São Paulo, sexta-feira, 12 de março de 2004

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Alencar ataca juros, mas preserva Palocci

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

No mesmo dia em que o presidente Lula fez a defesa da política econômica do governo, alvo de contestação pública do PT, o vice-presidente José Alencar (PL) voltou a criticar ontem a política monetária conduzida pelo Banco Central, acrescentando que o governo também é responsável por ela, e endossou o documento da cúpula nacional do PT.
Nas críticas, Alencar acrescentou, pela primeira vez, a responsabilidade do governo sobre a política monetária a cargo do BC -mas poupou o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
"Eu defendo a mudança da política monetária no Brasil e acho que nós temos que, obviamente, enfrentar isso para valer, porque a responsabilidade não se transfere. A responsabilidade perante a nação é do governo. O governo delega autoridade a alguém, mas a responsabilidade permanece com o governo", disse Alencar.
Sobre a crítica da Executiva Nacional do PT, o vice-presidente apoiou o documento lançado pela cúpula petista. "Isso é o nosso discurso durante toda a nossa vida. Não é uma novidade para o Brasil nós estarmos contra. Porque nós estamos seguindo aquela política que nós combatemos. E nós vamos à rua, vamos aos palanques combatendo essa política. Nós não podíamos aceitar de forma alguma [que não houvesse] a retomada do crescimento", disse.
E acrescentou: "O Brasil inteiro conhece a honorabilidade do Lula e a marca do PT. Essa manifestação do partido em relação à política econômica também não é nova, é natural do PT. Quando eu fiz aliança com o PT e com o Lula, foi embasado justamente nesse tipo de discurso".
Enquanto Alencar falava na sua casa, em Belo Horizonte, onde se recupera de problemas de saúde, Lula, em Brasília, defendia a política econômica do governo e falava das críticas. "De vez em quando, eu ouço as críticas -não discuto se justas ou injustas- das taxas de juros, que ficam como se fossem o bode expiatório de todo o problema do governo", afirmou o presidente.
Alencar repassou suas críticas sobre as taxas de juros, afirmando que elas são "as mais altas do planeta" e não refletem o "interesse nacional". "Isso é um despropósito. E outra coisa: desnecessário. Por isso eu sou contra."
Disse ser "o óbvio ululante" a necessidade da mudança da política monetária pelo BC e embasou sua posição na postura do Fed, o BC norte-americano, que, segundo Alencar, conduz a política monetária preservando "todas as potencialidades de desenvolvimento do país". Depois, disse, vem a questão do emprego. "Agora, é claro, manutenção de preços estáveis. Mas o crescimento da economia é o principal objetivo."
Questionado acerca das pressões sobre Palocci, Alencar disse que o ministro tem a "clarividência absoluta do quadro nacional", mas que a sua crítica e a do PT é por uma política monetária "correta", responsabilidade que não seria do ministro.
"Temos que aplaudir o Palocci, que é responsável por uma política correta do ponto de vista de responsabilidade fiscal. Agora, o Banco Central é que administra a política monetária. Só que o objetivo não pode ser apenas a inflação", afirmou Alencar.


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