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PREÇOS
Planalto resolveu sair da defensiva para a ofensiva política em apenas cinco dias; medidas visam proteger classe média
Decisão de endurecer foi tomada por FHC
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A decisão de recrudescer contra
o que o governo considera abuso
de poder econômico e contra os
postos de gasolina foi tomada pelo presidente Fernando Henrique
Cardoso há apenas cinco dias,
quando o Planalto resolveu sair
da defensiva para a ofensiva política.
Acossado pelas denúncias contra o ex-secretário-geral da Presidência da República, Eduardo
Jorge Caldas Pereira, mas aliviado
com o depoimento dele no Senado, o presidente foi orientado por
conselheiros políticos a "gerar fatos positivos".
As medidas anunciadas ontem
estão nesta categoria.
Fernando Henrique Cardoso
discutiu a questão com o ministro
da Casa Civil, Pedro Parente, e o
encarregou de acionar os ministérios da Fazenda, da Justiça e de
Minas e Energia. Eles deram viabilidade técnica às medidas.
Além de bons argumentos econômicos, num momento de alta
pelo menos temporária da inflação, as medidas têm um evidente
efeito político.
Em tese, foram elaboradas para
proteger o consumidor de classe
média do que o governo considera a ganância de um segmento, o
de postos revendedores de combustíveis, que depende de concessão estatal.
O preço dos combustíveis -gasolina e álcool- foi um dos principais fatores do aumento da taxa
de inflação em julho, a maior em
cinco anos.
Os setores de classe média são
os mais sensivelmente atingidos
pelo desemprego em época de recessão econômica. E são considerados, também, os que têm maior
poder de pressão política na sociedade.
Sem tabelamento
Conforme o secretário de
Acompanhamento Econômico
do Ministério da Fazenda, Claudio Considera, o governo está
apenas tentando impedir que a
formação de cartéis ameace a livre
concorrência.
"Não voltaremos ao tabelamento de preços. Ao contrário, é papel
do Estado garantir a liberdade dos
mercados e é justamente por isso
que estamos agindo", disse à Folha.
Esse é um discurso que tem tom
de advertência econômica e claro
apelo político, o que Considera
não nega. Ele destaca, inclusive,
que é legítimo o governante combinar as duas coisas.
Depois de cinco anos batendo
na tecla do liberalismo, com o
mercado agindo praticamente
sem limites, o governo aproveita a
chamada "crise EJ" e dá uma guinada levemente mais intervencionista.
Depois de acertos no próprio
setor de distribuição de gasolina e
também no setor de medicamentos, o pacote de ontem contém
três instrumentos.
Foram duas MPs (medidas provisórias) e um decreto. A primeira
MP, que estava em estudos havia
oito meses na Fazenda, foi inspirada nos Estados Unidos e estimula formadores de cartéis a delatar parceiros em troca de punições reduzidas.
A segunda medida provisória,
que deslanchou há apenas uma
semana e é da lavra do Ministério
de Minas e Energia, faz parte da
investida contra os postos de gasolina.
Concessão
Eles atuam em regime de concessão da União e seus donos passam
a ficar sujeitos não só à cassação
do registro como à proibição de
atuar no mercado durante cinco
anos.
O decreto, que é originariamente do Ministério da Justiça e também é novo, cria um grupo de trabalho para reformar o sistema oficial de defesa da livre concorrência.
O objetivo é reaglutinar órgãos e
secretarias para melhor investigar
abuso de preços, parcerias ilícitas,
concentrações e cartéis. Tudo isso, analisa o governo, soa como
música ao ouvido do consumidor.
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