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Eleição de Sarkozy deve turbinar a economia francesa
Mudança política pode ser gatilho para ritmo maior de crescimento devido à grande capacidade latente no país
Reformas prometidas devem liberar setores já fortes, como transporte, energia e produtos de luxo, aquecidos pela globalização
HAMISH MCRAE
DO "INDEPENDENT"
Preparem-se para o sucesso
da França. Ou pelo menos para
uma economia francesa que,
nos próximos anos, deve realizar seu potencial de maneira
muito mais completa do que ao
longo da última geração. É bastante possível que, ao longo dos
próximos três anos, a economia
francesa supere a do Reino
Unido, algo que não acontece
de maneira consistente há uma
geração.
A razão, evidentemente, é a
mudança de liderança, com Nicolas Sarkozy sucedendo a Jacques Chirac na Presidência.
Ou melhor, isso serve como
gatilho para um ritmo mais rápido de crescimento, porque na
França existe grande capacidade latente de obter desempenho melhor. Paralelos são feitos com freqüência entre a situação atual da França e a do
Reino Unido em 1979.
Ambas as economias passaram por longos períodos de desempenho abaixo do normal,
com a inquietação trabalhista
associada a esses períodos. Nós
passamos, então, por aquilo
que, na prática, constituiu uma
revolução -um conjunto de reformas radicais que, a um custo
considerável, armaram as fundações para o boom que se seguiria. É possível alegar que a
França necessita de reformas
semelhantes, e se as fizer obterá sucesso equivalente.
O paralelo parece sedutor,
mas só tem utilidade em plano
bastante genérico. A posição
relativa que o Reino Unido ocupava em 1979 era muito pior do
que a da França atual: o PIB per
capita equivalia a 75% do francês, enquanto o da França, hoje, equivale a 90% do britânico.
As tensões trabalhistas e sociais britânicas eram muito
mais graves, as finanças públicas enfrentavam desgaste muito maior e a competitividade
era muito pior. A França não
passará por reformas radicais
como as que o Reino Unido experimentou, mas não precisa.
Exemplo alemão
Um paralelo melhor é com a
Alemanha há cinco anos. A economia alemã apresentava desempenho insuficiente, então,
com desemprego recorde e um
crescimento lento que retardava o avanço de toda a zona do
euro. A causa envolvia em parte
os altos custos de mão-de-obra
no país, em parte a decisão de
adotar o euro a uma taxa de
câmbio alta demais com relação ao marco e em parte a regulamentações internas que inibiam o crescimento do emprego no setor de serviços.
O governo alemão começou a
enfrentar essa última dificuldade, ainda que de maneira descontínua, quando Gerhard
Schröder era primeiro-ministro, e as reformas foram ampliadas sob o governo de Angela
Merkel. Enquanto isso, o problema do custo da mão-de-obra
foi atacado de maneira vigorosa
pela indústria alemã, que forçou uma queda nos salários
reais e uma elevação da jornada
de trabalho. Quando os cortes
de custos se provaram insuficientes, os industriais do país
começaram a transferir produção para a Europa Oriental.
Durante cinco anos, os padrões de vida mal avançaram
na Alemanha. Mas agora o país
voltou a ser competitivo, o desemprego está em queda e o
crescimento do ano passado foi
o melhor desde o final da década de 1990.
Mas a Alemanha não executou reformas políticas especialmente radicais. O governo reduziu de maneira cautelosa algumas das formas mais destrutivas de regulamentação. Mas
houve imensas reformas no setor privado, que trouxeram as
maiores mudanças.
Já na França, a coisa mais
fascinante em sua economia
não é o alto nível de regulamentação e tributação, mas a competência do setor privado para
enfrentar esses dois fatores. As
grandes empresas francesas se
tornaram multinacionais de alcance mundial -empresas
francesas cuidam do abastecimento de eletricidade de Londres e da alimentação do Exército dos EUA. Enquanto isso, as
pequenas empresas do país geram produtos e serviços de alta
qualidade com baixo uso de
mão-de-obra, atingindo elevados níveis de produtividade.
Evidentemente nem todas as
empresas francesas são excelentes, mas o nível geral impressiona, tendo em vista até
que ponto elas sempre foram
reprimidas em sua atuação. É
quase como se existissem em
forma de uma mola comprimida à espera de que a regulamentação seja removida. E é isso
que Sarkozy prometeu.
Globalização
Numa economia cada vez
mais globalizada, os países querem se concentrar em coisas
que são capazes de fazer e que
outras nações, do lado oposto
do mundo, não sejam capazes
de produzir com trabalhadores
muito menos bem pagos.
Os franceses dispõem de um
forte setor de transporte: carros, aviões, trens. O crescimento nessas áreas deve continuar
por pelo menos mais uma geração. Têm igualmente um setor
de produtos de luxo que é líder
mundial, com a maior fatia do
mercado de produtos de alto
preço do que qualquer outra
nação. O crescimento da riqueza mundial parece garantido
por mais uma geração, e os novos ricos significam que a demanda por produtos da França
continuará em alta.
Há o turismo, o maior setor
da economia mundial, no qual a
França é líder. O país dispõem
de outros pontos fortes na saúde, na educação para os negócios e na área de defesa, setores
que continuam em crescimento. E tem ainda a indústria de
energia nuclear mais desenvolvida do mundo.
Nenhuma economia ocupa
posição ideal para explorar os
mercados mundiais, já que todas as nações têm pontos fracos. Na França, existe um verdadeiro medo às disciplinas impostas pela economia de mercado. Desse fator poderíamos
depreender que, quanto mais
globalizada a economia se torna, maior o medo. Mas as cartas
que a França tem na mão parecem excelentes. Existem muitos países, até mesmo na Europa Ocidental, que adorariam
desfrutar das vantagens naturais de que a França dispõe.
E isso parece ser a questão
essencial para qualquer país
que esteja enfrentando o desafio da globalização. Você recebe
suas cartas, e não pode descartá-las e pedir uma nova mão.
A França tem jogado bem
com suas cartas. Sob seu novo
líder, deve jogar muito melhor.
Muitas coisas que precisam de
conserto, como a legislação trabalhista, são fáceis de resolver,
se houver apoio político. Algumas, como as reformas do setor
público, serão mais difíceis.
Os próximos dois anos provavelmente serão conturbados
já que o espírito de 1968 persiste, e os franceses adoram tumultos. Mas existe tanta capacidade reprimida na economia
que ela pode crescer durante
um bom tempo sem esbarrar
em limites estruturais.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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