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São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2003

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MONTADORAS

Para ministro, fabricantes têm problema estrutural, de excesso de capacidade, e queda de imposto é paliativo

IPI menor de carro é só aspirina, diz Furlan

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse ontem que a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) concedida ao setor automotivo é ""um paliativo, uma aspirina". Para o ministro, a crise é decorrente de problemas estruturais, como o excesso de capacidade instalada nas montadoras.
"Redução de IPI é um paliativo, uma aspirina, um remédio para dor de cabeça. Os problemas que afetam a indústria vão muito além da questão tributária", afirmou Furlan, durante seminário promovido pela própria Anfavea (a associação das montadoras).
Uma semana atrás, o governo reduziu de forma provisória em três pontos percentuais a alíquota de IPI dos carros com até 2.000 cilindradas, a fim de diminuir os preços finais ao consumidor e estimular vendas. A medida estará em vigor até 30 de novembro.
O ministro argumentou que o menor imposto servirá somente para desovar os estoques dos pátios das montadoras. Ou seja, não significa garantia de retomada sustentável das vendas. "A experiência mostra que essa medida [IPI menor] não resolve os problemas do setor. Funciona apenas para desovar estoque", disse.
No acumulado do ano, o número de veículos novos comercializados no mercado interno soma 761,3 mil unidades, 8,3% a menos que de janeiro a julho de 2002. De acordo com a Anfavea, em julho as fábricas e as concessionárias mantinham em seus pátios o equivalente a 44 dias de produção. Em junho, eram 49 dias.
Segundo o ministro, a saída seriam "soluções permanentes para planejamento do setor". "Permitiriam à cada cadeia produtiva se adequar à demanda do mercado e ao governo buscar acordos comerciais [para exportações]."
Em sua apresentação, Furlan não poupou as montadoras. Afirmou que "setor que só se sustenta com taxa de câmbio e isenção fiscal tem alguma coisa de errada".
Aludia, no primeiro caso, ao impulso que as exportações das montadoras registram desde o final de 2002 -no acumulado de janeiro a junho de 2003, são 35,4% superiores às de mesmo período do ano passado-, resultado da combinação de câmbio desvalorizado e necessidade de vendas do setor ao exterior para compensar a menor demanda interna.
Mais tarde, ao ser indagado sobre o comentário, o ministro preferiu minimizar: "Estamos em uma situação de transição, em que todos sofrem e ninguém tem razão. Mesmo quem reclama".
Ainda em seu discurso, Furlan afirmou que, a despeito do ""barulho" que fizeram para obter a redução do IPI, as estimativas apontam para produção de 1,8 milhão de unidades neste ano, mesmo volume de 2002. "Mesmo com todo o barulho não haverá queda de produção. Parte dessa produção foi deslocada para as exportações", argumentou.
Neste caso, não contemporizaria quando da entrevista. "Houve erro [de organização]. A produção deste ano será a mesma de 2002 e, no ano passado, não houve represamento de carros nos pátios."
O ministro também lembrou que a capacidade instalada do setor supera em muito a demanda. As montadoras no Brasil têm capacidade para produzir 3,2 milhões de veículos. "A capacidade instalada é muito maior que a demanda. E essa demanda não cresce não somente por problemas de preços, mas está muito ligada à questão da renda da população, financiamento e taxas de juros."


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