São Paulo, sábado, 12 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Política pode reduzir produção de petróleo

Nacionalizações e acomodação com preço alto limitam exploração em países essenciais como Venezuela, diz estudo

Petrobras é apontada como estatal forte e inovadora que financia e desenvolve ampliações na capacidade de produção do país


SHEILA MCNULTY
DO "FINANCIAL TIMES"

No setor de petróleo, o constante desenvolvimento de novas tecnologias criou o adágio "os bons campos não param de melhorar".
As empresas hoje conseguem extrair mais dos campos petroleiros do que antecipavam uma década atrás. Mas, caso não obtenham acesso a esses campos, o petróleo não poderá chegar ao mercado.
Um estudo da respeitada consultoria PFC Energy demonstra que os suprimentos petroleiros mundiais podem cair, no longo prazo, bem abaixo da crescente demanda, devido a fatores políticos que limitam a capacidade de produção em alguns países essenciais.
"O pleno impacto das nacionalizações conduzidas nos anos 1960 e 1970 está se fazendo sentir agora", diz Robin West, presidente da PFC.
Algumas importantes estatais petroleiras não estão realizando os investimentos necessários, seja porque o nacionalismo em relação aos recursos naturais as leva a bloquear empresas petroleiras internacionais dotadas de tecnologia avançada, seja porque estão lucrando tanto com os campos atuais que não vêem necessidade de reinvestir. O relatório aponta para México, Venezuela, Irã e Iraque como produtores em declínio.
Rússia e Kuait são apontados como estagnados. E a Arábia Saudita é classificada como produtor em expansão, ainda que por pequena margem e sujeita a diversas qualificações.
Lorde Truscott, subsecretário parlamentar de Energia do Reino Unido, afirma que países como a Rússia poderiam ter problemas no futuro caso as estatais petroleiras não disponham de fundos suficientes para investir em novos campos, enquanto outros países precisam atrair investimentos e tecnologia ocidental para elevar sua capacidade de produção.
A PFC aponta que o campo de Cantarell, responsável por dois terços da produção petroleira mexicana, vem enfrentando rápido declínio, mas que o desenvolvimento de capacidade de exploração marinha em profundidade elevada poderia sustentar seu ritmo de produção -se não expandi-lo.
A Venezuela poderia elevar sua produção de maneira significativa caso estimule o investimento em petróleo cru pesado. Mas a decisão do presidente Hugo Chávez de nacionalizar campos importantes, tomada neste mês, provavelmente terá o efeito oposto, já que as empresas internacionais de petróleo teriam retorno menor sobre os seus investimentos.
No Irã, as perspectivas de uma ampliação de capacidade não são favoráveis, dado o ambiente político.
O Iraque é visto como um fator imponderável. A capacidade de produção anterior à guerra era significativamente maior do que a atual, mas novos investimentos poderiam reverter a tendência de queda.
A PFC define Rússia e Kuait como produtores estagnados e afirma que a expectativa é de que o nível de extração russo se mantenha o mesmo. Sem mais capital e gestão mais eficiente, é provável que o influxo de investimentos se mantenha também estagnado. Isso parece especialmente provável dadas as declarações do presidente russo, Vladimir Putin, definindo o nível de produção atual como "apropriado".
Os esforços do Kuait para cortejar empresas petroleiras internacionais e reforçar sua produção terminaram bloqueados por controvérsias políticas. A Arábia Saudita anunciou que a demanda futura por sua produção pode estimular novos esforços, mas a estatal nacional de petróleo, Saudi Aramco, alega que ampliar demais a produção poderia resultar em esgotamento de reservas em ritmo mais rápido do que o país desejaria.
Além disso, a PFC pondera que uma grande ampliação talvez esteja além da capacidade "até mesmo de uma administradora eficaz de recursos como a Saudi Aramco". O impacto do esgotamento continuado de reservas e da estagnação na capacidade produtiva não se fará sentir ainda por algum tempo, já que outros produtores estão expandindo sua extração, muitos dos quais por meio de parcerias com empresas petroleiras internacionais.
No Cazaquistão, em Angola e na Nigéria, por exemplo, a produção está se expandindo com a ajuda de investidores externos, afirma a PFC, apontando também que o Brasil tem na Petrobras uma estatal petroleira forte e inovadora que financia e desenvolve por conta própria ampliações na capacidade de produção do país.
"A escala desses ganhos, no entanto, é limitada, e eles atingirão um pico em prazo relativamente curto", afirma a consultoria. Determinar se os produtores estagnados ou em declínio agirão para reverter sua situação, quando chegar esse momento, é algo que só o futuro fará.
"Pela primeira vez no ciclo do petróleo, as estatais do setor têm a responsabilidade majoritária de sustentar os mercados mundiais do produto em longo prazo", afirma West, o presidente da PFC. "O verdadeiro desafio é determinar se elas conseguirão cumprir sua responsabilidade de levar petróleo ao mercado."
Não se sabe se, para esses países, cumprir a responsabilidade de mercado importa mais que atender às suas necessidades internas.
Pois, como aponta Jim Mulva, presidente-executivo da ConocoPhillips, terceira maior companhia petroleira norte-americana, "o país-sede [da estatal petroleira] pode ter outros objetivos estratégicos, que limitem a rapidez com a qual ela desenvolverá seus recursos".


Tradução de PAULO MIGLIACCI

Texto Anterior: Eleição de Sarkozy deve turbinar a economia francesa
Próximo Texto: Agora, Argentina também terá biodiesel disponível em postos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.