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DESPERDÍCIO
Entre 2001 e 2003, só um terço das indústrias melhorou o processo produtivo ou lançou novo produto, diz IBGE
Poucas empresas fazem inovação tecnológica
DA REPORTAGEM LOCAL
Apenas um terço das empresas
industriais fez alguma inovação
-como melhorar processo produtivo ou lançar um novo produto- entre 2001 e 2003, mostra
pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A proporção de empresas do setor que dizia ter feito inovações
era de 31,5% no período 1998-2000. Ou seja, apenas um terço
das empresas industriais fez alguma inovação durante os dois períodos. E o conceito de inovação
adotado pelo IBGE é bastante amplo, lembra Ronald Martin Dauscha, presidente da Anpei (Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das
Empresas Inovadoras).
Empresários e governo concordam: falta inovação ao setor produtivo brasileiro. Dauscha diz que
a taxa deveria ser de no mínimo
40%, ainda assim considerando
um conceito mais restrito do que
é inovar.
O diretor da Anpei tem um
diagnóstico para a falta de apetite
inovador do setor privado brasileiro -diagnóstico um pouco diferente do de Sergio Rezende, ministro da Ciência e Tecnologia
(leia texto à pag. B1). Ele lembra
do processo de industrialização
do país. "Que nunca ocorreu com
ênfase na inovação." E enumera
outros fatores:
1) o panorama macroeconômico confuso pré-estabilização, que
fazia com que os planos empresariais girassem sempre em torno
das necessidades de curto prazo;
2) a falta de uma estratégia nacional de inovação;
3) e a ausência de uma cultura
de inovação empresarial, que faz
com que tanto pessoas do setor
acadêmico quanto no setor privado encarem a empresa "como
uma máquina". "Aqui existiu
sempre a noção de que quem faz
pesquisa são os centros especializados e as universidades."
Noção errada, mostra Carlos
Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp (Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo) em artigo sobre a
relação entre pesquisa, empresas
e universidades no Brasil. "Menos
de 10% dos novos produtos ou
processos introduzidos por empresas nos EUA tiveram contribuição essencial e imediata de
pesquisas acadêmicas", escreve
ele, citando pesquisador da Universidade da Pensilvânia.
Assim, diz Brito Cruz, a pesquisa aplicada e o desenvolvimento
que levam à inovação tecnológica
e ao aumento da competitividade
precisam ocorrer dentro das empresas. A pesquisa acadêmica não
perde importância. As universidades precisam criar quadros eficientes para as próprias empresas,
mas a natureza da pesquisa feita
pelas universidades e pelas empresas é distinta, conclui.
Há consenso, portanto, em torno da avaliação de que as empresas brasileiras precisam investir
mais em pesquisa e desenvolvimento. José Ricardo Roriz, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp,
enumera as razões apontadas pelos próprios industriais para o
baixo gasto em P&D:
1) custos elevados da inovação,
tanto por conta do custo alto de financiamento ou mesmo a falta
dele, quanto por conta do risco
econômico relativamente maior
em relação a outros países;
2) falta de pessoal qualificado;
3) falta de acesso à informação
sobre novas tecnologias e
4) pouca informação sobre os
mercados a serem explorados.
Melhoras
O Brasil, dizem ministro e representantes do setor privado, tomou medidas para aumentar as
atividades de pesquisa e desenvolvimento das empresas e, por meio
delas, elevar a competitividade da
economia. Mas o país tem melhorado muito devagar quando a
comparação é com os demais países desenvolvidos, ou mesmo
com as economias emergentes
que conseguiram com algum sucesso criar um setor produtivo.
Todos os analistas apontam para a Coréia, que contava, em 1978,
com cerca de 40 centros de pesquisa e desenvolvimento em empresas privadas. O número saltou
para 10 mil em 2003. Economia
que emplacava número insignificante de artigos científicos nos
anos 80, a Coréia ultrapassou o
Brasil em 1995. Em 2004, os coreanos publicaram 50% a mais do
que os brasileiros.
O país também está entre os que
mais solicitam patentes no mundo. Mais: o número de solicitações cresce anualmente a uma taxa de mais de 30%, e eles já responderam por 3,5% de todas as
solicitações em 2005.
"Os coreanos perceberam que
precisavam incentivar todas as
empresas a inovar. Criaram mecanismos para levar a pesquisa
para as pequenas e médias empresas. Não adianta as grandes
avançarem se o resto da economia não evolui", diz Ronald Martin Dauscha, da Anpei.
No Brasil, dizem analistas e empresários, a nova lei de inovação,
novas linhas de financiamento do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a preocupação cada vez
maior sobre a necessidade de investir em P&D indicam que há sinais claros de avanço, mas lento
dada ao mau desempenho brasileiro no quadro mundial. "Nossos
concorrentes têm avançado muito mais rápido do que nós", diz
José Ricardo Roriz, da Fiesp.
Ninguém descarta a participação do governo no processo, ainda que o objetivo seja levar as empresas a investirem. Algo, aliás,
que ocorre em todo o mundo, dizem os especialistas em sistemas
nacionais de inovação. Mesmo
nos EUA, 15% dos gastos das empresas com inovação são financiados com recursos públicos.
"A nossa expectativa é que, à
medida que o setor público incentive, as empresas passem a colocar mais recursos [nas atividades
de P&D]", diz Sergio Rezende,
ministro da Ciência e Tecnologia.
No setor privado, a cobrança é
para que as novas leis e medidas
saiam do papel. "E tem que ser rápido. O Brasil tem que acordar
para a inovação", conclui Roriz.
(MARCELO BILLI)
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