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BALANÇO
Socorro de R$ 9,35 bi não melhora resultado; perda é consequência da provisão de R$ 4,3 bi contra calote de mutuários
Caixa Federal tem prejuízo de R$ 4,687 bi
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Caixa Econômica Federal, segundo maior banco do Brasil, fechou 2001 com prejuízo de R$
4,687 bilhões. Nem mesmo o socorro de R$ 9,35 bilhões recebido
do governo federal em junho ajudou a melhorar o resultado. Só no
último trimestre, as perdas foram
de R$ 360 milhões. Os números
devem ser divulgados em duas semanas.
Levantamento feito pela ABM
Consulting mostra que, desde
1995, apenas o Banco do Brasil,
entre os principais bancos que
atuam no país, já teve prejuízo tão
grande quanto o registrado pela
CEF no ano passado. Em 1996, o
BB encerrou o ano com perdas de
R$ 7,5 bilhões.
Segundo o diretor de Finanças
da CEF, Valdery Albuquerque, o
prejuízo registrado em 2001 é
consequência, justamente, das
medidas que a instituição precisou adotar para fazer sua reestruturação.
"A idéia era que, daí para a frente [junho de 2001, após o socorro
de R$ 9,35 bilhões", a Caixa viesse
a dar lucro", afirmou. Albuquerque disse que, agora, a instituição
pode gerar lucro de R$ 1 bilhão
por ano. "Em janeiro [de 2002", já
tivemos lucro de R$ 118 milhões."
No segundo semestre de 2001, porém, a CEF teve prejuízo de R$
294 milhões.
Albuquerque justificou o resultado dizendo que "as ações [referentes à reestruturação" se arrastam por até um ano". Ou seja, no
segundo semestre a CEF continuou com a reestruturação, o que
afetou suas contas.
Um dos principais objetivos da
reestruturação era adequar as
contas da CEF a normas criadas
pelo Banco Central no final de
1999. Pelas regras, os bancos são
obrigados a manter uma provisão
para se proteger de prejuízos que
venham a ocorrer no futuro.
Na prática, o que os bancos precisam fazer é separar uma certa
quantidade de dinheiro que é usada para cobrir um eventual calote.
No momento em que é feita a provisão, porém, há um impacto negativo no resultado: ela é contabilizada como despesa e, portanto,
reduz o lucro da instituição -ou
aumenta o prejuízo.
Quando os bancos fazem suas
provisões aos poucos, o impacto
no resultado é diluído ao longo do
tempo. O problema é que a CEF
nunca teve dinheiro suficiente para fazer suas provisões. Isso só foi
possível após a reestruturação.
Ao longo dos anos, a CEF acumulou grande quantidade de créditos em que a probabilidade de
calote é alta -a maioria deles se
refere a financiamentos habitacionais-, o que aumentou a necessidade de provisões. Como
elas foram feitas praticamente de
uma só vez, no ano passado, o impacto no resultado foi maior.
As provisões feitas no ano passado somam cerca de R$ 4,3 bilhões: R$ 3,8 bilhões feitas no primeiro semestre e R$ 500 milhões
no segundo. O prejuízo do ano
passado ainda pode ser revertido
ao longo dos anos. Se a CEF não
sofrer todos os calotes que são esperados, parte das provisões pode
ser revertida, o que significa lucro
para a instituição.
Albuquerque afirmou ainda
que outras duas operações, de
menor porte, ajudam a explicar o
prejuízo da CEF. Uma delas foi a
criação de um PDV (Programa de
Demissão Voluntária), que tinha
por objetivo cortar gastos com
pessoal. Nesse programa, a CEF
gastou cerca de R$ 200 milhões.
Além disso, outros R$ 250 milhões foram destinados a gastos
extraordinários relativos ao fundo de pensão dos funcionários da
CEF.
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