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LUÍS NASSIF
O desenvolvimentismo e a estabilidade
Para entender o futuro
governo Lula, é importante, primeiro, avaliar corretamente o papel das equipes de
transição, que é o de apenas levantar números, auditar, e não
formular políticas. As políticas
serão definidas em duas frentes.
No momento, há um conjunto
de especialistas, gente de confiança dos futuros ministeriáveis do PT, trabalhando em formulações, individualmente ou
em grupo, mas sem representar
oficialmente o partido.
No segundo tempo, essas
idéias serão apresentadas de
maneira mastigada aos futuros
ministros -alguns dos quais já
definidos-, podendo vir a ser a
espinha dorsal das futuras estratégias econômicas.
De um desses centros, ligado
ao futuro ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, foi possível levantar a seguinte visão de
futuro. Saliente-se que, por enquanto, se trata de posição individual, podendo vir ou não a
ser adotada pelo PT.
Há consciência clara sobre a
gravidade do momento atual.
Considera-se a crise externa
atual mais grave do que a de
1982. Na época não houve corte
das linhas de comércio nem
uma fuga tão espetacular de recursos como neste segundo semestre. Considera-se um avanço a melhoria das contas externas neste ano, mas não a ponto
de contornar a iliquidez internacional do próximo ano.
No campo da inflação, as
avaliações são menos pessimistas. A avaliação desses setores é
que as projeções do mercado
para 2003 são pavlovianas: o
mercado projeta para 2003 as
mesmas taxas de inflação de
2002. De forma bastante curiosa, aliás, já que, para haver a
mesma inflação, teriam que
ocorrer os mesmos eventos com
os mesmos impactos deste ano.
Além disso, há uma curiosidade extravagante nessas projeções. Neste ano o IGP-M será
quase o dobro do IPCA. Os índices tendem a convergir no tempo. Mas o mercado continua
projetando o mesmo diferencial
entre os dois índices para o próximo ano.
Sua visão é que, por razões
metodológicas e pela entrada
da safra, em março será possível que ocorra até uma deflação, e esse será o melhor momento para Lula começar a
brandir novas bandeiras.
Em sua opinião, o governo
não poderá "malanizar", isto é,
comportar-se de forma passiva
diante dos problemas conjunturais. Por outro lado, não pode
ir contra os fundamentos de
mercado, para não precipitar a
crise. Com criatividade, será
possível compatibilizar as duas
frentes.
O projeto de desenvolvimento
passa por quatro pernas, algumas cujo processo já foi iniciado, mas ainda de forma pouco
perceptível à opinião pública.
A primeira é o desenvolvimento do mercado de capitais,
objeto de um pacto firmado
ainda no período eleitoral com
a Bovespa e a Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo). Esses setores chamam a
atenção de que, pela primeira
vez na história recente, a Fiesp
avalizou pactos dessa natureza.
A segunda perna será a expansão do crédito. Na opinião
desses setores -coincidentes
com a do Banco Central-, o
principal fator de encarecimento e de restrição de crédito é a
insegurança jurídica. As taxas
são definidas em função da demora estimada na recuperação
de crédito, razão para o PT tentar aprofundar o processo de
desburocratização das execuções judiciais, melhorar cadastro de clientes e outras ferramentas de garantia de crédito.
A terceira perna será o desenvolvimento regional descentralizado, com ênfase no adensamento das cadeias produtivas
regionais, agregando valor,
mas evitando estruturas centralizadas. A idéia é avançar no
formato de redes, experiência
iniciada há algum tempo pelo
BNDES, em parceria com federações de indústrias.
A quarta perna será a de uma
política industrial explicitando
os setores a serem estimulados,
de acordo com critérios de tecnologia e de exportação.
Essas fontes fazem questão de
lembrar que não estão autorizadas a falar em nome do PT.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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