São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 2006

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"É outro estilo, a gente vai em frente e vence"

DA REPORTAGEM LOCAL

Há 62 anos, Pedro Rodrigues de Almeida, filho de um exportador de fumo arruinado pela entrada da Alemanha, onde estavam seus principais clientes, na Segunda Guerra Mundial, saía de Conceição da Feira, cidade do interior da Bahia, para trabalhar em um armazém em outra cidade baiana, Umburanas. Na época, Almeida tinha 14 anos.
Seria a primeira das várias migrações de Almeida, que seguiu a carreira de consultor de lojas de confecções que queriam instalar-se no Brasil.
A migração definitiva foi em 1959, quando fundou uma indústria têxtil em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Hoje com 76 anos, Almeida preside a Rutilan, que tem faturamento mensal de mais de R$ 400 mil.
Também diretor adjunto do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), ele atribui o seu sucesso ao fato de ter tido coragem de deixar sua terra natal.

Lula e Mailson
"O migrante tem outro estilo de trabalho. Quando se depara com uma oportunidade ele vai em frente, e vence", afirma.
São vários os casos parecidos com o de Almeida, a começar pela história de Luiz Inácio Lula da Silva, nascido na miséria no município de Garanhuns, no interior de Pernambuco, e eleito presidente da República. Lula veio para São Paulo no início dos anos 50.
Uma dessas histórias é a do paraibano Mailson da Nóbrega, 63, ex-ministro da Fazenda e atualmente sócio da consultoria Tendências. Nascido no sertão da Paraíba, na cidade de Cruz do Espírito Santo, ele foi estudar na capital, João Pessoa, aos 12 anos.
"Na época havia três opções para pessoas de família humilde como eu. Entrar nas Forças Armadas, seguir o sacerdócio ou prestar concurso para o Banco do Brasil. Tentei as três, mas acabei seguindo carreira mesmo no Banco do Brasil", relata.
Foi pelo banco que ele foi para o Rio de Janeiro, em 1968. Em 1970 migrou para Brasília, e só então foi fazer faculdade de economia. Depois de galgar postos dentro do Banco do Brasil, foi ministro da Fazenda de janeiro de 1988 a março de 1990, durante o governo do presidente José Sarney.

Esforço tem de ser maior
"O migrante trabalha em um meio que não é o dele, compete com gente que já está estabelecida. O esforço tem de ser maior", diz o ex-ministro.
"Sofri discriminação em determinados momentos. Em um mercado tão competitivo, é preciso ter senso de sobrevivência", afirma o publicitário baiano Sérgio Amado, 57, que hoje, morando em São Paulo, preside a agência de publicidade Ogilvy.
Amado começou a trabalhar aos 14 anos e fundou uma agência de publicidade ainda em Salvador, a D&E. Mas considera que sua carreira deu uma guinada maior ao vir para São Paulo, depois de ter vendido tudo o que possuía na Bahia.
"Comprei 25% de uma agência que estava com problemas financeiros sérios, a Denison. Podia ter escolhido voltar para a Bahia por causa desses problemas, mas escolhi ficar. Implementei algumas reformas e a agência passou a ser reconhecida no mercado."
Amado preside a agência Ogilvy, que comprou a Denison há 13 anos. "Hoje há uma grande safra de baianos iniciando carreira nas agências de publicidade", afirma Amado.
Outros casos de publicitários baianos que migraram, esses já consolidados no mercado, são Nizan Guanaes e Sérgio Gordilho, ambos da Africa. (MP)


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