São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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TROCA DE GUARDA

Abilio Diniz deixa comando da rede para presidir o conselho de administração, que terá maior poder decisório

Pão de Açúcar muda para atrair investidor

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo Pão de Açúcar anuncia hoje, pela manhã, mudanças na estrutura administrativa da empresa, conforme a Folha antecipou ontem. Além da saída de Abilio Diniz, presidente do grupo, para o cargo de presidente do conselho de administração, Ana Maria Diniz, sua filha, deixará de ser vice-presidente de operações da rede. Ela também passará a ocupar uma cadeira apenas no conselho.
Mesmo com a saída dos dois executivos da direção da empresa, ambos não perderão poder. As mudanças foram informadas ontem à tarde, em reunião de Abilio com membros do conselho, que apoiaram as alterações propostas.
A meta da empresa é aumentar o poder de supervisão do conselho na gestão da empresa. Ou seja, com Abilio no novo cargo, será possível dar maior poder de decisão ao conselho, que funcionará de forma mais ativa. Com isso, a empresa atinge dois objetivos.
Em primeiro lugar, a rede pode se tornar mais atraente a futuros investidores. E terá acesso a recursos mais baratos no mercado. Isso porque, nesse modelo -adotado por empresas americanas-, o presidente do conselho não é o presidente da empresa.
"Logo, deixa de ter o poder todo nas mãos e dividirá mais responsabilidades. Investidores gostam disso", diz Heloisa Bedicks, diretora do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).

Transparência
Além disso, a empresa tenta deixar a operação mais transparente. Até o momento, Abilio não só definia as linhas estratégicas de atuação da rede como ainda executava o trabalho. Como no seu lugar entrará Augusto Marques Filho, atual vice-presidente administrativo, Abilio não terá, digamos, "dupla função".
"Ser o "chairman" do grupo, ou seja, o presidente do conselho e o presidente da empresa, ao mesmo tempo, foi o modelo usado por empresas como a WorldCom, que tiveram sérios problemas de credibilidade. É uma estrutura que não funciona mais", afirma Heloísa.
Esse modelo, adotado pela rede, é chamado de "governança corporativa", que começou a ser implementado na empresa nos anos 90. Mas são necessários avanços nesse sentido, dizem analistas. Por isso, foi o IBGC que, no final de novembro, prestou esclarecimentos, em reunião fechada na sede do Pão de Açúcar, sobre como fazer a transição completa do sistema.

Diferença
Agora, ao abraçar esse plano de "governança", o Pão de Açúcar precisa dar outro passo: aderir a um programa chamado "Níveis Diferenciados de Governança Corporativa", da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). Se a Bolsa considerar que a empresa atua de forma transparente o bastante no mercado, ela passa a ser incluída num seleto grupo de empresas bem-vistas pelo mercado.
Na prática, o estopim desse processo se deu em meados de 2001, quando Abilio recebeu da consultoria McKinsey, especializada em governança corporativa, um estudo sobre os negócios da companhia. Nesse estudo, era preciso não só cortar pela metade a diretoria -oito executivos foram demitidos- como abraçar esse modelo de administração.


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