São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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CONJUNTURA

Turbulência eleitoral e a deterioração dos indicadores macroeconômicos levou a um aumento do risco-país

Risco, dólar e dívidas emperram economia

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A dívida interna do governo assumiu o posto de primeiro lugar na lista de preocupações de banqueiros, analistas financeiros e economistas na semana passada.
Deterioração de expectativas, rolagem mais difícil de dívidas privadas, risco político, tudo contribui para a expectativa de que o dólar continue em alta. Em decorrência, cresce a chance de que o governo tenha de cortar ainda mais suas despesas a fim de impedir um aumento explosivo na sua dívida -28,7% dela corrigida pela variação cambial. Mais cortes tendem a diminuir a atividade econômica. Sem cortes, cresce o temor de calote e de alta de juros.
Esse impacto poderia ser compensado se o dólar recuasse. O problema é que, de agora até as eleições, vence 20,5% da parcela da dívida cambial.
Uma das pressões sobre o dólar vem da incerteza provocada por um ano de eleição. "Existe incerteza sobre qual será a atitude de um possível governo da oposição em relação à política fiscal", diz o economista Márcio Garcia, professor da PUC, no Rio de Janeiro.
Esse temor, somado a uma deterioração dos indicadores macroeconômicos brasileiros, levou a um aumento do risco-país (medida de quanto pagamos mais que os Estados Unidos para conseguir financiamento no exterior).
Percepção maior de risco tem aumentado a procura por dólares, o que acaba elevando a dívida.
Outro receio vem da dívida privada externa, porque, se as empresas tiverem dificuldades de rolar seus compromissos, o dólar poderá subir ainda mais.

Cenário deteriorado
Essa combinação de preocupações tem levado especialistas a temerem que o esforço fiscal previsto pelo governo terá de ser maior. A hipótese de disparada do dólar é acompanhada por uma alta na dívida. Foi o que aconteceu entre o dia 10 de abril e a última sexta-feira: a moeda norte-americana subiu 8,37% trazendo um aumento de R$ 15 bilhões no valor total da dívida. No início de abril, a dívida indexada ao câmbio era de cerca de R$ 180 bilhões.
O superávit primário (receitas menos despesas que excluem os gastos com juros) acertado pelo governo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para este ano é de 3,5% do PIB. Esse cenário previa que a relação entre a dívida pública líquida total (interna e externa) do governo ficaria estável em torno de 54,5% do PIB.
Mas tudo indica, segundo especialistas, que essa relação poderá aumentar até o fim do ano. O próprio Tesouro em seu plano anual de financiamento para 2002 contava com um ambiente econômico mais favorável do que o atual, que incluía, por exemplo, "cumprimento da meta inflacionária" e "relativa estabilidade cambial".
"Os acontecimentos estão longe disso. A inflação está batendo no teto da meta e o câmbio continuará oscilando", diz Fernando Ferreira, da consultoria GlobalInvest.
Para piorar, como mais de 50% da dívida interna é corrigida pela taxa pós-fixada de juros, a manutenção da Selic em níveis altos também prejudica as contas do próprio governo.
Com isso, analistas já temem que o a relação dívida pública fique acima da expectativa de 54,5% do governo. A GlobalInvest trabalha com uma previsão de 56,7%. Se isso ocorrer, o governo seria obrigado a buscar um superávit fiscal ainda maior este ano.



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