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STEPHEN ROACH
O preço dos ativos dos EUA tem de cair
Uma queda acentuada nos preços dos ativos, como os imóveis, é necessária para reequilibrar a economia
OS EUA são os maiores culpados pelos desequilíbrios que
desestabilizaram o mundo
nos últimos anos. O imenso déficit
norte-americano em conta corrente
absorve 75% dos excedentes mundiais de poupança. A maioria das
pessoas acredita que uma queda no
dólar é a melhor cura. Mas a moeda
caiu 23% de fevereiro de 2002 para
cá, em termos reais, e o impacto geral sobre o desequilíbrio nas contas
externas do país foi mínimo.
Os defensores de um dólar fraco
argumentam que mais desvalorização é a resposta. Há motivos para
duvidar disso. O déficit em conta
corrente se deve mais a bolhas nos
preços dos ativos do que a um desalinhamento no dólar. Resolver a situação requer mais uma correção
nos preços dos ativos do que nova
desvalorização. O problema é a escassez de poupança no país. Com a
poupança líquida nacional respondendo por só 1,4% do PIB nos últimos cinco anos, os EUA tinham de
importar excedentes de poupança
externa para continuar crescendo.
A aversão dos EUA a poupar não
surgiu do nada. Ondas de valorização de ativos -ações e imóveis residenciais- convenceram os cidadãos
de que uma nova era havia chegado.
Com o reforço de uma bolha de crédito barato, a percepção de que era
necessário poupar à maneira tradicional -gastando menos do que se
tem de renda- quase desapareceu.
Com bolhas nascidas de bolhas, os
desequilíbrios atingiram níveis épicos nos EUA. Uma queda acentuada
nos preços dos ativos é necessária
para reequilibrar a economia. É realista esperar que o mix da poupança
volte a depender de modelo sustentado pela geração de renda, e não da
valorização de ativos. Isso poderia
envolver queda de até 30% no preço
dos imóveis residenciais dos EUA e
deflação da bolha de crédito barato.
Essas duas tendências parecem já
estar em ação. Os preços dos imóveis residenciais caíram 6% nos 12
meses até outubro de 2007. Enquanto isso, graças à crise no crédito
imobiliário de risco ("subprime"), a
bolha do crédito estourou. Com a
chegada de período de queda nos
preços dos imóveis residenciais, os
consumidores reconhecerão os perigos de estratégias de poupança distorcidas pelo efeito da bolha. Os domicílios abalados financeiramente
responderão pela reconstrução da
poupança baseada em renda. Isso
significa que a proporção que o consumo representa no PIB cairá, e os
EUA devem cair em recessão.
A volta à poupança baseada em
renda terá desdobramento decisivo
também para o resto do mundo. À
medida que o consumo freia e a poupança domiciliar sobe nos EUA, a
necessidade de importar excedentes
externos de poupança cairá. A demanda por capital internacional se
retrairá, o que resultará em redução
tanto da conta corrente quanto dos
déficits comerciais americanos. A
economia mundial sairá contundida, mas com equilíbrio melhor.
As autoridades e políticos de Washington precisam recuar e permitir
que esse ajuste aconteça. Mas eles
estão reagindo com pânico promovendo imensas injeções de liquidez
que resultarão em nova bolha de ativos, bem como propondo medidas
de estímulo à economia na forma de
gastos públicos, o que reduziria ainda mais o nível de poupança interna.
Abandonar o comportamento que
nos levou ao vício em ativos será um
processo muito doloroso. Ninguém
deseja recessões e desemprego. Mas
esse foi sempre o resultado final de
uma economia propensa a bolhas.
Quanto mais adiarmos o momento
de agir de maneira drástica, mais caro sairá o ajuste. Por mais difícil que
seja, a única maneira sensata de agir
é permitir que o mercado funcione.
É esse o significado do estouro das
bolhas de crédito e ativos dos EUA.
STEPHEN ROACH é presidente do conselho do Morgan
Stanley Asia. Este artigo foi publicado originalmente no
"Financial Times".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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