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LUÍS NASSIF
A economia da ecologia
Secretário de Meio Ambiente de
São Paulo e um dos precursores
da luta ambiental no país, o deputado federal Fábio Feldmann
está convencido de que a questão
da ecologia somente se resolve
com providências de ordem econômica.
Questão típica é a das multas
da Cetesb contra caminhões poluidores. A primeira multa é de
R$ 500,00, chegando a R$ 8 milhões. No ano passado, foram 98
mil multas para uma frota de 300
mil caminhões. Consequência:
houve uma redução relativa na
poluição, mas jogou-se uma infinidade de caminhoneiros na
clandestinidade, pela impossibilidade de saldar as dívidas.
Hoje, a secretaria trabalha junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) em uma linha de financiamento que permita a renovação da frota de caminhões da cidade.
Deseconomias
A questão ecológica envolve
uma série de deseconomias, que
pouco são analisadas por autoridades de outras áreas. Estudos
da OCDE (o conjunto dos sete
países mais industrializados) estimaram em 6% do PIB o custo
anual dos congestionamentos
nas grandes cidades.
Na última conferência de Kioto
constatou-se que a poluição aumenta as despesas com prevenção, com o aumento das taxas de
morbidade e desgaste de materiais.
Segundo levantamentos da
Universidade de São Paulo
(USP), após cada inversão térmica ocorre um aumento de 16,2%
na mortalidade de pessoas acima
de 65 anos e abaixo de 5 anos, e
de 30% nas internações.
Mas as secretarias de Saúde e
Meio Ambiente não conversam
sobre o tema, assim como a Fazenda e o Meio Ambiente.
Em todo o mundo está ocorrendo uma transferência do transporte coletivo para o individual.
Como reverter essa tendência?
Unicamente com mecanismos
econômicos.
No entanto, o Departamento
Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) resolveu cobrar
dos trolebus a tarifa de pico (o
adicional de quem gasta energia
em horários de pico). Em uma
residência, essa tarifa ajuda a reduzir o consumo. Com trolebus,
não. É justamente nesse horário
que os passageiros recorrem a ele.
Não houve santo que convencesse
o DNAEE do contrário. A consequência foi a inviabilização da
expansão do trolebus em São
Paulo.
Instrumentos tributários
A questão do desmatamento da
Mata Atlântica é vista por ele
como um caso típico de tributação. Nos municípios que a ladeiam, a maior fonte de receita é
o Imposto sobre Propriedade
Territorial Urbana (IPTU). Os
municípios permitem a expansão
urbana, estimulam condomínios
de luxo, justamente para aumentar sua arrecadação.
Dai a necessidade premente
-conclui Feldmann- de que a
questão ecológica passe a ser tratada, cada vez mais, por meio de
instrumentos econômicos. E que
o tema, em vez de ficar restrito a
uma secretaria, passe a se incorporar às análises do conjunto de
secretarias e ministérios.
Previdência
As discussões sobre a nova Previdência tendem a produzir dois
tipos de maniqueísmo. Dos adversários da reforma, generalizando os prejuízos da reforma
para o conjunto dos aposentados. Dos defensores da reforma,
jogando todas as defesas de direitos adquiridos na relação dos
privilégios injustificáveis.
Não é bem assim. A celeuma
em torno da aposentadoria integral para magistrados é caso típico. Pela Constituição, juiz é função típica de Estado. É proibido
ao magistrado exercer qualquer
outro tipo de atividade paralela,
com exceção do magistério. Em
geral, os salários são flagrantemente inferiores ao que receberiam no exercício da advocacia.
E as condições de trabalho são as
piores possíveis, muito em função
das distorções de investimento
que são feitas -privilegiando as
sedes de tribunais em detrimento
da descentralização.
A reforma do Judiciário é um
dos grandes desafios do Brasil
moderno. Mas não vai se chegar
a lugar nenhum se se destruir os
últimos incentivos ao exercício
da boa judicatura.
Telecomunicações
Na edição de ontem, grafei erradamente o endereço do Análise
Telecomunicações na Internet. O
correto é www.anatele.com.br.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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