São Paulo, domingo, 12 de julho de 1998

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Eleições de hoje no Japão não garantem ajuste

GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas

O Japão vai às urnas hoje. Para alguns analistas, o governo japonês estaria adiando medidas mais fortes de ajuste, como fechar alguns bancos e socorrer outros, ou reduzir impostos, até as eleições.
O cenário político japonês, como tudo no país, muda gradualmente. Pesquisas mostram que o Partido Liberal Democrático (PLD) continuará hegemônico. Mas o Partido Comunista Japonês, por exemplo, deverá dobrar sua participação parlamentar.
Na economia, a única diferença entre boa parte dos partidos é o tamanho do corte de impostos prometido. Sintomaticamente, entretanto, o PLD não divulgou qual seria a sua proposta de redução de impostos. É isso que afinal deixa os observadores ocidentais irritados com a elite japonesa.
Além das reduções de impostos residenciais, sobre a renda e locais, alguns dos partidos de oposição gostariam de cancelar o aumento do imposto sobre o consumo (que foi de 3% para 5%). O PLD não tem esse compromisso.
Nas últimas duas semanas, entretanto, o primeiro-ministro Ryutaro Hashimoto foi praticamente obrigado a abraçar com intensidade crescente a proposta de redução de impostos. A cada declaração sua, vaga ou inconclusiva com relação ao tema, o iene sofria um ataque especulativo. A princípio, ele teria assumido apenas o compromisso com cortes temporários de impostos. Na semana passada, ele aderiu à tese da redução permanente, restrita a impostos residenciais e sobre a renda.
Os ocidentais continuam irritados. O Japão tem sido acusado de lentidão nas reformas do sistema financeiro e de insuficiência na promoção do crescimento.
Entretanto, a opção pela redução de impostos de fato não é consensual como forma de estimular a economia, na teoria e na prática. Um dos mais importantes jornais econômicos do Japão, o "Nihon Keizai Shimbun", realizou há poucas semanas uma pesquisa sobre o assunto entre consumidores, em conjunto com o "Nikkei Research Institute of Industry and Market" (Instituto Nikkei de Pesquisa Industrial e de Mercado).
O resultado revelou que o consumidor japonês provavelmente não responderia a um corte de impostos da forma esperada pelo modelo convencional de política econômica. Para 76,1% dos entrevistados, não haveria mudança nos hábitos de consumo. Outros 7,4% aumentariam "até certo ponto" o consumo, e só 0,3% consumiriam muito mais.

Desemprego
O mistério não é tão insondável. O mercado de trabalho japonês passa por abalos como não se via há décadas. O consumidor é também um trabalhador que, se não está desempregado, percebe claramente que as mudanças não tendem a favorecer os assalariados.
Obviamente, quem teme o desemprego ou algum benefício social não optará por gastar mais se o governo cortar impostos.
É outra dessas inconsistências que fazem a ruína das teorias. Os especialistas pedem menos impostos e "flexibilização" do mercado de trabalho japonês. Tudo para estimular as empresas a investir e exportar mais. Mas as duas medidas juntas abalam as expectativas do consumidor japonês. Habituado a poupar, ele poupará ainda mais diante da incerteza geral que abala o seu país.



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