São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2008

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Para analistas, rentabilidade passou para patamar menor

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O leilão do Rodoanel, que aconteceu ontem em São Paulo, consolidou a tendência de que as concessionárias de rodovias entraram definitivamente num patamar menor de rentabilidade. Iniciado em outubro com o leilão das rodovias federais, o movimento repetiu-se agora com deságios sobre o preço mínimo por volta dos 60%.
As ações da CCR chegaram a cair 5% depois que sua oferta pelo trecho Oeste do Rodoanel, com deságio de 61%, foi aceita. "A competitividade aumentou muitos nesses leilões porque o setor de infra-estrutura é a bola da vez e atrai cada vez mais investidores", diz Luiz Otávio Broad, analista da Ágora Corretora.
Para os especialistas, situações como a do ano passado, quando as concessionárias de rodovia foram líderes de rentabilidade entre as empresas de capital aberto, como mostrou estudo da Austin Rating, dificilmente voltarão a acontecer.
"A condição macroeconômica é completamente diferente, há muito mais competidores no mercado, e a rentabilidade das empresas também não será a mesma", diz Mônica Araújo, estrategista da Ativa Corretora. "Passamos para uma nova fase, mas a expectativa de crescimento ainda é forte, e a tarifa menor poderá alavancar ainda mais o tráfego, dando a nova cara do setor."
Outra tendência vislumbrada depois do leilão de ontem, dizem os especialistas, é a de que as viagens nas quais se gasta mais com pedágio do que com combustível estejam com os dias contados.
Os pedágios muito mais baratos devem levar governos estaduais e federal a rever contratos antigos, cujas tarifas são muito mais altas do que as cobradas pelas novas concessionárias. "Há diversas possibilidades, como extensão de prazos de concessão ou revisão de serviços, que interessam às empresas", diz Jacqueline Lison, analista da Fator Corretora.
Para Araújo, da Ativa, há espaço para negociações entre as concessionárias e o poder cedente. "Tarifas mais baratas podem significar fluxo adicional, e não necessariamente perda de rentabilidade", diz ela.
O mercado parece ter percebido isso no decorrer do dia. Depois de despencarem, as ações da CCR voltaram a subir e fecharam em alta de 5%. A empresa buscou tranqüilizar os investidores com uma conferência para analistas, na qual informou, entre outras coisas, que a estimativa de tráfego da Artesp (Agências de Transporte do Estado de São Paulo) está defasada em um ano e meio.
"Como é concessionária da Raposo Tavares, da Castello Branco, da Anhangüera e da AutoBan, que cortam o Rodoanel, a CCR tem números muito precisos", diz Lison, da Fator.
Além disso, a empresa também informou que prevê custos operacionais entre 30% e 40% menores, por conta da sinergia com as operações que mantém na região. As estimativas de investir R$ 800 milhões também deverão ser reduzidas. Segundo Lison, a CCR informou ter adotado novas técnicas de manutenção de pavimento rígido mais baratas e que, portanto, os gastos tendem a ser menores.
Outra expectativa da CCR é que a entrada em funcionamento do trecho Sul do Rodoanel, a partir de 2011, alavanque o tráfego no trecho Oeste em 20%. "A CCR sai fortalecida para competir por outros trechos do Rodoanel", diz Lison.


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