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REFORÇO
Alimentos seguram índices no começo do ano por causa da oferta maior, dos preços das commodities em queda e do real forte
"Âncora verde" volta e ajuda a conter inflação
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A "âncora verde" está de volta.
Importantes na consolidação da
queda da inflação no início do
Plano Real, os alimentos voltam a
segurar os índices inflacionários
neste início de ano.
Dados divulgados ontem pela
Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) indicam que
os alimentos tiveram deflação de
0,13% na primeira quadrissemana deste mês, a maior queda desde 1995 nos meses de fevereiro.
Os alimentos têm reajustes inferiores aos da inflação média desde
2003, mas, neste ano, poderão
pressionar ainda menos e provocar os mesmos efeitos da chamada "âncora verde" do início do
Real. Os alimentos receberam essa denominação no início do Plano Real porque tiveram fortes
quedas de preços e inibiram a alta
inflacionária naquele período.
Vários fatores colaboram para o
comportamento de queda dos
agrícolas neste ano: oferta maior
de produtos, recuo de preços no
mercado externo, valorização do
real em relação ao dólar e até a rígida política monetária do Banco
Central, que eleva os juros, diminui o ritmo da economia e provoca retração na demanda.
Paulo Picchetti, coordenador
do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, diz que a demanda
fraca é um dos principais componentes dessa queda. Essa situação
apresenta dois claros sinais: alimentos industrializados e semi-elaborados.
No caso dos industrializados, os
preços mantêm-se estáveis, e as
indústrias não conseguem repassar aumentos sem perder vendas.
Entre os alimentos semi-elaborados, com queda de 1,97% nos últimos 30 dias, as carnes mostram
forte redução nos preços: a bovina
teve queda de até 4% em alguns
cortes, a de frango caiu 6%.
Além da demanda menor, a
queda nos preços dos alimentos
industrializados se deve também
ao recuo dos preços internacionais. O óleo de soja, por exemplo,
caiu 11% nos últimos 12 meses nos
supermercados paulistas. Nesse
mesmo período, a soja teve recuo
de 38% em Chicago, onde está a
principal Bolsa de negociação
mundial da oleaginosa.
A queda nos preços no mercado
externo atingiu também o trigo,
que recuou 23% no período na
mesma Bolsa. Produção maior no
Brasil e redução nos custos de importações fizeram o preço da farinha de trigo subir só 2% nos últimos 12 meses. Nesse período, a
inflação média foi de 6,5%. A tendência de queda do preço desse
produto deve aumentar com a retirada, ontem, pelo governo paulista, do ICMS sobre o trigo, a farinha e o pãozinho.
O câmbio também está a favor
da inflação. A valorização do real
torna os alimentos brasileiros
mais caros no mercado externo, o
que dificulta as exportações e aumenta a oferta interna. Um deles é
o óleo de soja. De outro lado, o
real valorizado diminui o preço
dos importados, como o trigo.
A volta da "âncora verde" pode
até auxiliar o Banco Central a arrefecer a política de alta das taxas
de juros. O problema maior da
autoridade monetária, no entanto, não são os alimentos, mas as
tarifas públicas.
O preço dos alimentos sobe ciclicamente em determinados períodos do ano, o que gera pressão
na inflação. Mas, em seguida, recua, o que diminui a pressão gerada anteriormente. Isso não ocorre
com as tarifas públicas. São aumentos que vêm e permanecem,
segundo Picchetti.
O Brasil vai continuar neste ano
com boa participação no mercado internacional de commodities,
mas a elevada produção deve segurar os preços internos.
Um desses itens são as carnes. O
Brasil assumiu a posição de líder
no volume mundial exportado,
mas os preços internos continuam em queda.
Além da boa oferta de animais,
uma forte queda-de-braço entre
pecuaristas e frigoríficos, principalmente os exportadores, continua derrubando os preços.
Esse desempenho dos alimentos é considerado bom para os
consumidores, mas ruim para os
produtores, que devem ter, neste
ano, uma das menores receitas
desde 2001.
Índices
A Fipe divulgou ontem que a inflação foi de 0,52% na primeira
quadrissemana deste mês. Para
fevereiro, a previsão é de 0,40%.
Em janeiro, o índice chegou a
0,56%. Os alimentos em queda
contribuíram para redução.
Já no IGP-M (Índice Geral de
Preços do Mercado), os preços ficaram praticamente estáveis na
primeira prévia de fevereiro, divulgada ontem pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). A inflação
medida entre os dias 21 e 30 de janeiro ficou em 0,18%, um aumento de 0,02 ponto percentual em relação à prévia do mês anterior.
Colaborou a Sucursal do Rio
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