São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2008

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Pressão sobre a inflação vai persistir, dizem economistas

Mesmo que alimentos não subam tanto, especialistas vêem risco nos preços administrados

Cenário para 2008 deve ter impacto maior de altas das tarifas públicas; "repique" do setor de alimentação em dezembro elevou incertezas

Almeida Rocha - 12.abr.07/Folha Imagem
Consumidora compra alimentos em feira livre de São Paulo


DA SUCURSAL DO RIO

"Alimento barato é coisa do passado." A frase, do economista Luiz Roberto Cunha, sintetiza a análise de especialistas sobre o futuro da inflação, que assumiu um novo patamar no ano passado graças ao aumento do consumo em países emergentes e ao desvio de grãos para a produção de biocombustíveis.
Ainda que o grupo alimentação não repita uma alta superior a 10% no ano, economistas projetam um IPCA entre 4% e 4,5% em 2008, com "viés de alta". A meta oficial é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais.
Se os alimentos desacelerarem por um lado, haverá do outro uma nova fonte de pressão: os preços administrados, que serão "realimentados" pela inflação maior do ano passado.
"Há uma mudança do padrão de estrutura de preços internacionais de alimentos, que veio para ficar", diz Cunha. Estão por trás desse novo cenário a "inclusão" de consumidores nos países emergentes, o avanço do milho destinado ao álcool nos EUA e problemas climáticos, que tendem a ficar mais extremos, segundo Cunha.
Diante disso e de uma perspectiva de altas maiores de tarifas públicas, o economista acredita que o IPCA de 2008 será de 4,5%, "com viés de alta".
Para Andréa Parreira Lameiras, do Ipea, 2007 foi um ano de "recomposição de preços de alimentos", que ficaram comprimidos por muito tempo. Além disso, diz, o aumento do consumo de grãos e o uso intensivo do milho para o álcool também impulsionaram as cotações das commodities. Esse cenário, avalia, persiste. Apesar disso, os preços não devem subir com a mesma intensidade em 2008.
"A recomposição já se deu, mas também não podemos esperar uma queda dos preços agrícolas", diz a economista.
A forte alta dos alimentos especialmente em dezembro "acendeu uma luz amarela". "Está começando a aparecer uma luz amarela no horizonte da inflação. Os alimentos podem pressionar, ainda que, claro, não na mesma magnitude do ano passado".
O Ipea não fechou ainda uma previsão para 2008, mas a economista afirma que o IPCA deve permanecer no mesmo nível de 2007 -em torno de 4,5%. "Os alimentos vão pressionar menos, mas os administrados vão ter um impacto maior", diz.
Mais otimista, Everton Santos, economista da LCA, espera taxa em torno de 4% em 2008 em razão do menor aumento dos alimentos. A LCA prevê uma alta de cerca de 5% para o grupo alimentação. Ou seja, pouco menos da metade da registrada neste ano. "O forte repique dos alimentos em dezembro traz uma perspectiva de incerteza, mas o aumento do ano passado não deve se repetir na mesma intensidade."
Para ele, esse cenário de "incerteza" deve levar o Banco Central a redobrar a parcimônia na hora de fixar a taxa de juros. "O BC ganhou argumentos para ser mais cauteloso. A taxa Selic deve ficar parada por um tempo maior. Não deve cair até setembro deste ano."
Para José Ricardo Bernardo, economista da Guedes & Pinheiro, a expectativa é de inflação em alta, o que eleva a chance de aumentar juros. "O trabalho do BC de manter a inflação sob controle será mais difícil do que foi no ano passado."


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