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CÂMBIO
Nível de investimentos e captações cresce, moeda sobra no mercado e cotação desaba para R$ 2,332, a menor desde junho
Aumento da oferta derruba preço do dólar
ANA PAULA RAGAZZI
DA REDAÇÃO
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar caiu 2,43% ontem. A
moeda norte-americana foi cotada a R$ 2,332 -a menor cotação
desde o final de junho deste ano.
A queda na procura pela moeda
norte-americana e o aumento da
oferta fez a cotação desabar.
Depois de pedir ao Banco Central por vários meses que irrigasse
o mercado com dólares ou papéis
atrelados ao dólar, bancos e empresas parecem ter "saciado" seu
apetite por proteção cambial. Ontem, a avaliação dos operadores é
que sobra dólar no mercado.
A procura por dólares começou
a cair quando apareceram indicadores de que os desequilíbrios externos da economia brasileira não
eram tão grandes quanto o estimado pelo mercado. Os operadores listavam ontem os motivos
que os fazem acreditar que o país
não terá problemas de financiamento externo nos próximos meses, o que fará, portanto, com que
o dólar não fique pressionado:
1) a recuperação da balança comercial, que já acumula superávit
de US$ 1,7 bilhão;
2) a entrada inesperada de mais
de US$ 2 bilhões de investimento
estrangeiro em novembro;
3) sucessivos anúncios de captações externas de bancos e empresas brasileiros.
Passada a preocupação com o
desequilíbrio externo e a consequente falta de dólares, as empresas começaram a desfazer-se da
moeda. "As empresas ficaram de
março a outubro com medo de
que houvesse escassez de dólares
em 2002. Com isso, houve um
acúmulo de caixa. Agora, que o
mercado acredita que essa escassez não vai ocorrer, começou o
movimento para se desfazer da
moeda", diz Marcelo Cypriano,
economista do BankBoston.
Na sexta-feira, o presidente do
Banco Central, Armínio Fraga,
disse que, mesmo com a alta da
semana passada, o real ainda poderia estar subvalorizado. O mercado traduziu a declaração de
Fraga como um sinal de que a autoridade monetária vai continuar
vendendo dólares e rolando os títulos cambiais, forçando a cotação da moeda para baixo.
"O BC deverá manter as intervenções diárias para honrar sua
palavra e também porque não
quer que o mercado acredite que
ele tem um piso para o dólar", diz
Eduardo de Faria, economista-chefe do banco Safra. No entanto,
o diretor de política econômica
do Banco Central, Ilan Goldfajn,
disse à Folha que a "ração diária"
de dólares deve ser reduzida em
breve (leia texto ao lado).
Ontem, cogitava-se que a queda
expressiva seria resultado da entrada de US$ 900 milhões, que teriam sido captados pela Petrobras. Mas a maioria dos analistas
ouvidos pela Folha acredita que a
cotação do dólar está caindo de
forma abrupta pelo mesmo motivo que subiu nos últimos meses:
mudança de expectativas.
Hoje, dizem os analistas, as pessoas acreditam que o cenário é
mais tranquilo e que, portanto,
não existe motivo para se proteger excessivamente.
"Naquela época, como agora,
ocorreu um movimento de manada. Agora que a Argentina não
assusta mais, que o pior para a
economia americana parece ter
passado e que o Brasil tem indicadores favoráveis, ninguém quer
comprar", diz Faria, do Safra.
Odair Abate, economista do
Lloyds TSB, diz que a queda era
esperada. "A taxa no nível atual,
em torno dos R$ 2,35, não trará
grandes problemas. É positiva para o controle da inflação e da dívida pública", diz, fazendo a ressalva de que uma queda mais forte
pode afetar as exportações.
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