São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Mercado imobiliário à beira do colapso

DO "FINANCIAL TIMES"

COM O preço do barril de petróleo acima de US$ 146 e a oscilação nos mercados mundiais de ações, o tumulto na economia mundial se agravou durante esta semana. Mas o acontecimento mais notável foi o fato de que velhos pecados socialistas agora terão de ser pagos nos Estados Unidos, a terra do capitalismo de livre mercado.
Os problemas afetam duas empresas de financiamento hipotecário coloquialmente conhecidas como Freddie Mac e Fannie Mae e definidas como "empresas patrocinadas pelo governo". O significado exato dessa descrição pode ser revelado em breve.
Com um passivo combinado de US$ 5,3 trilhões, o equivalente a cerca de 38% do PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos, essas imensas companhias são universalmente vistas como grandes demais para falir.
Já que respondem por cerca de três quartos das novas hipotecas, elas também são importantes demais para que se permita que cheguem à falência.
Caso deixem de existir, o mercado de habitação poderia entrar em colapso, devastando a estabilidade financeira norte-americana.
Mas, se o governo federal tiver de incorporar as dívidas das duas empresas às suas contas, seu passivo financeiro bruto passaria a exceder os 100% do PIB. Felizmente, as coisas ainda não se agravaram a esse ponto, já que os ativos das duas instituições continuam a ter valor.
O verdadeiro problema, demonstrado pela queda vertiginosa nos preços de suas ações, é que o capital de que dispõem parece insuficiente para sustentar seus passivos, dada a escala dos possíveis prejuízos.
William Poole, ex-presidente do Federal Reserve de St. Louis, argumentou nesta semana que a Freddie Mac teria de ser considerada insolvente caso o valor de seus ativos fosse estimado a preços de mercado.
Se for acatada a suposição de que manter a capacidade das duas gigantes para emprestar é fundamental, existam apenas duas saídas: as duas teriam de levantar imensos montantes em capital adicional ou o governo teria de garantir seus passivos de maneira explícita.
Em seu depoimento ao Congresso nesta semana, Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, encorajou as duas instituições a levantar dinheiro.
Isso certamente seria dispendioso para os acionistas existentes e arriscado para os novos. O governo mesmo poderia investir nessa operação de aumento de capital. Alternativamente, o governo poderia assumir controle direto sobre uma ou ambas as empresas, presumivelmente zerando o valor das ações em circulação.
O nome do processo, aparentemente, seria "conservadoria". Do lado oposto do Atlântico, o termo usado seria "nacionalização". E a decisão faria com que a nacionalização do Northern Rock pelo governo britânico parecesse não mais do que uma bagatela.
Os problemas da Fannie Mae e Freddie Mac são importantes em si. Mas são ainda mais importantes pelo que nos dizem sobre a crise em curso: ela continua a se expandir. Os preços das casas continuam a cair nos Estados Unidos, os prejuízos do setor financeiro devem aumentar, o crédito continua apertado, a economia norte-americana continua fraca, o consumo domiciliar está sob pressão cada vez mais intensa e os preços do petróleo estão subindo ainda mais.
Enquanto isso, o Departamento do Tesouro e o banco central estão improvisando desesperadamente. Os mercados de ações ao menos perceberam até que ponto as coisas estão difíceis. Apenas os mais otimistas acreditariam que o pior está por vir. A crise, na verdade, está se agravando.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


Texto Anterior: Bolsas mundiais perdem US$ 4,7 tri no ano
Próximo Texto: César Benjamin: O BC tomou o poder
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.