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São Paulo, sábado, 12 de julho de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Meirelles diz que política monetária não será afrouxada

BC vê inflação sob controle, mas deve manter arrocho

Felipe Varanda/Folha Imagem
Henrique Meirelles, presidente do BC, no intervalo de palestra de seminário da instituição, no Rio


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que "o descontrole inflacionário" não existe mais, mas que nem por isso o BC irá afrouxar a política monetária -ou seja, fazer grande corte da taxa de juros.
"À luz dos recentes resultados [de inflação] obtidos, entendemos que a política monetária deve continuar a se orientar de forma a garantir que a desaceleração da inflação seja sustentável", disse.
Um sinal de que o BC pretende manter uma política conservadora é que será "perseguido" o centro da meta de inflação em 2004, de 5,5%, sem considerar o intervalo de 2,5 pontos para cima ou para baixo. "O BC está baseando suas ações na convergência para o centro da meta", disse Meirelles, durante discurso de abertura do seminário "Política Monetária: Choques e Eficácia", promovido pela instituição no Rio.
Segundo o presidente do BC, "o combate à inflação é um esforço continuado". "O BC não poderia sancionar o processo de volta da inércia inflacionária. Não o fizemos e não o faremos."
Mais tarde, em entrevista, Meirelles reforçou sua tese: "O que conseguimos no Brasil foi eliminar a ameaça de descontrole inflacionário, de aceleração da inflação. Mas, em nenhum momento, podemos dizer que não precisamos mais lutar contra a inflação".
Questionado sobre o comportamento dos índices de preços (que apresentaram deflação), Meirelles respondeu: "Faz parte da trajetória de convergência da inflação para as metas do Banco Central". Ressaltou, novamente, que o BC "está sempre alerta" e que a inflação "demanda sempre uma atenção constante".
Ao comentar o IPCA (índice oficial de inflação) de junho -deflação de 0,15%- o presidente do BC disse que o resultado "foi importante, mas não deve se repetir em julho, por causa dos reajustes de energia e telefonia fixa".
Meirelles não quis falar sobre a tendência futura dos juros. Indagado sobre a previsão do ministro Antonio Palocci (Fazenda) de que a taxa básica de juros estará a 20% no fim do ano, foi lacônico: "O BC não faz previsão sobre a trajetória dos juros. Faz previsão sobre a trajetória de inflação".
Em seu discurso, Meirelles defendeu a opção do governo de adotar metas de inflação mais flexíveis. Para 2003, a meta foi fixada em 8,5%, contra uma meta original de 4%, com tolerância de 2,5 pontos para mais ou menos.
Ao ajustar as metas de 2003 e 2004, afirmou, o BC conseguiu que as expectativas do mercado financeiro e as do próprio BC em relação à inflação futura convergissem. Segundo Meirelles, hoje as projeções do mercado para o IPCA nos próximos 12 meses apontam uma taxa de 6,75% -a previsão do BC é de 7,2%.
A mudança das metas, afirmou, possibilitou também "custos menores para a sociedade em termos de inflação e crescimento". Com a afirmação, Meirelles quis transmitir o seguinte recado: se as metas não tivessem sido modificadas, a retração da atividade econômica seria maior, uma vez que os juros teriam de ser mais altos. Na visão dele, as novas metas também reduzem a possibilidade de reindexação da economia e de "retroalimentação" da inflação.


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