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SEMENTES DA DISCÓRDIA
Após recusa da China, exportadores argentinos e brasileiros esboçam união para elevar poder de negociação
Produtores querem criar "Opep da soja"
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Produtores e exportadores argentinos e brasileiros estão esboçando a criação do que alguns definem como a ""Opep da soja", para ganhar poder de negociação
com outros países -a China,
principalmente.
A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) é o
cartel internacional que define
preços e modula a produção petrolífera.
A idéia sul-americana ganhou
força com a recusa da China a navios brasileiros carregados de soja, sob a alegação de que os grãos
estavam misturados a sementes
tratadas com fungicidas.
A atitude foi interpretada, pelos
produtores, como estratégia chinesa para baixar o preço da saca
(que chegou a R$ 52 e caiu, em razão da ação chinesa, para R$ 38).
A expressão ""Opep da soja" foi
cunhada pelo produtor argentino
Gustavo Grobopocatel, o ""rei da
soja", que defende o grupo incluindo Estados Unidos, Brasil e
Argentina -na ordem, primeiro,
segundo e terceiro maiores produtores de soja do mundo. Grobopocatel não está isolado na Argentina. Produtores de Buenos
Aires e Rosario se colocam a favor
de uma entidade reguladora.
No Brasil, a medida está longe
de ser unânime. Líderes de entidades do setor defendem a criação de um organismo, mas evitaram a expressão ""Opep" e colocam em dúvida a participação dos
EUA. O termo Opep não é bem
aceito porque estaria desgastado
em razão das intervenções feitas
no comércio mundial de petróleo,
produto com características diferentes das da soja.
Os brasileiros que incorporam a
proposta a restringem a definições de regras comuns para padrões de qualidade e peso. Alguns
acham possível estabelecer preços
para se descolar dos determinados pela Bolsa de Chicago.
O exportador brasileiro Antônio Luís Bianchini é um que não
se entusiasma com a idéia em razão das características próprias da
soja (produto agrícola renovável e
com alternativas) e do petróleo
(esgotável e indispensável).
""Seria difícil colocar em prática
essa idéia", afirmou, fazendo coro
com técnicos da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de
Óleo Vegetal).
Mesmo assim, argentinos insistem, e outros brasileiros -que
não querem expor seus nomes-
são entusiastas. O corretor argentino Ricardo Baccarin diz que o
grupo seria ""a única forma de fazer frente à China".
Brasileiros evitam falar no assunto justamente por temerem
represálias chinesas. Dizem que a
união entre Brasil e Argentina
lhes daria mais poder para fazer
frente à China.
Unindo forças
Os defensores da idéia dizem
que, juntos, Brasil e Argentina superam os EUA como principal
produtor mundial -produzem
cerca de 90 milhões de toneladas
contra um máximo de 80 milhões
dos norte-americanos.
Outro dado, porém, explica o
entusiasmo argentino: o Brasil exporta 30% da sua produção para a
China; os EUA, 40%; a Argentina,
75%. Ou seja, a dependência do
país vizinho em relação aos chineses é superior.
O presidente da brasileira Anec
(Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), Sérgio Mendes, procurado pela Agência Folha, evitou comentários.
""Se isso um dia ocorrer, teria de
envolver apenas Brasil e Argentina, porque temos interesses conflitantes com os EUA [como os
subsídios norte-americanos à
produção agrícola em geral]",
afirmou.
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