São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 2005

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RISCO-PAÍS

Para secretário, tempo é necessário para deduzir relação dívida/PIB

Grau de investimento ainda leva até sete anos, diz Levy

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

Um período de cinco a sete anos ainda separa o Brasil da perspectiva de receber das agências de classificação de risco a nota de grau de investimento -status que indica que o perigo de colocar dinheiro em determinado país ou empresa é muito baixo. A avaliação é do secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy.
Segundo ele, esse é o tempo que deverá levar para que a relação entre a dívida pública brasileira e o PIB (Produto Interno Bruto) caia do atual patamar de 50,8% para 40%, percentual que permitiria a melhora da nota por parte das agências.
"Se atingirmos os 40% no médio prazo, certamente, o Brasil, nessa época, terá uma grande probabilidade de ser grau de investimento ["investment grade", na expressão em inglês] porque, certamente, a relação entre dívida e PIB, hoje, é um fator que nos segura", disse Levy, que, questionado por jornalistas, explicou que por "médio prazo" se referia a um período de cinco a sete anos.
Alguns analistas consultados pela Folha mostraram uma certa surpresa com a estimativa de Levy, pois acreditavam que o país pudesse virar grau de investimento em um período mais curto de tempo.
Segundo o secretário do Tesouro, o governo tem feito o possível para tentar reduzir a relação entre dívida e PIB -que caiu de 57,2% para 51,6% em 2004. Para ele, a tendência da nota do Brasil pelas agências, que atualmente está em torno de BB-, é de alta.
Levy voltou a afirmar que é injusto que as empresas brasileiras não tenham sua classificação de risco melhorada por conta da nota soberana do país.
"Muitas empresas são ativas nos mercados externos e não deveriam ser freadas pelo "rating" [classificação] do governo. Por isso, temos de trabalhar para melhorar o "rating" soberano", afirmou Levy, que foi um dos palestrantes do seminário "Brazil: excellence in securities transactions", ocorrido ontem em Londres e que reuniu um público de mais de 200 pessoas.
Durante sua apresentação, Levy afirmou que o governo brasileiro vem trabalhando "conscientemente" para evitar um super aquecimento da economia brasileira.
Depois, disse a jornalistas que o governo brasileiro pretende usar o total dos R$ 3 bilhões que, segundo negociação recente do país com o FMI (Fundo Monetário Internacional), poderão ser descontados da meta de superávit primário deste ano, que é de 4,25%, e investidos em projetos de infra-estrutura. Segundo o secretário, se isso ocorrer, o superávit cairá para 4,1% em 2005.

Confiança
Rodrigo Azevedo, diretor de política monetária do Banco Central, que também participou do seminário ontem, afirmou que, apesar do recente aumento da aversão a risco nos mercados financeiros, a percepção de investidores em relação ao Brasil está bastante positiva:
"As pessoas demonstraram, de maneira geral, confiança no Brasil, um grau de conforto com a estrutura macroeconômica que nós estamos implementando, num ambiente internacional que tem se tornado um pouco mais volátil e gerado um pouco mais de apreensão, em particular nas últimas semanas com o crescimento de aversão a risco", afirmou Azevedo, que teve vários encontros com investidores em Londres nos últimos três dias.
Ele afirmou ainda que os resultados de índices de inflação divulgados nesta semana -que apontaram para a queda na pressão sobre os preços- serão levados em conta na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que ocorrerá na próxima semana.


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