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Sem o cenário favorável, BC reforça atuação conservadora
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ciente de que não poderá
contar com fatores importantes que ajudaram a manter a inflação abaixo do centro da meta
de 4,5% nos últimos anos, o
Banco Central inicia 2008
pressionado pela projeção de
um IPCA (índice-referência do
sistema de metas) de 4,3% e reforça o discurso conservador.
Segundo a Folha apurou, a
avaliação dos diretores é que,
ao contrário do que aconteceu
no ano passado, as expectativas
de inflação coladas no centro
da meta podem, ao menor deslize, subir facilmente para o intervalo superior da banda de
inflação com o atual ritmo de
crescimento do país.
Isso poderia obrigar o Copom (Comitê de Política Monetária) a segurar a expansão
do nível de atividade, aumentando os juros num ano de eleições municipais. Essa é a hipótese que o BC tentará evitar.
Pelo sistema adotado no Brasil, a meta de inflação é de 4,5%
ao ano, mas pode variar entre
2,5% e 6,5%. Em 2006, a inflação encerrou em 3,14%. Em
2007, subiu para 4,46%. No último relatório do BC, a projeção é de 4,3% em 2008.
Apesar de a estimativa ainda
estar ligeiramente abaixo do
centro, ela preocupa o BC justamente porque as margens
para acomodar novos choques
de preços já foram utilizadas
no passado, enquanto as pressões inflacionarias não estão
afastadas. Com isso, qualquer
oscilação pode levar a inflação
para o piso superior da banda
(entre 4,5% e 6,5%).
Ao contrário do que aconteceu na virada de 2006 para
2007, o IPCA neste início de
ano não vem de um patamar
baixo, dando espaço para administrar altas de preços que fogem ao controle do BC, como
aconteceu com os alimentos
recentemente. Os diretores
acreditam que a pressão dos
chamados preços livres, onde
estão incluídos alimentos e
serviços, tende a puxar a inflação para cima. Estes últimos
não respondem facilmente ao
aumento da oferta e merecem
atenção especial num período
de aquecimento da economia.
Outro ponto ressaltado nos
debates do governo é que a economia também não está mais
crescendo num ritmo abaixo
do seu potencial, como estava
entre 2006 e 2007. Os últimos
dados apontam elevação do
PIB acima de 5%, nível considerado crítico para a atual capacidade produtiva brasileira.
Se em 2006 e 2007 havia capacidade ociosa para ocupar
nas indústrias, o que ajuda a
controlar a inflação, agora o
que assusta os diretores do BC
é que, enquanto o consumo aumenta imediatamente, os investimentos, que também têm
subido com força, demoram
mais tempo para surtir efeito.
Câmbio
Além disso, a taxa de câmbio
deverá diminuir a sua contribuição para puxar a inflação para baixo. No ano passado, a valorização do real diante do dólar passou dos 16%. Neste ano,
o BC acredita que ainda haverá
apreciação, porém menor.
O ingresso de recursos externos para investimentos e aplicações financeiras deverá se
manter. Já as exportações, outra fonte de dinheiro estrangeiro, deverão ter impacto menor.
Por isso, a real contribuição da
taxa de câmbio "ainda é incerta", na avaliação do governo.
O cenário deu força à postura
conservadora do diretor de Política Econômica, Mário Mesquita, dentro do BC. Isolado
nas discussões do Copom em
boa parte de 2007 por defender
cautela nos juros, agora conta
com apoio dos colegas diante
dos desdobramentos na economia, sobretudo com a alta do
crescimento puxada pelo crédito para consumo.
No entanto, não se sabe se isso será suficiente para garantir
uma alta na taxa de juros, caso o
BC avalie que é o caminho a seguir. O presidente Lula recomendou à área econômica que
calibre muito bem essas variáveis porque não quer perder a
grande conquista nesse setor
-crescimento com inflação
baixa-, mas também não quer
perder capital político elevando juros no meio das eleições.
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