São Paulo, terça-feira, 12 de fevereiro de 2002

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ANÁLISE

Safra de 100 milhões de toneladas está ameaçada

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Em 1984, a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) coordenou um congresso que visava aumentar a produção agrícola em pelo menos 7% ao ano. Participaram da realização do congresso 55 entidades ligadas ao setor agrícola: cooperativas, indústrias de sementes, federações de agricultura, secretarias estaduais de agricultura e outras.
O objetivo principal era atingir 100 milhões de toneladas na produção de grãos e gerar superávit comercial no setor de, pelo menos, US$ 5 bilhões em curto espaço de tempo. A produção daquele período patinava na casa dos 50 milhões de toneladas havia uma década.
O objetivo não foi concretizado a curto prazo, mas, 18 anos depois, o país teve a primeira possibilidade concreta de atingir os 100 milhões de toneladas.
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) trabalhava, em dezembro passado, com 101 milhões de toneladas. O sonho, no entanto, pode não se realizar neste ano.
Os dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), posteriores aos da Conab, já indicavam queda de 0,6% na produção de algodão, arroz, feijão, milho e soja, produtos que somaram 86% dos 98 milhões de toneladas de 2001.

Estiagem prejudica
No mês passado, aumentaram ainda mais os temores de que a safra não deverá atingir os 100 milhões. A estiagem que perdurou por várias semanas no Rio Grande do Sul vai derrubar a produção de grãos em pelo menos 2,1 milhões de toneladas neste ano.
A produtividade em outros Estados é boa, e parte da perda do Rio Grande do Sul poderá ser compensada. O milho, no entanto, será o grande vilão da perda de volume na safra. O preço baixo do produto não atraiu o produtor, que optou pela soja. Cada tonelada a mais de soja produzida, no entanto, significa duas de milho a menos.
O plantio de milho de inverno (a safrinha) será o ponto decisivo do volume total da safra deste ano. A Conab prevê 8 milhões de toneladas, volume que só será conseguido com condições ideais de plantio e de colheita. Essas condições poderão não ocorrer.
O Paraná, maior produtor de milho de inverno, está com a safra de soja atrasada. Esse atraso retarda o plantio do milho e torna a cultura do produto mais suscetível a geadas.
Além disso, o Banco do Brasil reduziu o prazo de garantia para a safra de inverno. Quem plantar após 15 de março no Paraná não terá as garantias do Proagro ou do seguro agrícola. Muitos produtores vão optar pelo trigo.


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