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Globalização reforça liderança americana
Com empresas cada vez mais internacionalizadas, perdas nos EUA, a maior economia mundial, refletem-se em outros países
Posição central que os EUA tinham nos mercados devido
à sua condição de propulsor global agora se deve ao fato de ser o epicentro para o risco
DO "FINANCIAL TIMES"
Por que a Europa segue a liderança de Wall Street de forma tão submissa quando as
economias de suas nações parecem ocupar estágio diferente
do ciclo econômico?
A globalização tem certa influência nisso. As empresas cujas ações compõem o índice
Standard & Poor's 500 cada vez
mais obtêm receita e lucros fora dos EUA. As companhias que
fazem parte do FTSE são ainda
mais internacionalizadas. Para
as grandes empresas, ao menos, o país em que suas ações
estão cotadas se torna cada vez
menos relevante no que tange
ao desempenho dos preços de
seus papéis.
Mas o mais importante é que
os mercados mesmos se internacionalizaram mais, à medida
que a tecnologia facilita a negociação de diferentes classes de
ativos, em continentes diferentes. Faz menos sentido falar sobre mercados acoplados do que
falar sobre um mercado único,
mais homogêneo. Os EUA ainda têm a maior economia do
mundo e por isso representam
a maior força nesse ambiente.
Por fim, o único fator que impulsiona a volatilidade do mercado está emergindo dos EUA.
O colapso do "subprime", concedido a pessoas com históricos de crédito precários, é um
problema norte-americano. Os
mercados globalizados permitiram que empresas na Áustria,
na França ou na Alemanha participem dos prejuízos.
Mas os maiores temores envolvem os grandes bancos e
fundos de hedge dos EUA e a
saúde do sistema financeiro do
país. A onda de vendas de títulos "subprime" poderá se provar uma correção saudável,
mas há a possibilidade de que
resulte em crise sistêmica.
Isso, por sua vez, poderia
ocorrer caso a liquidez se reduza nos mercados americanos
ou uma grande instituição dos
EUA venha a quebrar. Daí as
imensas oscilações nos pregões
vespertinos de Wall Street, à
medida que os operadores, que
de qualquer forma conhecem
bem as instituições supostamente em risco, respondem
aos mais recentes boatos.
É um estado de coisas triste
para a economia dos EUA. A
posição central que o país ocupava nos mercados mundiais
devido à sua condição de propulsor do crescimento global
agora passa a se dever à sua
condição de epicentro para o
risco planetário.
As últimas semanas também
podem servir para conter o entusiasmo de Londres quanto ao
crescimento da cidade como
centro financeiro. Está em moda descrever Londres, sem ressalva, como "a capital financeira" do mundo.
A City de Londres gera mais
transações que há uma década.
Isso resultou em grande riqueza para a cidade e o Reino Unido. Mas podemos constatar,
com base nas últimas semanas,
que o papel de Londres nos
mercados globais continua a
ser essencialmente passivo. As
decisões e transações que determinarão se a compressão de
crédito das últimas semanas se
converterá em crise generalizada serão tomadas em Manhattan, e não no distrito financeiro
londrino.
(JOHN AUTHERS)
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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