São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Globalização reforça liderança americana

Com empresas cada vez mais internacionalizadas, perdas nos EUA, a maior economia mundial, refletem-se em outros países

Posição central que os EUA tinham nos mercados devido à sua condição de propulsor global agora se deve ao fato de ser o epicentro para o risco

DO "FINANCIAL TIMES"

Por que a Europa segue a liderança de Wall Street de forma tão submissa quando as economias de suas nações parecem ocupar estágio diferente do ciclo econômico?
A globalização tem certa influência nisso. As empresas cujas ações compõem o índice Standard & Poor's 500 cada vez mais obtêm receita e lucros fora dos EUA. As companhias que fazem parte do FTSE são ainda mais internacionalizadas. Para as grandes empresas, ao menos, o país em que suas ações estão cotadas se torna cada vez menos relevante no que tange ao desempenho dos preços de seus papéis.
Mas o mais importante é que os mercados mesmos se internacionalizaram mais, à medida que a tecnologia facilita a negociação de diferentes classes de ativos, em continentes diferentes. Faz menos sentido falar sobre mercados acoplados do que falar sobre um mercado único, mais homogêneo. Os EUA ainda têm a maior economia do mundo e por isso representam a maior força nesse ambiente.
Por fim, o único fator que impulsiona a volatilidade do mercado está emergindo dos EUA. O colapso do "subprime", concedido a pessoas com históricos de crédito precários, é um problema norte-americano. Os mercados globalizados permitiram que empresas na Áustria, na França ou na Alemanha participem dos prejuízos.
Mas os maiores temores envolvem os grandes bancos e fundos de hedge dos EUA e a saúde do sistema financeiro do país. A onda de vendas de títulos "subprime" poderá se provar uma correção saudável, mas há a possibilidade de que resulte em crise sistêmica.
Isso, por sua vez, poderia ocorrer caso a liquidez se reduza nos mercados americanos ou uma grande instituição dos EUA venha a quebrar. Daí as imensas oscilações nos pregões vespertinos de Wall Street, à medida que os operadores, que de qualquer forma conhecem bem as instituições supostamente em risco, respondem aos mais recentes boatos.
É um estado de coisas triste para a economia dos EUA. A posição central que o país ocupava nos mercados mundiais devido à sua condição de propulsor do crescimento global agora passa a se dever à sua condição de epicentro para o risco planetário.
As últimas semanas também podem servir para conter o entusiasmo de Londres quanto ao crescimento da cidade como centro financeiro. Está em moda descrever Londres, sem ressalva, como "a capital financeira" do mundo.
A City de Londres gera mais transações que há uma década. Isso resultou em grande riqueza para a cidade e o Reino Unido. Mas podemos constatar, com base nas últimas semanas, que o papel de Londres nos mercados globais continua a ser essencialmente passivo. As decisões e transações que determinarão se a compressão de crédito das últimas semanas se converterá em crise generalizada serão tomadas em Manhattan, e não no distrito financeiro londrino. (JOHN AUTHERS)


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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