São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

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Para Franco, Brasil deixou de ser esquisito para ser normal

DA REPORTAGEM LOCAL

Defensor do regime de bandas cambiais, o ex-BC Gustavo Franco afirma que tinha claro que o real deveria flutuar. Hoje na gestora Rio Bravo, ele diz que a mudança tinha de ser feita com juro alto, diferentemente do que fez Chico Lopes.

 

FOLHA - O câmbio tinha ruído?
GUSTAVO FRANCO
- Não se imaginava que aquele regime seria para o resto da vida. Estávamos num momento de transição. A gente começou o real com regime de flutuação. As pessoas achavam que o dólar cair era uma farsa. Depois, no governo Lula, o câmbio caiu durante quatro anos seguidos. Em retrospecto, é muito parecido com o episódio de abundância de divisas e apreciação cambial que tivemos entre 1994 e 1998.

FOLHA - Qual a preocupação?
FRANCO
- Em 1998, a crise da Rússia foi tão inesperada quanto a atual. A crise da Ásia tinha sido um aviso. Nossa alternativa foi o FMI e nos preparar adiante para mudar o regime cambial. Nem o FMI nem nós tínhamos o consenso do que fazer. Eu diria que a tendência era a gente flutuar a moeda, mas todo mundo tinha muito medo do que poderia acontecer. A ideia do professor Francisco Lopes, que foi colocada em prática, era diferente. Na época, o Chico convenceu [o FHC] de que era possível fazer a mudança sem perder o controle da desvalorização e aumentar as taxas de juros.

FOLHA - A mudança foi ruim?
FRANCO
- Abandonamos um sistema que estava fraquejando e que teria de ser mudado mais dia menos dia para um muito pior, que durou 48 horas e foi um fiasco retumbante.

FOLHA - Como a crise foi domada?
FRANCO
- Para flutuar, era ponto pacífico que a gente tinha que aumentar os juros. Armínio Fraga fez política monetária xiita, metas de inflação.

FOLHA - Qual a maior conquista?
FRANCO
- A conquista foi que deixamos de ser um país esquisito, heterodoxo, e passamos a ser normal. Temos os problemas que todos têm, tomamos as decisões que todo mundo toma, com erros e acertos. Não é pouco para quem viveu com 45% ao mês de inflação, pacotes e essas maluquices todas.


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