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AÇÕES
Baixa poderá ser provocada pela realização de lucros ou porque as ações estão superavaliadas, afirma Jon Weber, diretor do banco
Chase prevê queda nos papéis da Internet
ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio
O diretor-executivo do banco
Chase Manhattan, Jon Weber, diz
que há risco de queda das ações
das empresas de Internet no índice Nasdaq (EUA) ainda neste ano.
O Nasdaq concentra os negócios
das ações de empresas de alta tecnologia.
A queda, diz ele, poderá ser provocada pela realização de lucros
dos investidores (venda de ações
na alta) ou pela percepção do
mercado de que os papéis estão
superavaliados. Em ambas as hipóteses, ele acredita que a queda
provocará fusões e aquisições de
empresas no Brasil.
Apesar do prognóstico de queda do Nasdaq, o executivo diz que
o futuro da Internet no Brasil é
mais promissor do que nos países
desenvolvidos e que o comércio
eletrônico vai provocar deflação
(queda nos preços) no prazo de
dois anos.
A seguir, os principais trechos
da entrevista.
Folha - De dois meses para cá,
oito empresas passaram a oferecer acesso gratuito à Internet.
Como o senhor vê essa corrida?
Jon Weber - A oferta de acesso
gratuito foi desencadeada pelos
bancos porque uma operação pela Internet custa um décimo da
mesma operação feita na agência
bancária. É muito interessante
para eles ter o cliente on line. Todos no setor enxergam grandes
oportunidades de crescimento do
e-commerce (comércio eletrônico pela Internet), e isso está motivando a corrida.
O negócio Internet tem três fontes de receita: a taxa mensal de
acesso, o comércio eletrônico e a
publicidade. O primeiro já está
deixando de existir no Brasil. Dificilmente uma empresa terá receita com base no acesso à Internet
pela banda estreita (convencional, de baixa velocidade).
Trabalhamos com a estimativa
de que 80% da receita de comércio eletrônico da América Latina
está no Brasil. Isso vai cair para
cerca de 70% quando os outros
países começarem a operar.
O bolo publicitário via Internet
na América Latina deve representar US$ 120 milhões neste ano,
US$ 260 milhões em 2001 e US$
517 milhões em 2002.
Folha - Têm sido anunciadas
aquisições de empresas a preços astronômicos, pagos com a
troca de ações entre o comprador e o vendedor. As cifras não
parecem um tanto irreais?
Weber - Há uma pergunta que
me faço todos os dias: se o valor
das empresas é sustentado com
base em um prognóstico da receita futura das companhias, quando a receita irá justificar o valor
das empresas, já que elas não podem cobrar muito em função da
forte concorrência entre os portais?
Folha - Como se calcula o valor
de uma companhia na Internet?
Como se avalia um portal ou um
site de vendas?
Weber - As companhias vêm
sendo avaliadas com base nas
vendas esperadas para o ano, mas
já existem casos de avaliação com
base na renda esperada para daqui a dois anos, porque as empresas são muito incipientes.
O valor de mercado de uma empresa de software para Internet
equivale a 61,8 vezes o seu faturamento anual. Em uma empresa
de comércio eletrônico B2B ("business to business") a relação é de
53,5 vezes. O valor de mercado
dos portais equivale a 28,6 vezes o
faturamento anual. Já o provedor
de acesso em alta velocidade valeria 20,6 vezes o seu faturamento.
Folha - Os analistas, inclusive
o senhor, dizem que a Internet
precisa crescer, crescer e crescer
para justificar o valor das empresas em Bolsa. Ela vai criar um
novo mercado ou apenas substituir parte do comércio tradicional?
Weber - Sou otimista em relação ao futuro da Internet no Brasil, porque o consumidor é mal-atendido pelo comércio varejista.
A classe rica é proporcionalmente
pequena, mas tem alto poder de
compra. Os que compravam no
exterior -porque não tinham no
Brasil todas as cores, marcas e tamanhos desejados- vão comprar pela Internet.
Folha - Qual é a real dimensão
do mercado brasileiro para a Internet? Quando o investidor estrangeiro investe em empresas
brasileiras nesse setor, que país
ele está vendo?
Weber - O mercado de banda
estreita (acesso em baixa velocidade, em que já existem várias opções de serviço gratuito) pode
chegar a 10 milhões, talvez 15 milhões de usuários. Mas o país da
Internet em alta velocidade será
bem menor, porque ela custa caro
e só estará acessível para a elite.
Quando boa parte da população
não tem saneamento básico, um
serviço de R$ 60 a R$ 70 por mês é
para a classe A.
Folha - Há cinco anos, imaginava-se que o Brasil teria 6 milhões de usuários de TV paga no
ano 2000, mas o número não
chega à metade do previsto.
Quantos, na sua avaliação, vão
pagar para ter acesso à Internet
em alta velocidade?
Weber - A estimativa é que teremos 3 milhões de usuários de Internet com acesso em banda larga
(alta velocidade) no país em 2003.
Folha - O senhor acha que se
deve ir com mais cautela, olhar
a Internet com mais cuidado?
Weber - Depende do ponto de
vista. Todo mercado tem perdedor e ganhador. O acesso gratuito
é inquestionavelmente bom para
as companhias telefônicas, porque elas vão ganhar com o aumento do tráfego. É também inquestionavelmente bom para os
bancos. Mas será bom para a mídia em geral? Essa é uma grande
discussão. De modo geral, é bom
para o país, porque democratiza a
informação e aumenta a eficiência do comércio.
Folha - Segundo as estatísticas, há quase 7 milhões de usuários de Internet no Brasil. O sr.
trabalha com esse número?
Weber - No Chase, consideramos que há 5,5 milhões de usuários de Internet no Brasil.
Folha - Seu trabalho no Brasil
mudou com essa explosão?
Weber - Mudou todo o nosso
acompanhamento de empresas
no Brasil, porque o mercado está
ávido por esse tipo de negócio.
Nossa corretora especializada em
empresas de Internet está à procura de negócios aqui. A Internet
está causando uma reavaliação de
ativos e alterando a percepção do
risco de crédito.
Folha - Qual é o seu prognóstico em relação ao comportamento das ações das empresas de
Internet para este ano?
Weber - Acho que haverá queda
das ações, provavelmente provocada por eventos de fora. Quando
digo isso, me refiro a uma realização de lucros pelo investidor ou à
percepção do mercado de que os
papéis estão superavaliados.
Folha - Essa queda, ou acomodação de preços, ocorrerá só no
Brasil ou também no exterior?
Weber - Vai acontecer no mercado de modo geral, mas será piorada pela percepção de algumas
apostas no Brasil. As pessoas tendem a agir em grupo. Meu prognóstico é que neste ano pode
ocorrer uma queda substancial
no índice Nasdaq, que vai provocar também a queda nos preços
aqui. Em consequência, teremos
algumas consolidações, ou seja,
algumas empresas serão compradas por outras, locais ou internacionais. Provavelmente vamos ter
desapontamentos quanto à viabilidade de alguns negócios da Internet lançados em Bolsa.
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