São Paulo, terça-feira, 12 de março de 2002

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MÃO DE FERRO

UE vai impor cotas para não ser invadida por exportações que antes iam para os EUA; Canadá deve fazer o mesmo

Europa fecha fronteira ao aço importado

MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES

A União Européia (UE) vai apresentar hoje o primeiro esboço de medidas cujo objetivo será dificultar a exportação de aço ao continente. A ação faz parte da disputa comercial com os EUA, após decisão do governo norte-americano de aumentar em até 30% suas tarifas sobre importação do produto.
"Consideramos seriamente a implementação de medidas defensivas nos mercados europeus para evitar que sejamos inundados pelo aço que não vai entrar nos EUA", disse à Folha, por telefone, Anthony Gooch, porta-voz da Comissão Européia (órgão executivo da UE).
Com o mercado dos EUA fechado, os europeus temem que cresça de maneira excessiva a importação de aço de países asiáticos e latino-americanos. A UE deve impor cotas que limitem as vendas desses produtores aos níveis atuais, mas países do Leste europeu, como Rússia e Polônia, não devem ser atingidos.
Na semana passada, a UE entrou com dois processos na OMC (Organização Mundial do Comércio) contra os EUA. "Como o processo na OMC leva tempo, para nos defender estamos prontos a adotar salvaguardas", disse Gooch, sem adiantar detalhes sobre as medidas.
O porta-voz disse que as barreiras seriam "não-discriminatórias". Teriam como objetivo sustentar os atuais níveis de importação de aço, sem levar a um fechamento do mercado europeu.
O comissário europeu para o Comércio, Pascal Lamy, declarou ter o dever de "proteger o mercado europeu" e "assegurar que nós não seremos as vítimas" da iniciativa do presidente norte-americano, George W. Bush. Ele se reuniu ontem com executivos da principais siderúrgicas do continente, que aprovaram as medidas.
Lamy não quis adiantar detalhes, mas afirmou que, em casos como esse, os procedimentos devem envolver "cotas e tarifas". Os empresários aprovaram as medidas sugeridas pelo comissário.
Os europeus queixam-se das medidas protecionistas de Bush e prometem pedir compensação financeira de cerca de US$ 2,5 bilhões anuais para cobrir os prejuízos que suas empresas terão com a queda nas exportações aos americanos. "Se não conseguirmos compensação, aí vamos buscar retaliação", disse Gooch.
A UE e os EUA têm 60 dias para negociar um acordo "amigável". Se ao final do período as diferenças persistirem, os europeus podem pedir que a OMC forme uma comissão para julgar a disputa.
Além da UE, encaminharam também uma queixa formal à OMC os seguintes países: Austrália, Nova Zelândia, Japão e Coréia do Sul. O Brasil, menos afetado pelas restrições dos EUA, ainda não decidiu se adotará procedimento semelhante.
Pelas regras do comércio internacional, os europeus não podem fazer discriminações entre membros da OMC. Mas eventuais cotas não precisam ser as mesmas para todos os países afetados.
Dessa maneira, os europeus devem oferecer cotas generosas para os países do Leste europeu, não restringindo, na prática, a ampliação das exportações. Já os países asiáticos e latino-americanos, entre eles o Brasil, devem ter seu volume de vendas engessado.
O Canadá também vai adotar medidas para que não sofra um aumento abrupto das exportações. "A indústria solicitou a salvaguarda", disse ontem Pierre Pettigrew, ministro canadense do comércio.


Com agências internacionais


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