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ANÁLISE
Safra de 100 milhões de toneladas está ameaçada
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Em 1984, a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias
de Óleos Vegetais) coordenou um
congresso que visava aumentar a
produção agrícola em pelo menos
7% ao ano. Participaram da realização do congresso 55 entidades
ligadas ao setor agrícola: cooperativas, indústrias de sementes, federações de agricultura, secretarias estaduais de agricultura e outras.
O objetivo principal era atingir
100 milhões de toneladas na produção de grãos e gerar superávit
comercial no setor de, pelo menos, US$ 5 bilhões em curto espaço de tempo. A produção daquele
período patinava na casa dos 50
milhões de toneladas havia uma
década.
O objetivo não foi concretizado
a curto prazo, mas, 18 anos depois, o país teve a primeira possibilidade concreta de atingir os 100
milhões de toneladas.
A Conab (Companhia Nacional
de Abastecimento) trabalhava,
em dezembro passado, com 101
milhões de toneladas. O sonho,
no entanto, pode não se realizar
neste ano.
Os dados divulgados pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), posteriores aos da
Conab, já indicavam queda de
0,6% na produção de algodão, arroz, feijão, milho e soja, produtos
que somaram 86% dos 98 milhões
de toneladas de 2001.
Estiagem prejudica
No mês passado, aumentaram
ainda mais os temores de que a
safra não deverá atingir os 100 milhões. A estiagem que perdurou
por várias semanas no Rio Grande do Sul vai derrubar a produção
de grãos em pelo menos 2,1 milhões de toneladas neste ano.
A produtividade em outros Estados é boa, e parte da perda do
Rio Grande do Sul poderá ser
compensada. O milho, no entanto, será o grande vilão da perda de
volume na safra. O preço baixo do
produto não atraiu o produtor,
que optou pela soja. Cada tonelada a mais de soja produzida, no
entanto, significa duas de milho a
menos.
O plantio de milho de inverno
(a safrinha) será o ponto decisivo
do volume total da safra deste
ano. A Conab prevê 8 milhões de
toneladas, volume que só será
conseguido com condições ideais
de plantio e de colheita. Essas
condições poderão não ocorrer.
O Paraná, maior produtor de
milho de inverno, está com a safra
de soja atrasada. Esse atraso retarda o plantio do milho e torna a
cultura do produto mais suscetível a geadas.
Além disso, o Banco do Brasil
reduziu o prazo de garantia para a
safra de inverno. Quem plantar
após 15 de março no Paraná não
terá as garantias do Proagro ou do
seguro agrícola. Muitos produtores vão optar pelo trigo.
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