São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

Nacionalismo e Estado ganham força na Cepal

GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA

A reação à globalização ganha força a cada dia. Na semana passada foi a vez da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), que deu peso expressivo à defesa de políticas nacionais e regionais em seu encontro bienal. O documento apresentado ("Globalização e Desenvolvimento") está disponível em www.eclac.cl.
As políticas de liberalização (comercial, financeira, de investimentos e tecnologias) recebem os elogios de praxe, mas a insuficiência das políticas de estabilização é declarada abertamente. Para tentar corrigi-las, os técnicos da Cepal defendem políticas setoriais centradas no interesse nacional e a mobilização de redes políticas regionais. Claro que a própria Cepal se candidata a ser o cérebro articulador dessas redes.
Uma nota pessoal: há uns dois anos, em seminário na própria Cepal, tive uma discussão bastante acesa com uma das suas técnicas, que contribuiu para a elaboração desse documento publicado na semana passada. Na época, ela rejeitava totalmente a visão intervencionista tingida por argumentos de teor nacionalista.
Agora, Bárbara Stallings, diretora da Divisão de Desenvolvimento Econômico da instituição, subscreve uma abordagem da globalização que põe em evidência a necessidade de "estratégias nacionais para a globalização".
Em termos práticos, isso reflete uma "lição essencial da história": não basta resistir à globalização, é preciso agir, construindo uma agenda positiva.
Ainda mais decisiva é a forma de construir essa agenda. Em contraste com as receitas do FMI, por exemplo, os técnicos da Cepal agora insistem no fato de que não há "modelos de validade universal". Isso vale tanto para as políticas macroeconômicas quanto para as estratégias de investimento e de promoção da competitividade, as políticas ambientais e os modelos de proteção social.
Conclusão: há um "amplo campo de ação para a aprendizagem institucional", pois "um dos grandes erros cometidos no último quarto do século 20 foi fomentar a adoção de soluções únicas em todos esses campos, baseadas no princípio de máxima liberalização dos mercados".
E mais: a tendência a "equiparar integração bem-sucedida no mundo global com liberalização econômica leva a ignorar a natureza de muitas estratégias igualmente bem-sucedidas que não se baseavam na liberalização irrestrita dos mercados, mas em diversas formas de articulação virtuosa de Estado e mercado".
Resta saber quais serão os agentes econômicos e políticos capazes de promover e sustentar essa "articulação virtuosa".
Há dois problemas simultâneos. Um é definir o que é "virtuoso". Outro, ainda mais complicado, é identificar quem faz a pretendida articulação.
É virtuoso, por exemplo, buscar a competitividade com base no conhecimento.
A virtude também está na cooperação, pois a competição centrada nos esforços "isolados das empresas" é insuficiente.
Finalmente, a virtude está na ação do Estado, pois o "desenvolvimento de bons mercados de tecnologia e de encadeamentos produtivos depende, em grande medida, dos esforços conscientes do Estado, das associações empresariais e, especialmente, das formas de colaboração entre o Estado e o setor privado".
É quase um anticonsenso de Washington ou, nas atuais circunstâncias do poder mundial, um consenso anti-Washington.



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