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RECEITA ORTODOXA
Estratégia de adquirir títulos da dívida minimiza mas não cobre o custo que o BC tem para enfraquecer o real
Recompra não compensa ação no câmbio
SHEILA D"AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A estratégia do governo de recomprar neste ano títulos da dívida externa minimiza mas não cobre todo o custo que o Banco Central tem por causa das intervenções no mercado de câmbio.
A compra de moeda estrangeira, acentuada desde o final de
2005, tem servido para tentar segurar a cotação do real em relação
ao dólar diante da forte entrada
de recursos estrangeiros no país.
A atuação do Banco Central, criticada por alguns analistas dado o
alto custo fiscal, não tem evitado a
queda na taxa de câmbio. No entanto avalia-se que, sem essa intervenção, o recuo na cotação do
dólar seria mais expressivo e ela já
estaria abaixo de R$ 2. Na sexta-feira o dólar fechou a R$ 2,165.
Uma estimativa preliminar feita
pelo economista Caio Megale, da
MauáInvest, mostra que o governo brasileiro terá, neste ano, despesa financeira entre US$ 3 bilhões e US$ 3,5 bilhões por conta
das aquisições dos dólares necessários para o pagamento antecipado da dívida.
Ganho para o Tesouro
Enquanto isso, o Tesouro Nacional terá ganho de cerca de US$
1 bilhão, correspondente à parcela
de juros para remunerar esses títulos que seria desembolsada ao
longo de 2006.
Esses cálculos pressupõem que
o governo manterá a política de
intervenções no câmbio, só que
em vez dessa atuação elevar ainda
mais as reservas internacionais,
que atualmente estão próximas
de US$ 57 bilhões, os recursos serão usados para recomprar os títulos da dívida externa.
A lista dos papéis selecionados
inclui os "bradies", fruto da negociação ocorrida após o calote dos
anos 80, e os títulos com vencimento até 2010 -esses dois papéis somam US$ 20 bilhões. Além
disso, considerou-se os juros
constantes e a taxa de câmbio no
patamar atual.
"O grande ponto a se questionar
é se o Banco Central deveria adquirir tantos dólares. Acredito
que não. Mas já que a posição é essa, o melhor a fazer é usar esses recursos para recomprar a dívida e
melhorar o cenário para os próximos anos", avalia Ricardo Amorim, economista para a América
Latina do WestLB, em Nova York.
Política custa caro
Essa política de intervenções do
BC sai caro porque os dólares adquiridos vão, inicialmente para as
reservas internacionais, que são
aplicadas no exterior e rendem juros de cerca de 4,5% ao ano.
Por outro lado, ao comprar dólares, o governo aumenta a quantidade de reais no mercado e para
não deixar subir muito o volume
de dinheiro em circulação no
país, é preciso vender títulos da
dívida interna, que são remunerados pela taxa Selic, atualmente em
17,25% ao ano.
"O Banco Central vem comprando volumes significativos de
dólares e o mercado já se perguntava aonde isso iria parar. Com a
medida anunciada nesta semana,
ele sinaliza que não quer um volume de reservas internacionais
muito acima dos US$ 57 bilhões
atuais", destaca Megale.
Apesar de não reverter o prejuízo financeiro, a estratégia do Tesouro trará ganhos indiretos para
o país. O principal deles é abrir espaço para a reavaliação da nota
atribuída pelas agências internacionais de risco ao país, deixando
o Brasil mais próximo do tão sonhado "nível de investimento",
conhecido no jargão financeiro
como "investment grade".
Para chegar lá, é preciso avançar
três níveis na escala atual dessas
agências. Isso é coisa para o próximo governo comemorar, acreditam os economistas. Ainda assim,
o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva poderá colher dividendos
com essa medida neste mandato.
Aposta em nota melhor
Depois do anúncio da decisão
do governo de recomprar as dívidas, boa parte do mercado financeiro passou a apostar que o Brasil, que já tinha uma perspectiva
positiva nos relatórios das agências de risco, terá sua nota elevada
em pouco tempo.
Apesar de muitos acreditarem
que essa provável melhora já está
incorporada nos preços exigidos
pelos investidores para adquirir
títulos brasileiros e nos indicadores do país, essa reavaliação poder
reduzir ainda mais o risco-Brasil,
deixando o Banco Central mais
confortável para baixar os juros
na próxima reunião do Comitê de
Política Monetária (Copom), que
será realizada em março.
Além disso, segundo Megale,
outra vantagem que a medida trará para o governo brasileiro é que
o Banco Central poderá reduzir o
volume de operações com contratos especiais de câmbio ("swap"
reverso). Esse instrumento vem
sendo utilizado para reforçar a
política do Banco Central de evitar uma valorização forte do real
em relação ao dólar.
"O Banco Central vem negociando US$ 200 milhões por dia
em "swap" reverso, que acabam virando um ativo do governo. Só
que isso não traz nenhum benefício para a avaliação da solvência
do país. A recompra da dívida trará", diz Megale.
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