São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2008

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Sem o cenário favorável, BC reforça atuação conservadora

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ciente de que não poderá contar com fatores importantes que ajudaram a manter a inflação abaixo do centro da meta de 4,5% nos últimos anos, o Banco Central inicia 2008 pressionado pela projeção de um IPCA (índice-referência do sistema de metas) de 4,3% e reforça o discurso conservador.
Segundo a Folha apurou, a avaliação dos diretores é que, ao contrário do que aconteceu no ano passado, as expectativas de inflação coladas no centro da meta podem, ao menor deslize, subir facilmente para o intervalo superior da banda de inflação com o atual ritmo de crescimento do país.
Isso poderia obrigar o Copom (Comitê de Política Monetária) a segurar a expansão do nível de atividade, aumentando os juros num ano de eleições municipais. Essa é a hipótese que o BC tentará evitar.
Pelo sistema adotado no Brasil, a meta de inflação é de 4,5% ao ano, mas pode variar entre 2,5% e 6,5%. Em 2006, a inflação encerrou em 3,14%. Em 2007, subiu para 4,46%. No último relatório do BC, a projeção é de 4,3% em 2008.
Apesar de a estimativa ainda estar ligeiramente abaixo do centro, ela preocupa o BC justamente porque as margens para acomodar novos choques de preços já foram utilizadas no passado, enquanto as pressões inflacionarias não estão afastadas. Com isso, qualquer oscilação pode levar a inflação para o piso superior da banda (entre 4,5% e 6,5%).
Ao contrário do que aconteceu na virada de 2006 para 2007, o IPCA neste início de ano não vem de um patamar baixo, dando espaço para administrar altas de preços que fogem ao controle do BC, como aconteceu com os alimentos recentemente. Os diretores acreditam que a pressão dos chamados preços livres, onde estão incluídos alimentos e serviços, tende a puxar a inflação para cima. Estes últimos não respondem facilmente ao aumento da oferta e merecem atenção especial num período de aquecimento da economia.
Outro ponto ressaltado nos debates do governo é que a economia também não está mais crescendo num ritmo abaixo do seu potencial, como estava entre 2006 e 2007. Os últimos dados apontam elevação do PIB acima de 5%, nível considerado crítico para a atual capacidade produtiva brasileira.
Se em 2006 e 2007 havia capacidade ociosa para ocupar nas indústrias, o que ajuda a controlar a inflação, agora o que assusta os diretores do BC é que, enquanto o consumo aumenta imediatamente, os investimentos, que também têm subido com força, demoram mais tempo para surtir efeito.

Câmbio
Além disso, a taxa de câmbio deverá diminuir a sua contribuição para puxar a inflação para baixo. No ano passado, a valorização do real diante do dólar passou dos 16%. Neste ano, o BC acredita que ainda haverá apreciação, porém menor.
O ingresso de recursos externos para investimentos e aplicações financeiras deverá se manter. Já as exportações, outra fonte de dinheiro estrangeiro, deverão ter impacto menor. Por isso, a real contribuição da taxa de câmbio "ainda é incerta", na avaliação do governo.
O cenário deu força à postura conservadora do diretor de Política Econômica, Mário Mesquita, dentro do BC. Isolado nas discussões do Copom em boa parte de 2007 por defender cautela nos juros, agora conta com apoio dos colegas diante dos desdobramentos na economia, sobretudo com a alta do crescimento puxada pelo crédito para consumo.
No entanto, não se sabe se isso será suficiente para garantir uma alta na taxa de juros, caso o BC avalie que é o caminho a seguir. O presidente Lula recomendou à área econômica que calibre muito bem essas variáveis porque não quer perder a grande conquista nesse setor -crescimento com inflação baixa-, mas também não quer perder capital político elevando juros no meio das eleições.


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