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LUÍS NASSIF
O país do dr. Meirelles
Recentemente houve
reunião de uma das câmaras econômicas do governo,
para avaliar propostas de política industrial. Um dos técnicos
incumbidos dos estudos fazia
sua apresentação, quando foi
interrompido pelo presidente
do Banco Central, Henrique
Meirelles. Ao seu feitio, de levantar as sobrancelhas e falar
com voz impostada, Meirelles
indagou, em tom grave: "O senhor poderia me informar se
existe algum país democrático
do mundo que pratique política industrial?". O técnico ficou
meio embaraçado: "Sua pergunta é se existe algum país democrático que NÃO pratique
política industrial? É isso?". E
Meirelles, enfático, pontuando
a pergunta com a sobrancelha:
"Não, senhor, minha pergunta
é se existe algum país democrático que pratique política industrial". O técnico foi incisivo:
"Dr. Meirelles, todos os países
relevantes do mundo praticam
política industrial". Criou-se
um clima de constrangimento
com a demonstração de desconhecimento de Meirelles, rapidamente corrigido pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, com sua bonomia.
O Brasil é refém do dr. Meirelles, da mesma maneira que
um dia foi refém de Itamar
Franco. É inacreditável a maneira, as circunstâncias que
permitem a determinadas pessoas galgar cargos de tal relevância. Como é possível que a
falta de informação nacional
fosse tamanha que não se avaliassem adequadamente o perfil e a formação de Meirelles,
antes de lhe outorgar o papel
de avalista do governo perante
o mercado?
Ontem, Lula repetiu os mesmos argumentos brandidos
por ele. A sofisticação de raciocínio é a mesma. Quem tolera
que a inflação aumente um
ponto tolera dois, quem tolera
dois tolera três, e estaremos todos perdidos. Portanto tome
juros.
No curso científico, certa vez
a diretora do Instituto Educacional suspendeu um aluno
que prendeu uma galinha no
porta-malas do carro, baseada
em raciocínio semelhante: hoje
é uma galinha, amanhã poderá ser uma criança.
O país ficou prisioneiro de
uma ignorância econômica letal, sustentada por duas ou três
imagens acessíveis ao senso comum. Ameaças concretas
-como a inviabilização da dívida pública-, a estagnação
da economia, o esgarçamento
do tecido social e político, dez
anos de resultados negativos
comprovados, tudo é varrido
para baixo do tapete por frases
de efeito e sofismas primários.
E, se o PT se insurgir contra
essa loucura, imediatamente o
mundo cairá sobre ele. O problema não é o dr. Meirelles
manter uma taxa de juros que
conduza a uma dinâmica de
desastre na dívida pública. O
problema é o partido do governo alertar para o desastre.
O trágico da história é que
Meirelles ocupou esse espaço
não por imposição das bases
petistas, por compromisso com
alianças históricas. Foi um
passivo que não veio por herança: veio por exclusão, é verdade, mas pela livre vontade
do governo.
AmBev
A AmBev informa que a participação da Labatt (que será
adquirida por ela) está na mexicana Femsa Cerveja, e não
na Femsa Refrigerantes -que
adquiriu a Spal, distribuidora
da Coca Cola no Brasil. Portanto não haverá ampliação
do seu poder de mercado na
área de refrigerantes.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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