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São Paulo, sábado, 12 de julho de 2003

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Ex-presidente do banco critica falta de compromisso com taxa de câmbio

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Marcado pelos elogios à política monetária do governo e por estimativas de retomada do crescimento, o seminário "Política Monetária: Choques e Eficácia", promovido ontem pelo Banco Central, no Rio, teve como única voz discordante o ex-presidente do BC Fernão Bracher (1985/1987).
Ele pediu que o BC "explicite" seu compromisso com uma taxa de câmbio que não prejudique as exportações, ainda que não defina a taxa, "em vez de ficar falando que o câmbio flutuante é o que flutua" -para ele, essa afirmação não é verdadeira porque, dependendo do caso, "qualquer banco central intervém no câmbio".
Atualmente na presidência do banco Itaú BBA, Fernão Bracher acredita que o câmbio de equilíbrio para o comércio exterior está atualmente entre R$ 3,10 e R$ 3,50 por dólar. Ontem, a moeda norte-americana fechou a R$ 2,894.
Bracher disse que o desequilíbrio no balanço de pagamentos, efeito direto do câmbio sobrevalorizado, é, historicamente, o problema mais grave da economia brasileira.
O banqueiro foi questionado por participantes do seminário, incluindo Armínio Fraga, ex-presidente do BC.
Fraga, que implantou no Brasil o regime de metas de inflação como instrumento de controle das variáveis macroeconômicas, pediu que Bracher explicitasse que regime cambial estava propondo. Bracher não respondeu claramente. "O regime é o governo colaborar e não ficar com inverdades, dizendo que não irá intervir [no câmbio]", afirmou.
Diplomático, Fraga disse que as ponderações de Bracher eram importantes, mas que, a fim de se chegar "ao mundo" do câmbio flutuante, mas equilibrado, é preciso "investir nos fundamentos" da economia. Afirmou ainda que o BC não deixou de atuar sobre o câmbio nos momentos de crise extrema, em 2001 e em 2002 (por meio da venda diária de dólares).
A tônica das intervenções dos demais participantes do seminário foi a de que governo agiu corretamente para baixar a inflação e que a hora é de cortar os juros para permitir a retomada gradual do crescimento econômico.
O economista Edmar Bacha, consultor do banco BBA Creditanstalt e ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), disse haver condições para o país chegar ao quarto trimestre de 2004 com um crescimento anualizado na casa dos 4%.
Affonso Celso Pastore, que também foi presidente do BC (1983-85), disse que o país tem condições de crescer acima da média de 2,5% dos últimos 20 anos, mas ressalvou que crescimento de 5% depende de ajustes que vão além da simples queda da taxa de juros.


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