São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

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REFORÇO

Alimentos seguram índices no começo do ano por causa da oferta maior, dos preços das commodities em queda e do real forte

"Âncora verde" volta e ajuda a conter inflação

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A "âncora verde" está de volta. Importantes na consolidação da queda da inflação no início do Plano Real, os alimentos voltam a segurar os índices inflacionários neste início de ano.
Dados divulgados ontem pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) indicam que os alimentos tiveram deflação de 0,13% na primeira quadrissemana deste mês, a maior queda desde 1995 nos meses de fevereiro.
Os alimentos têm reajustes inferiores aos da inflação média desde 2003, mas, neste ano, poderão pressionar ainda menos e provocar os mesmos efeitos da chamada "âncora verde" do início do Real. Os alimentos receberam essa denominação no início do Plano Real porque tiveram fortes quedas de preços e inibiram a alta inflacionária naquele período.
Vários fatores colaboram para o comportamento de queda dos agrícolas neste ano: oferta maior de produtos, recuo de preços no mercado externo, valorização do real em relação ao dólar e até a rígida política monetária do Banco Central, que eleva os juros, diminui o ritmo da economia e provoca retração na demanda.
Paulo Picchetti, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, diz que a demanda fraca é um dos principais componentes dessa queda. Essa situação apresenta dois claros sinais: alimentos industrializados e semi-elaborados.
No caso dos industrializados, os preços mantêm-se estáveis, e as indústrias não conseguem repassar aumentos sem perder vendas. Entre os alimentos semi-elaborados, com queda de 1,97% nos últimos 30 dias, as carnes mostram forte redução nos preços: a bovina teve queda de até 4% em alguns cortes, a de frango caiu 6%.
Além da demanda menor, a queda nos preços dos alimentos industrializados se deve também ao recuo dos preços internacionais. O óleo de soja, por exemplo, caiu 11% nos últimos 12 meses nos supermercados paulistas. Nesse mesmo período, a soja teve recuo de 38% em Chicago, onde está a principal Bolsa de negociação mundial da oleaginosa.
A queda nos preços no mercado externo atingiu também o trigo, que recuou 23% no período na mesma Bolsa. Produção maior no Brasil e redução nos custos de importações fizeram o preço da farinha de trigo subir só 2% nos últimos 12 meses. Nesse período, a inflação média foi de 6,5%. A tendência de queda do preço desse produto deve aumentar com a retirada, ontem, pelo governo paulista, do ICMS sobre o trigo, a farinha e o pãozinho.
O câmbio também está a favor da inflação. A valorização do real torna os alimentos brasileiros mais caros no mercado externo, o que dificulta as exportações e aumenta a oferta interna. Um deles é o óleo de soja. De outro lado, o real valorizado diminui o preço dos importados, como o trigo.
A volta da "âncora verde" pode até auxiliar o Banco Central a arrefecer a política de alta das taxas de juros. O problema maior da autoridade monetária, no entanto, não são os alimentos, mas as tarifas públicas.
O preço dos alimentos sobe ciclicamente em determinados períodos do ano, o que gera pressão na inflação. Mas, em seguida, recua, o que diminui a pressão gerada anteriormente. Isso não ocorre com as tarifas públicas. São aumentos que vêm e permanecem, segundo Picchetti.
O Brasil vai continuar neste ano com boa participação no mercado internacional de commodities, mas a elevada produção deve segurar os preços internos.
Um desses itens são as carnes. O Brasil assumiu a posição de líder no volume mundial exportado, mas os preços internos continuam em queda.
Além da boa oferta de animais, uma forte queda-de-braço entre pecuaristas e frigoríficos, principalmente os exportadores, continua derrubando os preços.
Esse desempenho dos alimentos é considerado bom para os consumidores, mas ruim para os produtores, que devem ter, neste ano, uma das menores receitas desde 2001.

Índices
A Fipe divulgou ontem que a inflação foi de 0,52% na primeira quadrissemana deste mês. Para fevereiro, a previsão é de 0,40%. Em janeiro, o índice chegou a 0,56%. Os alimentos em queda contribuíram para redução.
Já no IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), os preços ficaram praticamente estáveis na primeira prévia de fevereiro, divulgada ontem pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). A inflação medida entre os dias 21 e 30 de janeiro ficou em 0,18%, um aumento de 0,02 ponto percentual em relação à prévia do mês anterior.


Colaborou a Sucursal do Rio

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