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SALTO NO ESCURO
Senador Delcídio Amaral (PT-MS), que autorizou contrato com termelétrica, critica estatal por ir à Justiça
Ex-diretor vê calote em ação da Petrobras
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diretor de Gás e Energia da Petrobras quando foram assinados
os contratos emergenciais para a
construção de termelétricas, o senador Delcídio Amaral (PT-MS)
avaliou como "default" (calote) a
opção da estatal de entrar na Justiça pedindo a suspensão do pagamento à norte-americana El
Paso e à brasileira MPX, em vez de
iniciar o processo de arbitragem
ainda em 2003.
"Em vez de fazer aquilo que o
contrato confere, a Petrobras leva
para a disputa pública, dando conotação política, e pede a suspensão do pagamento na Justiça. Isso
é "default". Se há instrumentos
previstos no contrato, se as pessoas querem conversar, onde está
o problema?", questionou.
Segundo o senador, que deve
assumir a liderança do PT no Senado na próxima semana, a estatal deveria ter começado a arbitragem sobre os contratos em 2003.
"Esse era o momento de dizer: vamos conversar, o mercado consumidor está 25% menor. Quando a
Petrobras fala que teve prejuízo
com o racionamento, esquece que
todo mundo teve prejuízo. Essa é
uma questão totalmente administrável", disse.
Reportagem publicada pela Folha na última segunda-feira mostrou que a Petrobras decidiu dar
entrada no pedido de arbitragem
com a El Paso, em Nova York, e a
MPX, no Rio de Janeiro. As duas
empresas questionam as ações da
Petrobras na Justiça e aceitam a
arbitragem, prevista no contrato.
Quando firmam um contrato,
duas empresas podem optar por
inserir a arbitragem como forma
de resolução de conflitos entre
elas. Trata-se de um "tribunal"
privado formado por um representante de cada empresa e o presidente, que é eleito pelos outros
dois. A decisão é final, não cabe
recurso e geralmente os processos
são mais rápidos do que o trâmite
normal do Judiciário.
Além do pedido de arbitragem,
a Petrobras conseguiu na Justiça,
no ano passado, liminares que
suspendiam o pagamento mensal
às empresas. As liminares já foram derrubadas pela Justiça. "Parece que descobriram uma maneira milagrosa de renegociar o
contrato. Para mim, foi de uma
forma equivocada, ainda mais
agora que o Brasil precisa de investidores para as PPPs [Parcerias
Público-Privadas]", disse Amaral.
Cenário novo
Os contratos, firmados durante
o período de racionamento no
âmbito do PPT (Programa Prioritário de Termelétricas), são questionados pela Petrobras desde
2003, quando mudou o cenário
projetado antes do racionamento
de energia e não se confirmaram
nem o aumento da demanda nem
a escassez de chuvas.
Como o governo precisava de
maior geração de energia em curto espaço de tempo, a Petrobras
minimizou os riscos para a iniciativa privada e assinou um acordo
de participação paralelo aos contratos, estabelecendo uma "contribuição de contingência".
O instrumento seria utilizado
quando a receita obtida com a
venda de energia pelas termelétricas não fosse suficiente para arcar
com impostos, manutenção, retorno do capital e um mínimo de
lucratividade. Em 2000 e 2001,
quando foram fechados os contratos com a El Paso e a MPX, respectivamente, os estudos realizados pelo governo mostravam que
haveria aumento na demanda e,
conseqüentemente, no preço da
energia. Se aquele cenário se confirmasse, as termelétricas teriam
lucro vendendo a energia produzida a partir do gás, o suficiente
para pagar impostos, o investimento etc.
Essas previsões não se confirmaram no verão de 2003, quando
houve excesso de chuvas e normalização do nível de água dos reservatórios. Com a energia hidrelétrica mais barata e em abundância, o preço do MW/h (megawatt/
hora) despencou no mercado interno e jogou as termelétricas no
vermelho.
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