São Paulo, sábado, 12 de agosto de 2000


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RECUPERAÇÃO
Taxa sobe para 0,25%, pondo fim a 17 meses de "política de juro zero"; governo do Japão desaprova a alta
BC japonês sobe juro pela 1ª vez na década

CÁTIA LASSALVIA
DA REDAÇÃO

O Banco do Japão (BC japonês) elevou ontem a taxa básica de juros para 0,25% ao ano, encerrando uma década de taxas decrescentes.
Desde fevereiro do ano passado, os juros da segunda maior economia do mundo estavam zerados para estimular a recuperação do país, que entrou em recessão depois da crise asiática em 1998.
A alta nos juros vai encarecer os empréstimos bancários, apesar de remunerar melhor os aposentados e aqueles que dependem de aplicações financeiras.
Segundo o Banco do Japão, os juros maiores não impedirão o crescimento do país, "que já possui força econômica suficiente para suportar a taxa em 0,25%".
Nos três primeiros meses deste ano o Japão cresceu 2,5% em relação ao trimestre anterior, depois de dois anos de recessão.
O Banco do Japão também acredita que o perigo da deflação -afastado pela "política de juros zero", que estimulava o consumo e o investimento em produção- não existe mais.

Conflito
A alta, votada pela maioria dos economistas do BC, foi contrária à posição do governo japonês, que preferia esperar mais um mês para que fosse divulgado o Produto Interno Bruto (PIB) do país no primeiro semestre.
A medida aumenta as divergências entre o primeiro-ministro do Japão, Yoshiro Mori, e o presidente do banco central do país, Masaru Hayami.
O governo teme que taxas maiores atrapalhem a recuperação do país, depois de uma década de fraco desempenho econômico.
Taxas mais altas também encarecerão os empréstimos de dezenas de trilhões de ienes que o governo precisa para financiar suas políticas de grandes gastos.
Hayami vinha defendendo a alta nas taxas há alguns meses, argumentando que a "política de juros zero" desencorajava as reformas estruturais, limitava a remuneração dos pensionistas e aposentados e destruía o sistema financeiro.
No entanto o custo dos empréstimos ainda é baixo no país se comparado a outras economias. Nos EUA, a taxa de juros está em 6,5% ao ano, e na União Européia, em 4,25%.
O maior custo de empréstimos deve incomodar principalmente os pequenos e médios empresários japoneses. Os setores mais afetados serão o da construção civil, varejo e mercado imobiliário, que são os mais endividados.

Ato simbólico
Se a elevação de ontem for um ato isolado e não gerar aumentos em série, existe pouco para se preocupar, dizem analistas.
"A taxa zero foi um símbolo de resistência à crise. A alta pode ser vista como uma nova etapa da economia japonesa", disse o economista-chefe do ING Barings Securities Japan, Richard Jerram.
No mês passado, a quebra do Sogo, uma das principais cadeias varejistas do Japão, aumentou as pressões para que o banco central não elevasse os juros.
"A quebra do Sogo não gerou nenhuma preocupação significativa", disse o BC depois da reunião de nove horas e meia.
Na opinião de Robert Alan Feldman, economista-chefe do Morgan Stanley Dean Witter em Tóquio, a decisão pode ter sido apressada. "Parece que manter uma posição independente foi mais importante do que a microeconomia", disse Feldman.


Com agências internacionais

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