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COMÉRCIO MUNDIAL
Nova proposta deveria ter saído ontem
Reunião ministerial da OMC ainda esbarra em negociações agrícolas
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
A Conferência Ministerial da
OMC (Organização Mundial do
Comércio), marcada para setembro em Cancún, caminha para
um desfecho melancólico, na medida em que a União Européia e
os Estados Unidos, as duas grandes usinas comerciais do planeta,
não conseguem desfazer o nó na
negociação agrícola.
As duas potências mundiais deveriam ter apresentado ontem aos
demais 144 países-membros da
organização um documento conjunto sobre a liberalização do setor agrícola.
Não conseguiram, apesar de
frenéticos esforços que incluíram
uma videoconferência que varou
a noite do sábado entre seus principais negociadores comerciais.
Pediram novo prazo, que irá até
amanhã às 18h (em Genebra, QG
da OMC, 13h em Brasília).
Mas já avisaram que, se conseguirem produzir um documento,
será o que o jargão diplomático
chama de "moldura". Ou seja, o
documento não conterá números
sobre a liberalização agrícola, embora tanto Washington como
Bruxelas jurem que a proposta a
ser apresentada será palatável para os demais países.
Insatisfação
É pouco provável, no entanto,
que satisfaça países como o Brasil,
que condicionam qualquer concessão em outras áreas da negociação comercial à abertura do comércio agrícola.
Afinal, União Européia e Estados Unidos saíram da miniconferência ministerial de Montréal, no
fim do mês passado, com a incumbência de encontrar uma fórmula (numérica) intermediária
entre as duas que estavam sobre a
mesa até então.
Uma delas propõe uma modesta redução de 36% nas tarifas de
importação de bens agrícolas,
com um corte mínimo de 15%.
Tem o apoio de 75 países, entre
eles União Européia, Coréia do
Sul, Japão e Suíça.
A segunda fórmula é mais ambiciosa: corta todas as tarifas para
um máximo de 25%. É, obviamente, a preferida pelo Brasil (e
também por Estados Unidos, pela
China e pelo Grupo de Cairns,
formado pelos grandes exportadores agrícolas).
Se uma moldura sem números é
o máximo que europeus e norte-americanos se dispõem, agora, a
oferecer, fica claro que dificilmente se conseguirá avançar nos números na reunião da OMC em
Cancún.
O embaixador brasileiro em Genebra, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, diz que mantém ainda uma
"expectativa benevolente".
Mas já trabalha com a hipótese
de que a verdadeira liberalização
agrícola seja deixada para depois
de Cancún.
Se for assim, todos os demais
itens da agenda também ficam
em banho-maria. "O Brasil vai
julgar todos os demais pontos da
negociação pelo que houver de
avanço em agricultura", antecipa
o embaixador.
Como parece pouco provável
que haja muito em agricultura, é
igualmente pouco provável que se
consigam avanços nas demais
áreas.
Conferências ministeriais, como a de Cancún, são a principal
instância decisória da Organização Mundial do Comércio. Logo,
suas reuniões são fundamentais
para qualquer rodada de negociação comercial, como a que foi lançada há um ano e meio, na ministerial de Doha (Qatar).
Nesta, decidiu-se negociar a
Agenda Doha de Desenvolvimento, que inclui, a rigor, todos os
bens que o ser humano produz e
comercializa entre fronteiras.
Mas tal ambição continua esbarrando até agora justamente
nos bens de mais antiga produção
e comercialização no planeta, que
são os agrícolas.
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