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ANÁLISE
Mercado imobiliário à beira do colapso
DO "FINANCIAL TIMES"
COM O preço do barril de
petróleo acima de US$
146 e a oscilação nos
mercados mundiais de ações, o
tumulto na economia mundial
se agravou durante esta semana. Mas o acontecimento mais
notável foi o fato de que velhos
pecados socialistas agora terão
de ser pagos nos Estados Unidos, a terra do capitalismo de livre mercado.
Os problemas afetam duas
empresas de financiamento hipotecário coloquialmente conhecidas como Freddie Mac e
Fannie Mae e definidas como
"empresas patrocinadas pelo
governo". O significado exato
dessa descrição pode ser revelado em breve.
Com um passivo combinado
de US$ 5,3 trilhões, o equivalente a cerca de 38% do PIB
(Produto Interno Bruto) dos
Estados Unidos, essas imensas
companhias são universalmente vistas como grandes demais
para falir.
Já que respondem por cerca
de três quartos das novas hipotecas, elas também são importantes demais para que se permita que cheguem à falência.
Caso deixem de existir, o
mercado de habitação poderia
entrar em colapso, devastando
a estabilidade financeira norte-americana.
Mas, se o governo federal tiver de incorporar as dívidas das
duas empresas às suas contas,
seu passivo financeiro bruto
passaria a exceder os 100% do
PIB. Felizmente, as coisas ainda não se agravaram a esse ponto, já que os ativos das duas instituições continuam a ter valor.
O verdadeiro problema, demonstrado pela queda vertiginosa nos preços de suas ações, é
que o capital de que dispõem
parece insuficiente para sustentar seus passivos, dada a escala dos possíveis prejuízos.
William Poole, ex-presidente
do Federal Reserve de St. Louis, argumentou nesta semana que a Freddie Mac teria
de ser considerada insolvente
caso o valor de seus ativos fosse
estimado a preços de mercado.
Se for acatada a suposição de
que manter a capacidade das
duas gigantes para emprestar é
fundamental, existam apenas
duas saídas: as duas teriam de
levantar imensos montantes
em capital adicional ou o governo teria de garantir seus passivos de maneira explícita.
Em seu depoimento ao Congresso nesta semana, Ben Bernanke, presidente do Federal
Reserve, encorajou as duas instituições a levantar dinheiro.
Isso certamente seria dispendioso para os acionistas existentes e arriscado para os novos. O governo mesmo poderia
investir nessa operação de aumento de capital. Alternativamente, o governo poderia assumir controle direto sobre uma
ou ambas as empresas, presumivelmente zerando o valor
das ações em circulação.
O nome do processo, aparentemente, seria "conservadoria". Do lado oposto do Atlântico, o termo usado seria "nacionalização". E a decisão faria
com que a nacionalização do
Northern Rock pelo governo
britânico parecesse não mais
do que uma bagatela.
Os problemas da Fannie Mae
e Freddie Mac são importantes
em si. Mas são ainda mais importantes pelo que nos dizem
sobre a crise em curso: ela continua a se expandir. Os preços
das casas continuam a cair nos
Estados Unidos, os prejuízos
do setor financeiro devem aumentar, o crédito continua
apertado, a economia norte-americana continua fraca, o
consumo domiciliar está sob
pressão cada vez mais intensa e
os preços do petróleo estão subindo ainda mais.
Enquanto isso, o Departamento do Tesouro e o banco
central estão improvisando desesperadamente. Os mercados
de ações ao menos perceberam
até que ponto as coisas estão difíceis. Apenas os mais otimistas
acreditariam que o pior está
por vir. A crise, na verdade, está
se agravando.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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