar

ANA PAULA RAGAZZI
DA REDAÇÃO

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar caiu 2,43% ontem. A moeda norte-americana foi cotada a R$ 2,332 -a menor cotação desde o final de junho deste ano. A queda na procura pela moeda norte-americana e o aumento da oferta fez a cotação desabar.
Depois de pedir ao Banco Central por vários meses que irrigasse o mercado com dólares ou papéis atrelados ao dólar, bancos e empresas parecem ter "saciado" seu apetite por proteção cambial. Ontem, a avaliação dos operadores é que sobra dólar no mercado.
A procura por dólares começou a cair quando apareceram indicadores de que os desequilíbrios externos da economia brasileira não eram tão grandes quanto o estimado pelo mercado. Os operadores listavam ontem os motivos que os fazem acreditar que o país não terá problemas de financiamento externo nos próximos meses, o que fará, portanto, com que o dólar não fique pressionado:
1) a recuperação da balança comercial, que já acumula superávit de US$ 1,7 bilhão;
2) a entrada inesperada de mais de US$ 2 bilhões de investimento estrangeiro em novembro;
3) sucessivos anúncios de captações externas de bancos e empresas brasileiros.
Passada a preocupação com o desequilíbrio externo e a consequente falta de dólares, as empresas começaram a desfazer-se da moeda. "As empresas ficaram de março a outubro com medo de que houvesse escassez de dólares em 2002. Com isso, houve um acúmulo de caixa. Agora, que o mercado acredita que essa escassez não vai ocorrer, começou o movimento para se desfazer da moeda", diz Marcelo Cypriano, economista do BankBoston.
Na sexta-feira, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse que, mesmo com a alta da semana passada, o real ainda poderia estar subvalorizado. O mercado traduziu a declaração de Fraga como um sinal de que a autoridade monetária vai continuar vendendo dólares e rolando os títulos cambiais, forçando a cotação da moeda para baixo.
"O BC deverá manter as intervenções diárias para honrar sua palavra e também porque não quer que o mercado acredite que ele tem um piso para o dólar", diz Eduardo de Faria, economista-chefe do banco Safra. No entanto, o diretor de política econômica do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse à Folha que a "ração diária" de dólares deve ser reduzida em breve (leia texto ao lado).
Ontem, cogitava-se que a queda expressiva seria resultado da entrada de US$ 900 milhões, que teriam sido captados pela Petrobras. Mas a maioria dos analistas ouvidos pela Folha acredita que a cotação do dólar está caindo de forma abrupta pelo mesmo motivo que subiu nos últimos meses: mudança de expectativas.
Hoje, dizem os analistas, as pessoas acreditam que o cenário é mais tranquilo e que, portanto, não existe motivo para se proteger excessivamente.
"Naquela época, como agora, ocorreu um movimento de manada. Agora que a Argentina não assusta mais, que o pior para a economia americana parece ter passado e que o Brasil tem indicadores favoráveis, ninguém quer comprar", diz Faria, do Safra.
Odair Abate, economista do Lloyds TSB, diz que a queda era esperada. "A taxa no nível atual, em torno dos R$ 2,35, não trará grandes problemas. É positiva para o controle da inflação e da dívida pública", diz, fazendo a ressalva de que uma queda mais forte pode afetar as exportações.


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