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NA ESTRADA
Segundo estudo de economistas da USP, da FGV e da Universidade da Pensilvânia, renda é 8,5% e 15% maior
Migrante ganha mais que local e conterrâneo
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Pela primeira vez, o senso comum que diz que o migrante é
um vencedor, ao ter êxito apesar
das adversidades próprias de ganhar a vida longe da terra natal,
encontra respaldo acadêmico no
Brasil.
Um estudo publicado na última
revista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do Ministério do Planejamento, mostra que quem migra ganha, em média, 8,54% mais do
que o não-migrante que mora no
seu Estado de destino (do migrante).
Na comparação com o seu conterrâneo que permaneceu no Estado de origem, o migrante ganha
15,07% mais, segundo os dados
da pesquisa "Migração, seleção e
diferenças regionais de renda no
Brasil", dos economistas Enestor
da Rosa dos Santos Júnior, da
Universidade da Pensilvânia,
Naércio Menezes Filho, da USP
(Universidade de São Paulo) e Pedro Cavalcanti Ferreira, da FGV
(Fundação Getúlio Vargas).
Para conseguir fazer a relação
entre as rendas do migrante e do
chamado não-migrante, os economistas, que usaram dados da
Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios), do IBGE, calcularam os pesos que vários fatores (como escolaridade,
gênero, raça, faixa etária e situação trabalhista) podem ter para
influenciar uma renda maior ou
menor dos trabalhadores.
A partir desses cálculos, o peso
de cada um desses fatores foi excluído na hora de comparar a renda dos dois grupos, de forma que
a única diferença levada em consideração fosse o fato de que um
dos grupos migrou e o outro não.
De acordo com as conclusões
dos pesquisadores, a explicação
mais forte para a diferença salarial
que aparece nos dados a favor do
migrante é que este faz parte de
um grupo "positivamente selecionado". Ou seja, quem migra é, na
média, mais apto, motivado, empreendedor ou ambicioso.
"Há um risco muito grande na
migração, porque o destino é um
ambiente mais hostil do que sua
casa. O fato de que nesse ambiente o migrante já estaria saindo um
pouco em desvantagem, e mesmo
assim na média ganha mais, é um
forte indicativo de que ele, de alguma forma, é mais habilidoso,
tem mais força de vontade", diz
Ferreira, da FGV. "Essa seria uma
característica que o leva a migrar", completa o economista.
"O interessante é que, além de
ganhar mais do que o não-migrante do seu Estado de origem, o
migrante também ganha mais
que o não-migrante do seu Estado
de destino", afirma Menezes Filho, da USP.
Significa dizer, apenas como
exemplo, que o baiano que veio
para São Paulo ganha 15,07%
mais, na média, do que o baiano
que ficou na Bahia. E ganha 8,54%
mais também que o paulista que
permanece em São Paulo.
Escolaridade menor
Outro ponto citado no estudo
para reforçar a tese de que os migrantes são "positivamente selecionados" é que eles, na média,
possuem escolaridade menor do
que os que não migraram.
Nesse caso, os economistas usaram dados gerais, não "filtrados",
que apontam que cerca de 56%
dos migrantes ganham mais do
que R$ 8 por hora. O percentual
dos não-migrantes cuja renda é
maior do que essa é menor, de
49,4%.
Ao mesmo tempo, números
também não "filtrados" mostram
que 57% dos migrantes estudaram menos do que oito anos, contra 53,7% no caso dos não-migrantes. "É uma aparente contradição, pois mesmo tendo menor
escolaridade eles têm salários
maiores, na média. Esses dados
reforçam a tese da seleção positiva", afirma Cavalcanti.
Estados Unidos
O estudo dos economistas brasileiros, que dá força à tese de que
o migrante é mais motivado e empreendedor do que o não-migrante, é semelhante a trabalhos
realizados anteriormente por pesquisadores americanos. Estes
chegaram à conclusão de que as
pessoas que moram nos EUA,
mas vieram de outros países, são
mais aptas e ambiciosas do que os
que nasceram em solo norte-americano.
Uma preocupação citada no
trabalho dos brasileiros, que aparece também em estudos americanos, é a influência que a migração exerce sobre a distribuição de
renda no país: o fato de trabalhadores mais aptos irem para outros
Estados poderia acentuar a desigualdade de salários no país.
Um estudo realizado recentemente sobre esse tema por Cézar
Augusto Santos, mestrando da
FGV em economia, sugere que a
migração, na verdade, melhora a
distribuição de renda no país.
"Os dados mostram que esse
efeito pode acabar sendo balanceado pela redução dos salários
nas cidades que são destinos de
migrantes devido à oferta maior
de mão-de-obra", diz Santos.
Cerca de 20% da população brasileira é migrante. Boa parte do
fluxo migratório é dos que nascem nos Estados do Nordeste para os do Sudeste, principalmente
Rio de Janeiro e São Paulo. O Estado com o maior percentual de
migrantes é a Paraíba: mais de
40% dos paraibanos vivem em
outros Estados.
Cariocas ganham mais
Segundo o estudo publicado pelos economistas, os migrantes cariocas são os que ganham mais
(22,53%) em relação aos trabalhadores não-migrantes do Estado
para o qual migraram. Em seguida vêm os migrantes paulistas,
com 14,08% a mais.
O sergipano também ganha
mais em relação ao trabalhador
não-migrante que reside no Estado que ele escolheu para morar:
sua renda média é 9,21% maior.
Nos casos dos cearenses, baianos,
paraibanos e pernambucanos, esses percentuais são de, respectivamente, 8,65%, 7,33%, 8,2% e
7,8%.
Os migrantes do Maranhão são
os únicos que aparecem com salários menores do que o restante
dos trabalhadores residentes no
seu Estado de destino: ganham,
em média, 4,08% menos.
Apesar do fluxo migratório
ocorrer, em geral, dos Estados
mais pobres para os mais ricos,
um movimento mais recente é o
dos gaúchos e dos paranaenses
que vão para Estados como Piauí
ou Rondônia, atraídos pelas novas fronteiras agrícolas.
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