São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC usará reservas para refinanciar dívida externa de empresas

Mecanismo deve ser anunciado até o fim do mês e ajudará empresas que enfrentam a escassez de crédito; cerca de 4.000 companhias poderão se beneficiar

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem em Basileia, na Suíça, que o governo anunciará até o fim deste mês as regras de operação de uma nova linha de crédito para rolagem de dívida internacional contraída por empresas brasileiras.
A medida reduz a pressão sobre as companhias nacionais que, no atual cenário de restrição internacional de crédito, encontram dificuldades em renovar linhas de financiamento.
Muitos bancos estrangeiros, em razão da crise de liquidez, estão se negando a repactuar os empréstimos concedidos às empresas e exigindo a liquidação da operação. Esse movimento compromete o caixa das empresas e pode criar desequilíbrios nas companhias.
A previsão do BC é que a linha de crédito especial auxilie cerca de 4.000 empresas brasileiras que possuem dívida em moeda estrangeira com vencimentos nos próximos meses.
O mandatário do BC brasileiro iniciou ontem a participação na reunião bimestral do BIS (Banco para Compensações Internacionais, na sigla em inglês, órgão que reúne os principais bancos centrais mundiais).
Serão US$ 20 bilhões, que sairão das reservas internacionais do Brasil. Elas chegavam a US$ 205 bilhões na última quinta-feira, segundo dados do BC. A previsão do governo é que o mecanismo de funcionamento dessa linha emergencial para o setor privado seja semelhante ao já adotado pelo Banco Central na oferta de crédito para ACC (Adiantamento sobre Contratos de Câmbio).
A crise financeira global restringiu as linhas disponíveis para os bancos brasileiros, o que obrigou o governo a oferecer dólares para garantir o fluxo dessas operações e manter as exportações do país. O BC já fez vários leilões de dólares das reservas brasileiras para os bancos comerciais.
Pelas regras, as instituições bancárias que captam esses recursos ficam com o compromisso de ofertar linhas de ACCs para as empresas. A garantia da operação é o próprio contrato entre os bancos e as empresas. Os recursos não emprestados voltam para os cofres do Banco Central.
O governo ainda discute a modelagem da linha para a rolagem, sobretudo quais as garantias que serão exigidas pelo Banco Central. A Folha apurou que o repasse de recursos das reservas para os bancos privados será semelhante ao adotado nas operações de financiamento de ACCs, via leilão.

Agenda
O presidente do BC participa hoje, em Basileia, de dois encontros. Pela manhã, Meirelles participa de uma reunião na qual irá discutir com outras lideranças de bancos centrais o atual estágio da crise financeira global. Mais tarde, ele falará num encontro de 40 presidentes de autoridades monetárias sobre os fundamentos da economia brasileira.
Meirelles fará uma explanação das medidas adotadas pelo país para o enfrentamento da crise, entre as quais a redução dos compulsórios sobre depósitos à vista, o volume atual e o uso das reservas brasileiras para ampliar a liquidez nos mercados de crédito e as medidas de controle da inflação.
A agenda do presidente do BC nesta semana é internacional. Na quarta, Meirelles fará uma palestra a investidores em Nova York, em encontro organizado pela Câmara de Comércio Brasil-EUA. Na quinta, estará em Cancún, no México, para um encontro com executivos latino-americanos do banco Santander. Ele termina o giro em Miami, para uma reunião com investidores na sexta.


Texto Anterior: "Vilão" em 2008, fertilizante terá custo menor
Próximo Texto: Luiz Carlos Bresser Pereira: Maria, João e a crise
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.