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Mudança não ocorreria sem a banda diagonal, diz Chico Lopes
DA REPORTAGEM LOCAL
Presidente do BC que pilotou
a flutuação do real, Francisco
Lopes afirma que não houve
um planejamento quando decidiram abolir a banda cambial.
Preso por desacato pela CPI do
caso Marka, Lopes afirma que
pagou um preço pessoal alto
para garantir o funcionamento
da proteção cambial na BM&F.
FOLHA - Qual o maior temor?
FRANCISCO LOPES - A ideia de deixar o câmbio flutuar era assustadora. Na Indonésia, a taxa de
câmbio subiu oito vezes, a economia entrou em recessão, caiu
o governo, houve crise política.
FOLHA - Havia alternativa?
LOPES - A gente poderia ter segurado mais seis meses tranquilamente. A questão era se
daria para sair sem trauma. Havia um caso que se conhecia, da
banda diagonal de Israel.
FOLHA - Como foi a decisão?
LOPES - Se eu tivesse proposto
[a FHC] um plano de flutuação,
não tinha sido feito nada. O
problema foi na hora em que
começou a mexer. O mercado
viu: eles vão para a flutuação.
FOLHA - A ideia não era flutuar?
LOPES - Não era a minha ideia
nem a do FHC. Eu disse a ele
que, se desse errado, iríamos
para a flutuação. Disse que nós
não iríamos recorrer a controle
cambial, que seria a alternativa.
Achei bom quando houve a decisão de flutuar. Foi uma coisa
na hora, de momento, não houve uma decisão: "amanhã vamos flutuar". Impedimos a
[Maria do] Socorro, que era gerente de câmbio, de operar. Ela
não operou e flutuou.
FOLHA - Quais condições impediram um desastre maior?
LOPES - Uma parte importante
foi que o governo não mudou as
regras. Em 1982, o governo botou um imposto e não pagou [o
ganho cambial]. Custou 10% do
PIB, mas foi fundamental.
FOLHA - E o socorro ao Marka?
LOPES - Se não tivéssemos feito, ia desmontar a BM&F. Senti-me agredido pela CPI, que foi
política. Dava vontade de dizer:
"não precisava ter feito, deveria
ter ido para casa". Teria ficado
muito bem. Estaria no conselho de várias empresas, trabalhando em banco. Meus amigos
economistas todos ficaram ricos. Quando a gente não é político, faz as coisas por motivação
e não pensa nas consequências.
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