São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

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RETOMADA

Indicadores como vendas e capacidade instalada tiveram melhor desempenho desde 92, mas entidade já aponta desaceleração

CNI confirma recordes da indústria em 2004

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) confirmou dados divulgados anteontem pelo IBGE e também apontou desempenho recorde da indústria em 2004. Apesar do bom resultado, a entidade avalia que as seguidas altas na taxa de juros e a valorização do real em relação ao dólar ameaçam o crescimento em 2005.
No acumulado do ano passado, houve aumento recorde em quatro dos cinco indicadores medidos: vendas, pessoal empregado, horas trabalhadas e capacidade instalada. O crescimento só não foi o maior de toda a série no indicador que mede o crescimento dos salários. A pesquisa é feita desde 1992. O maior aumento acumulado em um ano nos salários pagos pela indústria aconteceu em 1995 (9,87%).
Segundo os números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a indústria teve, em 2004, o maior crescimento dos últimos 18 anos: 8,3%, a maior expansão anual desde 1986.
Apesar do crescimento, a CNI vê indícios de que já está havendo desaceleração desde o final do ano passado e que o crescimento possa ser menor ou até mesmo ser invertido neste ano. Os motivos são as recentes altas na taxa de juros e a valorização do real. Os juros altos afetam a demanda por produtos, a capacidade de financiamento da indústria e a decisão de investimento. O dólar fraco reduz as receitas que a indústria tem com as exportações -as empresas recebem menos reais por cada dólar exportado.
As vendas da indústria aumentaram 14,29% em termos reais (acima da inflação) no ano passado em relação a 2003. O pico de crescimento, no entanto, aconteceu no primeiro semestre. No acumulado entre janeiro e agosto de 2004, o crescimento das vendas foi de 17,19% em relação ao mesmo período do ano anterior. A partir daí, segundo a CNI, o ritmo do crescimento só diminuiu, baixando a média do ano.

Juros
Para a CNI, as altas na taxa de juros, iniciada em setembro de 2004, são a causa da desaceleração. "A indústria já dá sinais de que está ressentindo o novo aperto na política monetária, que ameaça a continuidade do ritmo de crescimento para o ano de 2005", avalia a confederação, no texto da pesquisa.
De acordo com Renato da Fonseca, economista da CNI, a alta dos juros pode levar não só à desaceleração como à inversão do processo de crescimento. "Entra-se no risco de não só desacelerar a economia, como já está acontecendo, mas de inverter o processo de crescimento", disse.
Segundo Fonseca, os juros altos servem para combater a "inflação de demanda" (causada pela falta de produtos no mercado ou pelo excesso na capacidade de compra da população).
Como a inflação, segundo ele, não é de demanda, e sim causada por preços administrados (tarifas públicas indexadas por contrato, como as de energia e telefonia, por exemplo), os juros precisam subir além do necessário para ter o efeito desejado pelo Banco Central. "O remédio acaba fazendo com que a situação do paciente piore", disse.
Fonseca criticou a proposta de atrelar a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) à Selic (taxa de juros do Banco Central), cuja tendência é de alta neste mês. Segundo ele, a TJLP é usada para financiamentos de longo prazo e, caso fique atrelada à Selic, pode reduzir os investimentos na produção.

Consumo interno
Na opinião de Fonseca, a recuperação no consumo doméstico no ano passado foi conseqüência do aumento de renda obtido pelos trabalhadores.
Segundo ele, a capacidade interna de consumo é que pode sustentar, a longo prazo, o crescimento da economia, porque 60% da produção é destinada para o mercado doméstico.
"Se esse movimento não se concretizar e se fortalecer em 2005, volta a velha história da economia brasileira: cresce muito em um ano e cresce pouco ou cai no seguinte. Aí, quando soma a década, descobre que cresceu quase nada", afirmou.

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