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YOSHIAKI NAKANO
Populismo cambial
O populismo cambial poderá sustentar a
expansão do PIB perto de 4,5% só por alguns anos
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A SIGNIFICATIVA aprovação do governo Luiz
Inácio Lula da Silva pela população se baseia nas políticas e ações que, na literatura
econômica latino-americana,
ficaram conhecidas como populismo.
Do lado econômico, temos a
política de expansão de gastos
públicos, como o Bolsa Família,
e o populismo cambial. Com
forte apreciação do câmbio, os
produtos importados ficam
mais baratos e, com isso, os salários reais aumentam e, conseqüentemente, o consumo, a
produção e o emprego.
Do lado político, o presidente
Lula busca falar diretamente
para a massa da população e
atende ou incorpora no governo interesses setoriais ou de
grupos para ter o apoio político
necessário. Com os canais formais da frágil democracia brasileira entupidos pela falta de
representatividade dos partidos políticos e com o Congresso
desmoralizado por sucessivos
escândalos, centraliza-se o poder cada vez mais nas mãos do
chefe do Executivo. Quais as
conseqüências futuras desse
quadro?
Do lado econômico, o crescimento baseado no populismo
fiscal e cambial tem limites. A
expansão dos gastos de consumo do governo só é possível
elevando a carga tributária, como vem acontecendo, ou aumentando a dívida pública. A
carga fiscal crescente vem sufocando a atividade produtiva e
esbarrará na crescente mobilização, particularmente do empresariado. A dívida já encontrou seu limite, pois o mercado financeiro tem armas instantâneas e poderosas que podem
punir fortemente o governo
com taxas de juros paralisantes
ou corte de crédito.
Dado o quadro internacional
muito favorável e o acúmulo de
reservas cambiais, o populismo
cambial poderá sustentar a expansão da economia nos atuais
níveis, próximo de 4,5%, durante alguns anos, mas esbarrará quando o superávit em transações correntes tornar-se negativo e consumirmos as reservas cambiais.
O populismo cambial foi um
presente do Banco Central para
Lula, intencional ou não, não
importa. Com a apreciação da
taxa de câmbio, deslocou-se o
pólo de expansão econômica
para o consumo doméstico. Como este cresce mais do que a
produção, temos crescentes
importações e estamos vendo
um verdadeiro boom de criação
de empresas importadoras. Até
o fim de seu mandato, é provável que o atual superávit de
transações correntes se converta em déficit, se nenhuma
medida for tomada. Com isso,
vamos consumir as reservas e
logo vamos ter de desvalorizar
o real para reverter o quadro.
Nesse momento, terminará o
ciclo populista, pois ampliar
exportações e reduzir as importações só será possível com
a redução do consumo doméstico. A sorte de Lula é que isso
certamente ocorrerá depois de
seu mandato.
Em relação ao populismo político, não tenho condições de
prever suas conseqüências.
Mas o que fica claro é que a democracia brasileira está ficando fragilizada. A instituição formal central de representação
democrática que é o Congresso
está totalmente desmoralizada.
Os partidos políticos não têm
projetos e propostas nem capacidade de mobilizar a população. As lideranças empresariais, diante de um horizonte nebuloso, estão sem bandeiras
e sem instrumentos de ação.
YOSHIAKI NAKANO , 62, diretor da Escola de
Economia de São Paulo da FGV, foi secretário da
Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).
economia fgvsp.br
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