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MERCOSUL
FHC deve discutir alternativas hoje com Menem em Campos do Jordão
Brasil quer evitar retaliações da Argentina à desvalorização
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso pedirá calma diante da crise brasileira e assumirá
uma série de compromissos em
seu encontro de hoje, ao meio-dia, em Campos do Jordão (SP),
com o presidente da Argentina,
Carlos Menem.
Entre esses compromissos está
o de não estender os financiamentos do Proex (Programa de
Incentivo às Exportações) às
vendas brasileiras aos três outros países do Mercosul: Argentina, Uruguai e Paraguai.
Até porque os exportadores
brasileiros já lucram naturalmente com a mudança cambial.
Outros compromissos são:
mudanças nos prazos de financiamento, maior rapidez nas licenças de importação e relaxamento de algumas exigências
para importações do bloco.
O encontro de FHC com Menem tem, entretanto, um caráter
principalmente político: o de reconhecer as dificuldades que a
crise econômica do Brasil causa
aos países vizinhos, sobretudo a
desvalorização do real.
Em contrapartida, defender a
tese de que a crise é conjuntural
e tentar evitar que os três sócios
adotem medidas protecionistas.
A maior ameaça parte justamente da Argentina.
"O Brasil quer mostrar que
não é insensível aos efeitos da
crise e sabe que não é uma crise
trivial", disse ontem à Folha o
ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia.
O país aceita discutir não só
questões comerciais como os
próprios rumos macroeconômicos, disse Lampreia.
Ele adiantou que será proposta
uma reunião dos quatro ministros da Economia para debater
justamente isso: as questões macroeconômicas dos países, já
que a própria criação do Mercosul previu harmonização de indicadores macroeconômicos.
Como a inflação, por exemplo.
FHC, entretanto, levará um
pedido explícito a Menem, que
Lampreia resume assim: "Nós,
países do Mercosul, não podemos tomar medidas e fazer retaliações unilaterais precipitadas".
Isso significa que o Brasil teme
uma "escalada protecionista",
principalmente da Argentina,
como forma de compensar perdas de receitas comerciais devido à desvalorização do real.
Entre essas medidas estariam
o aumento de barreiras a produtos brasileiros.
Exemplo: diminuição de cotas,
elevação de tarifas de importação ou direitos compensatórios
em geral.
Apesar de cauteloso, Lampreia
disse que, na sua opinião, o embaixador argentino no Brasil,
Jorge Hugo Herrera Vegas,
"exagerou um pouco" na sua entrevista publicada ontem pela
Folha.
Segundo o embaixador, a crise
brasileira pode ameaçar o Mercosul se a inflação alta voltar.
Lampreia reagiu: "O objetivo
da reunião dos dois presidentes
é justamente passar a idéia de
que o Mercosul saberá enfrentar
a crise. O bloco é um patrimônio
dos quatro sócios". O comércio
na região cresceu de US$ 2 bilhões em 91 para US$ 21 bilhões.
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