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Pressão sobre a inflação vai persistir, dizem economistas
Mesmo que alimentos não subam tanto, especialistas vêem risco nos preços administrados
Cenário para 2008 deve ter impacto maior de altas das tarifas públicas; "repique" do setor de alimentação em dezembro elevou incertezas
Almeida Rocha - 12.abr.07/Folha Imagem
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Consumidora compra alimentos em feira livre de São Paulo |
DA SUCURSAL DO RIO
"Alimento barato é coisa do
passado." A frase, do economista Luiz Roberto Cunha, sintetiza a análise de especialistas sobre o futuro da inflação, que assumiu um novo patamar no
ano passado graças ao aumento
do consumo em países emergentes e ao desvio de grãos para
a produção de biocombustíveis.
Ainda que o grupo alimentação não repita uma alta superior a 10% no ano, economistas
projetam um IPCA entre 4% e
4,5% em 2008, com "viés de alta". A meta oficial é de 4,5%,
com tolerância de dois pontos
percentuais.
Se os alimentos desacelerarem por um lado, haverá do outro uma nova fonte de pressão:
os preços administrados, que
serão "realimentados" pela inflação maior do ano passado.
"Há uma mudança do padrão
de estrutura de preços internacionais de alimentos, que veio
para ficar", diz Cunha. Estão
por trás desse novo cenário a
"inclusão" de consumidores
nos países emergentes, o avanço do milho destinado ao álcool
nos EUA e problemas climáticos, que tendem a ficar mais extremos, segundo Cunha.
Diante disso e de uma perspectiva de altas maiores de tarifas públicas, o economista acredita que o IPCA de 2008 será de
4,5%, "com viés de alta".
Para Andréa Parreira Lameiras, do Ipea, 2007 foi um ano de
"recomposição de preços de alimentos", que ficaram comprimidos por muito tempo. Além
disso, diz, o aumento do consumo de grãos e o uso intensivo
do milho para o álcool também
impulsionaram as cotações das
commodities. Esse cenário,
avalia, persiste. Apesar disso, os
preços não devem subir com a
mesma intensidade em 2008.
"A recomposição já se deu,
mas também não podemos esperar uma queda dos preços
agrícolas", diz a economista.
A forte alta dos alimentos especialmente em dezembro
"acendeu uma luz amarela".
"Está começando a aparecer
uma luz amarela no horizonte
da inflação. Os alimentos podem pressionar, ainda que, claro, não na mesma magnitude
do ano passado".
O Ipea não fechou ainda uma
previsão para 2008, mas a economista afirma que o IPCA deve permanecer no mesmo nível
de 2007 -em torno de 4,5%.
"Os alimentos vão pressionar
menos, mas os administrados
vão ter um impacto maior", diz.
Mais otimista, Everton Santos, economista da LCA, espera
taxa em torno de 4% em 2008
em razão do menor aumento
dos alimentos. A LCA prevê
uma alta de cerca de 5% para o
grupo alimentação. Ou seja,
pouco menos da metade da registrada neste ano. "O forte repique dos alimentos em dezembro traz uma perspectiva
de incerteza, mas o aumento do
ano passado não deve se repetir
na mesma intensidade."
Para ele, esse cenário de "incerteza" deve levar o Banco
Central a redobrar a parcimônia na hora de fixar a taxa de juros. "O BC ganhou argumentos
para ser mais cauteloso. A taxa
Selic deve ficar parada por um
tempo maior. Não deve cair até
setembro deste ano."
Para José Ricardo Bernardo,
economista da Guedes & Pinheiro, a expectativa é de inflação em alta, o que eleva a chance de aumentar juros. "O trabalho do BC de manter a inflação
sob controle será mais difícil do
que foi no ano passado."
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