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Para Franco, Brasil deixou de ser esquisito para ser normal
DA REPORTAGEM LOCAL
Defensor do regime de bandas cambiais, o ex-BC Gustavo
Franco afirma que tinha claro
que o real deveria flutuar. Hoje
na gestora Rio Bravo, ele diz
que a mudança tinha de ser feita com juro alto, diferentemente do que fez Chico Lopes.
FOLHA - O câmbio tinha ruído?
GUSTAVO FRANCO - Não se imaginava que aquele regime seria
para o resto da vida. Estávamos
num momento de transição. A
gente começou o real com regime de flutuação. As pessoas
achavam que o dólar cair era
uma farsa. Depois, no governo
Lula, o câmbio caiu durante
quatro anos seguidos. Em retrospecto, é muito parecido
com o episódio de abundância
de divisas e apreciação cambial
que tivemos entre 1994 e 1998.
FOLHA - Qual a preocupação?
FRANCO - Em 1998, a crise da
Rússia foi tão inesperada quanto a atual. A crise da Ásia tinha
sido um aviso. Nossa alternativa foi o FMI e nos preparar
adiante para mudar o regime
cambial. Nem o FMI nem nós
tínhamos o consenso do que fazer. Eu diria que a tendência
era a gente flutuar a moeda,
mas todo mundo tinha muito
medo do que poderia acontecer. A ideia do professor Francisco Lopes, que foi colocada
em prática, era diferente. Na
época, o Chico convenceu [o
FHC] de que era possível fazer
a mudança sem perder o controle da desvalorização e aumentar as taxas de juros.
FOLHA - A mudança foi ruim?
FRANCO - Abandonamos um
sistema que estava fraquejando
e que teria de ser mudado mais
dia menos dia para um muito
pior, que durou 48 horas e foi
um fiasco retumbante.
FOLHA - Como a crise foi domada?
FRANCO - Para flutuar, era ponto pacífico que a gente tinha
que aumentar os juros. Armínio Fraga fez política monetária xiita, metas de inflação.
FOLHA - Qual a maior conquista?
FRANCO - A conquista foi que
deixamos de ser um país esquisito, heterodoxo, e passamos a
ser normal. Temos os problemas que todos têm, tomamos
as decisões que todo mundo toma, com erros e acertos. Não é
pouco para quem viveu com
45% ao mês de inflação, pacotes e essas maluquices todas.
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