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Política pode reduzir produção de petróleo
Nacionalizações e acomodação com preço alto limitam exploração em países essenciais como Venezuela, diz estudo
Petrobras é apontada como estatal forte e inovadora que financia e desenvolve ampliações na capacidade de produção do país
SHEILA MCNULTY
DO "FINANCIAL TIMES"
No setor de petróleo, o constante desenvolvimento de novas tecnologias criou o adágio
"os bons campos não param de
melhorar".
As empresas hoje conseguem
extrair mais dos campos petroleiros do que antecipavam uma
década atrás. Mas, caso não obtenham acesso a esses campos,
o petróleo não poderá chegar
ao mercado.
Um estudo da respeitada
consultoria PFC Energy demonstra que os suprimentos
petroleiros mundiais podem
cair, no longo prazo, bem abaixo da crescente demanda, devido a fatores políticos que limitam a capacidade de produção
em alguns países essenciais.
"O pleno impacto das nacionalizações conduzidas nos
anos 1960 e 1970 está se fazendo sentir agora", diz Robin
West, presidente da PFC.
Algumas importantes estatais petroleiras não estão realizando os investimentos necessários, seja porque o nacionalismo em relação aos recursos
naturais as leva a bloquear empresas petroleiras internacionais dotadas de tecnologia
avançada, seja porque estão lucrando tanto com os campos
atuais que não vêem necessidade de reinvestir.
O relatório aponta para México, Venezuela, Irã e Iraque
como produtores em declínio.
Rússia e Kuait são apontados
como estagnados. E a Arábia
Saudita é classificada como
produtor em expansão, ainda
que por pequena margem e sujeita a diversas qualificações.
Lorde Truscott, subsecretário parlamentar de Energia do
Reino Unido, afirma que países
como a Rússia poderiam ter
problemas no futuro caso as estatais petroleiras não disponham de fundos suficientes para investir em novos campos,
enquanto outros países precisam atrair investimentos e tecnologia ocidental para elevar
sua capacidade de produção.
A PFC aponta que o campo
de Cantarell, responsável por
dois terços da produção petroleira mexicana, vem enfrentando rápido declínio, mas que o
desenvolvimento de capacidade de exploração marinha em
profundidade elevada poderia
sustentar seu ritmo de produção -se não expandi-lo.
A Venezuela poderia elevar
sua produção de maneira significativa caso estimule o investimento em petróleo cru pesado.
Mas a decisão do presidente
Hugo Chávez de nacionalizar
campos importantes, tomada
neste mês, provavelmente terá
o efeito oposto, já que as empresas internacionais de petróleo teriam retorno menor sobre
os seus investimentos.
No Irã, as perspectivas de
uma ampliação de capacidade
não são favoráveis, dado o ambiente político.
O Iraque é visto como um fator imponderável. A capacidade de produção anterior à guerra era significativamente maior
do que a atual, mas novos investimentos poderiam reverter
a tendência de queda.
A PFC define Rússia e Kuait
como produtores estagnados e
afirma que a expectativa é de
que o nível de extração russo se
mantenha o mesmo. Sem mais
capital e gestão mais eficiente,
é provável que o influxo de investimentos se mantenha também estagnado. Isso parece especialmente provável dadas as
declarações do presidente russo, Vladimir Putin, definindo o
nível de produção atual como
"apropriado".
Os esforços do Kuait para
cortejar empresas petroleiras
internacionais e reforçar sua
produção terminaram bloqueados por controvérsias políticas.
A Arábia Saudita anunciou
que a demanda futura por sua
produção pode estimular novos esforços, mas a estatal nacional de petróleo, Saudi Aramco, alega que ampliar demais a
produção poderia resultar em
esgotamento de reservas em
ritmo mais rápido do que o país
desejaria.
Além disso, a PFC pondera
que uma grande ampliação talvez esteja além da capacidade
"até mesmo de uma administradora eficaz de recursos como a Saudi Aramco".
O impacto do esgotamento
continuado de reservas e da estagnação na capacidade produtiva não se fará sentir ainda por
algum tempo, já que outros
produtores estão expandindo
sua extração, muitos dos quais
por meio de parcerias com empresas petroleiras internacionais.
No Cazaquistão, em Angola e
na Nigéria, por exemplo, a produção está se expandindo com
a ajuda de investidores externos, afirma a PFC, apontando
também que o Brasil tem na
Petrobras uma estatal petroleira forte e inovadora que financia e desenvolve por conta própria ampliações na capacidade
de produção do país.
"A escala desses ganhos, no
entanto, é limitada, e eles atingirão um pico em prazo relativamente curto", afirma a consultoria.
Determinar se os produtores
estagnados ou em declínio agirão para reverter sua situação,
quando chegar esse momento,
é algo que só o futuro fará.
"Pela primeira vez no ciclo do
petróleo, as estatais do setor
têm a responsabilidade majoritária de sustentar os mercados
mundiais do produto em longo
prazo", afirma West, o presidente da PFC. "O verdadeiro
desafio é determinar se elas
conseguirão cumprir sua responsabilidade de levar petróleo
ao mercado."
Não se sabe se, para esses
países, cumprir a responsabilidade de mercado importa mais
que atender às suas necessidades internas.
Pois, como aponta Jim Mulva, presidente-executivo da
ConocoPhillips, terceira maior
companhia petroleira norte-americana, "o país-sede [da estatal petroleira] pode ter outros
objetivos estratégicos, que limitem a rapidez com a qual ela
desenvolverá seus recursos".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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