São Paulo, Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1999
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MERCOSUL
FHC deve discutir alternativas hoje com Menem em Campos do Jordão
Brasil quer evitar retaliações da Argentina à desvalorização

ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso pedirá calma diante da crise brasileira e assumirá uma série de compromissos em seu encontro de hoje, ao meio-dia, em Campos do Jordão (SP), com o presidente da Argentina, Carlos Menem.
Entre esses compromissos está o de não estender os financiamentos do Proex (Programa de Incentivo às Exportações) às vendas brasileiras aos três outros países do Mercosul: Argentina, Uruguai e Paraguai.
Até porque os exportadores brasileiros já lucram naturalmente com a mudança cambial.
Outros compromissos são: mudanças nos prazos de financiamento, maior rapidez nas licenças de importação e relaxamento de algumas exigências para importações do bloco.
O encontro de FHC com Menem tem, entretanto, um caráter principalmente político: o de reconhecer as dificuldades que a crise econômica do Brasil causa aos países vizinhos, sobretudo a desvalorização do real.
Em contrapartida, defender a tese de que a crise é conjuntural e tentar evitar que os três sócios adotem medidas protecionistas. A maior ameaça parte justamente da Argentina.
"O Brasil quer mostrar que não é insensível aos efeitos da crise e sabe que não é uma crise trivial", disse ontem à Folha o ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia.
O país aceita discutir não só questões comerciais como os próprios rumos macroeconômicos, disse Lampreia.
Ele adiantou que será proposta uma reunião dos quatro ministros da Economia para debater justamente isso: as questões macroeconômicas dos países, já que a própria criação do Mercosul previu harmonização de indicadores macroeconômicos. Como a inflação, por exemplo.
FHC, entretanto, levará um pedido explícito a Menem, que Lampreia resume assim: "Nós, países do Mercosul, não podemos tomar medidas e fazer retaliações unilaterais precipitadas".
Isso significa que o Brasil teme uma "escalada protecionista", principalmente da Argentina, como forma de compensar perdas de receitas comerciais devido à desvalorização do real.
Entre essas medidas estariam o aumento de barreiras a produtos brasileiros.
Exemplo: diminuição de cotas, elevação de tarifas de importação ou direitos compensatórios em geral.
Apesar de cauteloso, Lampreia disse que, na sua opinião, o embaixador argentino no Brasil, Jorge Hugo Herrera Vegas, "exagerou um pouco" na sua entrevista publicada ontem pela Folha.
Segundo o embaixador, a crise brasileira pode ameaçar o Mercosul se a inflação alta voltar.
Lampreia reagiu: "O objetivo da reunião dos dois presidentes é justamente passar a idéia de que o Mercosul saberá enfrentar a crise. O bloco é um patrimônio dos quatro sócios". O comércio na região cresceu de US$ 2 bilhões em 91 para US$ 21 bilhões.


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