São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 2002

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A ÁGUIA POUSOU

Como o consumo representa 65% do PIB, queda de renda das famílias deve reduzir a expansão do país

Salário baixo pode abater economia dos EUA

DO "NEW YORK TIMES"

A fraca recuperação dos salários pode colocar em risco a já frágil retomada da economia norte-americana. No segundo trimestre deste ano, o total de salários pagos pelo setor privado nos EUA foi de US$ 4,15 trilhões. Apesar de ter se recuperado em relação aos últimos trimestres do ano passado, o valor ainda é inferior ao que era pago no início de 2001, quando a economia entrou em recessão.
A estagnação dos salários preocupa parte dos analistas porque ela pode significar, nos próximos trimestres, redução dos gastos de consumo dos norte-americanos. Como o consumo representa mais de 65% do PIB (Produto Interno Bruto -soma de toda a riqueza produzida no país em um ano) norte-americano, um aperto no orçamento das famílias poderia transformar o fraco crescimento registrado no segundo trimestre, de 1,1%, em recessão.

Corte de gastos
Poucos ou nenhum aumento nos últimos trimestres, redução de horas extras e aumento do custo dos seguros de saúde estão fazendo minguar os salários. A recuperação ou não da economia dependerá da maneira como os norte-americanos irão reagir ao aperto, afirma Richard Curtin, diretor da Pesquisa de Confiança do Consumidor da Universidade de Michigan. "E elas estão começando a cortar gastos", diz Curtin.
Em 2001, a perda no total de salários pagos, em termos reais -ou seja, com os valores ajustados pela inflação-, chega a US$ 110 bilhões. Nos dois primeiros trimestres deste ano, uma recuperação devolveu US$ 29 bilhões aos bolsos dos trabalhadores, mas eles ainda recebem US$ 70 bilhões a menos do que no final de 2000.
"É incrível o quão persistente tem sido a desaceleração dos salários", diz Jared Bernstein, economista do EPI (Instituto de Política Econômica, na sigla em inglês). Para Bernstein, a demora da recuperação é sinal do quanto o boom ocorrido na década de 1990 havia pressionado o mercado de trabalho e os salários.
As baixas taxas de crescimento e a alta do desemprego -a taxa de desemprego, que rondou os 4% durante 2000, bateu em 5,9% em julho de 2002- também têm minado o poder de negociação dos empregados: os trabalhadores começaram a pagar uma proporção maior dos custos dos seguros saúde, que têm subido. "Os lucros estão menores. Então os empresários têm que transferir parte dos custos para os empregados. Como está cada vez mais difícil arranjar um emprego, as empresas não precisam se preocupar com a debandada de funcionários", diz James Foreman, diretor da consultoria Towers Perrin.
Para parte dos analistas, não há motivo para pessimismo. Outras medidas de renda, que incluem itens como os pagamentos de aposentadorias e seguros-desemprego, subiram. Alguns especialistas apontam para essa alta para justificar as previsões de recuperação econômica. Ainda assim, quem defende que a queda na renda pode comprometer o crescimento lembra que nenhuma das duas medidas leva em conta os ganhos ou perdas no mercado de ações. Ou seja: ambas ignoram qual será o efeito na queda nos preços das ações nos gastos de consumo dos norte-americanos.

Queda na renda
"O que nós estamos vendo é uma forte queda na renda disponível para consumo, não importa a fonte", afirma Lee Price, economista-chefe do Comitê do Orçamento do Senado dos EUA.
Segundo estimativas, a perda sofrida pelos salários pode comprometer um ponto percentual do crescimento, já que o total de salários pagos corresponde a cerca de 40% do PIB dos EUA.


Com agências internacionais

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