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COMBUSTÍVEIS
Diretor da agência diz que, se Petrobras fizer dumping, inibirá importação e impedirá abertura do setor
ANP teme preço "muito baixo" da gasolina
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Enquanto o governo calcula o
impacto negativo dos reajustes da
gasolina sobre a inflação e candidatos criticam a Petrobras por ter
seus preços alinhados com os do
mercado internacional, o diretor
de Abastecimento da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Luiz
Augusto Horta, afirma estar preocupado com o oposto: a possibilidade de a estatal baixar muito
seus preços.
Horta diz temer que a Petrobras
pratique dumping, pois está em
posição dominante no mercado
-refina mais de 95% e produz
mais de 80% do combustível que
é consumido no país hoje.
Com preços muito baixos, a estatal pode impedir, na prática, a
abertura do mercado de derivados, inibindo as importações, que
estão liberadas desde janeiro.
"Se os preços ficarem muito baixos, pode configurar dumping.
Um agente em posição dominante [o que é o caso da Petrobras"
pode fazer duas coisas: dumping
ou praticar preço abusivo", disse
Horta.
Na visão dele, porém, a Petrobras ainda não pratica nenhuma
das duas distorções de mercado
citadas.
"Estamos observando possíveis
situações de abuso ou de práticas
de preços predatórias. A ANP está
atenta."
A ANP foi criada pela mesma lei
que, em 1997, rompeu o monopólio da Petrobras na exploração de
jazidas e importação do produto.
Sua função é regular e fiscalizar as
atividades da indústria do petróleo e de seus subprodutos, como a
gasolina e o gás de cozinha.
A preocupação de Horta difere
da do candidato do governo ao
Planalto, senador José Serra
(PSDB). Ele teria pedido ao presidente Fernando Henrique Cardoso e ao ministro-chefe da Casa Civil e membro do Conselho de Administração da Petrobras, Pedro
Parente, para intervir a fim de evitar uma escalada no preço de venda da gasolina.
O candidato tucano também
contestou o alinhamento dos preços da Petrobras aos do mercado
externo.
Segundo dados da ANP, até 1º
de janeiro, data da liberação das
importações, a Petrobras praticava preços muito acima dos internacionais. Depois disso, a situação se inverteu e a estatal passou a
ter, na média deste ano, preços
menores.
Depois do último reajuste na refinaria, de 10,08%, no sábado, porém, o preço da gasolina da Petrobras ficou um pouco acima do internacional: hoje, está em cerca de R$ 0,50 por litro (sem impostos),
enquanto o valor de referência do
produto no Golfo Americano
equivale a R$ 0,48 o litro.
Horta participou de um seminário no Rio no qual Adriano Pires, professor da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de
Pós-Graduação em Engenharia
da UFRJ), afirmou que tanto a
ANP quanto o Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica) e a Seae (Secretaria de
Acompanhamento Econômico)
são omissas na fiscalização da
concorrência no mercado de
combustíveis.
Na opinião de Pires, esses órgãos deveriam ser mais ativos no
controle da política de preços da
Petrobras. Horta rebateu a afirmação: "Posso assegurar que a
agência observa toda a cadeia e de
forma alguma está omissa. O objetivo é que os preços reflitam
apenas os custos, sem distorções."
A ANP e a Petrobras negociam
com os Estados uniformizar o
ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços) de combustíveis. O imposto teria um valor fixo -e não uma alíquota em percentual-, que seria o mesmo em todo o país e incidiria apenas nas refinarias. O projeto tem de ser aprovado no Congresso e nas Assembléias estaduais.
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