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RETOMADA
Indicadores como vendas e capacidade instalada tiveram melhor desempenho desde 92, mas entidade já aponta desaceleração
CNI confirma recordes da indústria em 2004
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A CNI (Confederação Nacional
da Indústria) confirmou dados
divulgados anteontem pelo IBGE
e também apontou desempenho
recorde da indústria em 2004.
Apesar do bom resultado, a entidade avalia que as seguidas altas
na taxa de juros e a valorização do
real em relação ao dólar ameaçam
o crescimento em 2005.
No acumulado do ano passado,
houve aumento recorde em quatro dos cinco indicadores medidos: vendas, pessoal empregado,
horas trabalhadas e capacidade
instalada. O crescimento só não
foi o maior de toda a série no indicador que mede o crescimento
dos salários. A pesquisa é feita
desde 1992. O maior aumento
acumulado em um ano nos salários pagos pela indústria aconteceu em 1995 (9,87%).
Segundo os números do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), a indústria teve, em
2004, o maior crescimento dos últimos 18 anos: 8,3%, a maior expansão anual desde 1986.
Apesar do crescimento, a CNI
vê indícios de que já está havendo
desaceleração desde o final do
ano passado e que o crescimento
possa ser menor ou até mesmo
ser invertido neste ano. Os motivos são as recentes altas na taxa de
juros e a valorização do real. Os
juros altos afetam a demanda por
produtos, a capacidade de financiamento da indústria e a decisão
de investimento. O dólar fraco reduz as receitas que a indústria tem
com as exportações -as empresas recebem menos reais por cada
dólar exportado.
As vendas da indústria aumentaram 14,29% em termos reais
(acima da inflação) no ano passado em relação a 2003. O pico de
crescimento, no entanto, aconteceu no primeiro semestre. No
acumulado entre janeiro e agosto
de 2004, o crescimento das vendas
foi de 17,19% em relação ao mesmo período do ano anterior. A
partir daí, segundo a CNI, o ritmo
do crescimento só diminuiu, baixando a média do ano.
Juros
Para a CNI, as altas na taxa de
juros, iniciada em setembro de
2004, são a causa da desaceleração. "A indústria já dá sinais de
que está ressentindo o novo aperto na política monetária, que
ameaça a continuidade do ritmo
de crescimento para o ano de
2005", avalia a confederação, no
texto da pesquisa.
De acordo com Renato da Fonseca, economista da CNI, a alta
dos juros pode levar não só à desaceleração como à inversão do
processo de crescimento. "Entra-se no risco de não só desacelerar a
economia, como já está acontecendo, mas de inverter o processo
de crescimento", disse.
Segundo Fonseca, os juros altos
servem para combater a "inflação
de demanda" (causada pela falta
de produtos no mercado ou pelo
excesso na capacidade de compra
da população).
Como a inflação, segundo ele,
não é de demanda, e sim causada
por preços administrados (tarifas
públicas indexadas por contrato,
como as de energia e telefonia,
por exemplo), os juros precisam
subir além do necessário para ter
o efeito desejado pelo Banco Central. "O remédio acaba fazendo
com que a situação do paciente
piore", disse.
Fonseca criticou a proposta de
atrelar a TJLP (Taxa de Juros de
Longo Prazo) à Selic (taxa de juros do Banco Central), cuja tendência é de alta neste mês. Segundo ele, a TJLP é usada para financiamentos de longo prazo e, caso
fique atrelada à Selic, pode reduzir os investimentos na produção.
Consumo interno
Na opinião de Fonseca, a recuperação no consumo doméstico
no ano passado foi conseqüência
do aumento de renda obtido pelos trabalhadores.
Segundo ele, a capacidade interna de consumo é que pode sustentar, a longo prazo, o crescimento da economia, porque 60%
da produção é destinada para o
mercado doméstico.
"Se esse movimento não se concretizar e se fortalecer em 2005,
volta a velha história da economia
brasileira: cresce muito em um
ano e cresce pouco ou cai no seguinte. Aí, quando soma a década, descobre que cresceu quase
nada", afirmou.
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