São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

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Mudança não ocorreria sem a banda diagonal, diz Chico Lopes

DA REPORTAGEM LOCAL

Presidente do BC que pilotou a flutuação do real, Francisco Lopes afirma que não houve um planejamento quando decidiram abolir a banda cambial. Preso por desacato pela CPI do caso Marka, Lopes afirma que pagou um preço pessoal alto para garantir o funcionamento da proteção cambial na BM&F.

 

FOLHA - Qual o maior temor?
FRANCISCO LOPES
- A ideia de deixar o câmbio flutuar era assustadora. Na Indonésia, a taxa de câmbio subiu oito vezes, a economia entrou em recessão, caiu o governo, houve crise política.

FOLHA - Havia alternativa?
LOPES
- A gente poderia ter segurado mais seis meses tranquilamente. A questão era se daria para sair sem trauma. Havia um caso que se conhecia, da banda diagonal de Israel.

FOLHA - Como foi a decisão?
LOPES
- Se eu tivesse proposto [a FHC] um plano de flutuação, não tinha sido feito nada. O problema foi na hora em que começou a mexer. O mercado viu: eles vão para a flutuação.

FOLHA - A ideia não era flutuar?
LOPES
- Não era a minha ideia nem a do FHC. Eu disse a ele que, se desse errado, iríamos para a flutuação. Disse que nós não iríamos recorrer a controle cambial, que seria a alternativa. Achei bom quando houve a decisão de flutuar. Foi uma coisa na hora, de momento, não houve uma decisão: "amanhã vamos flutuar". Impedimos a [Maria do] Socorro, que era gerente de câmbio, de operar. Ela não operou e flutuou.

FOLHA - Quais condições impediram um desastre maior?
LOPES
- Uma parte importante foi que o governo não mudou as regras. Em 1982, o governo botou um imposto e não pagou [o ganho cambial]. Custou 10% do PIB, mas foi fundamental.

FOLHA - E o socorro ao Marka?
LOPES
- Se não tivéssemos feito, ia desmontar a BM&F. Senti-me agredido pela CPI, que foi política. Dava vontade de dizer: "não precisava ter feito, deveria ter ido para casa". Teria ficado muito bem. Estaria no conselho de várias empresas, trabalhando em banco. Meus amigos economistas todos ficaram ricos. Quando a gente não é político, faz as coisas por motivação e não pensa nas consequências.


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